domingo, 2 de abril de 2023

Ramon Diego

 Ramon Diego nasceu em Sousa-Pb e reside em Nossa Senhora da Glória -SE.  É professor e poeta. Doutorando em Literatura Comparada, pesquisador das questões que envolvem literatura, espaço e memória cultural, pela UFRN. Membro do grupo de pesquisa Ponte Literária Hispano-brasileira, dentro da linha Literatura comparada: estudos hispano-brasileiros. Mestre em estudos literários pelo programa de pós-graduação em letras da Universidade Federal de Sergipe (2018). Graduado em letras português-francês pela Universidade Federal de Sergipe (2015). Possui experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira sob a metodologia da Literatura Comparada, estabelecendo relações com outras áreas das humanidades, em especial com a filosofia e a história. Pesquisador na área de literatura e memória e literatura e espacialidades.



VIA LÁCTEA

Há um gato no avesso da noite.
Me incorporo ao bigode
de estrelas
que compõe
o seu rastro insone.

Seu suspiro
é um pesar inquieto
como a cauda
de um cometa
em chamas.

Há um gato no avesso da noite.
Seu miado revela a malícia
dos que, há muito,
não dormem, nem comem,
sob a pedagogia do corpo.

Nos seus olhos
dois sóis se equilibram
farejam e se impacientam,
aos prazeres da sombra
no húmus.

Há um gato no avesso da noite.
Espelhado na luz que o incendeia,
a tigela em que ele reflete,
constitui a sua via láctea.




*****

 


ASCENDÊNCIA

Nasci ascendente em aquário,
do lado em que a lua
é mais funda;
nasci ascendente
em desastre,
do verso que vibra 
nos dentes,
lavados em bicarbonato.
Das pás que cintilam
no asfalto,
no voo
d’árvore mutilada.



*****



Decorar

Se aprender uma coisa de cor
é mostrar ao nosso coração
o que vale a pena e a lida,
não se aprende de cor
por inteiro.

Só se aprende de cor
com o tempo,
que transforma
na lida, a palavra,
decorando
a nossa experiência.


*****



DOMINGO

O dia se despe
na cortina velha
que balança os móveis.

A tarde engatinha
pelo gelo inquieto
na dose de gim.

O homem chacoalha o copo
mistura as horas e,
como num passe de mágica,
bebe-as de um gole só.

Billie Holiday reclama seu espaço
ao fundo,
no canto esquerdo da sala,
engolida pela sombra
esparramada na varanda.
I honestly believe that you are bored
You’ve change”.


*****


EM DEFESA DO LÍRIO

Há um lírio no poema
exposto
em um vaso
de caos
e vaidade.

o estrume
é sua matéria-prima
mas renegam-lhe
a propriedade
de ser ele, profundo
e profano.

De sua boca ser cu
e saudade.

Há uma pátria
na terra em adubo
que impele o poeta
ao fracasso.

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