segunda-feira, 26 de junho de 2023

Adriano Cabral

 Adriano Cabral de Sousa nasceu em Santo André-SP e reside em João Pessoa-Pb. Cursou Letras na UFPB e integra o Coletivo de Teatro Alfenim desde 2009. Autor de "O mínimo possível" integra a antologia Engenho Arretado - poesia paraibana do século 21, organizada por Amador Ribeiro Neto e publicada pela Editora Patuá.






VIAGEM

Vi Van Gogh numa Van
Viajando na esperança vã
De vender seus quadros em Jacumã




*****



DOM QUIXOTE ESTAVA CERTO

A vida é o que lhe parece verdadeiro
Então pode uma bacia de barbeiro
Ser tomada como elmo de cavaleiro




*****




ABOMINÁVEL MUNDO NOVO

Reduzido 
A mero código de barras
fui novamente
Em suas grades
E II n | c ||| a |||| r || c ||| e | r ||||a || d ||| o |




*****




ALERTA AOS NAVEGANTES

Eu à deriva
Tu prometendo um porto
Eu ancorado em ti
Agora me vejo
A ver navios




domingo, 25 de junho de 2023

Antônio Maranganha

Antônio Maranganha nasceu em Acari-RN e reside em João Pessoa. Cursou Letras e Filosofia na UFPB e é mestre em Ciências das Religiões. É professor de língua portuguesa e possui contos publicados em antologias e poemas e ensaios no Correio das Artes, Contraponto e Carta Potiguar. Os poemas abaixo foram publicados no livro O monólogo caramujo, publicado pela Editora Caramujo.



                          EPIFANIA

                      todos morrem
         em versões inacabadas
                       de si próprios.

                      quanto a mim:
escolho ser a capa em branco
                de um livro



*****




PROFECIA

nos campos deste mundo
perderemos.

profecia
é o futuro
do presente.




*****




DENSIDADE

há mais de mim
por metro cúbico,
que não mins
fora de metro.




*****




SUICÍDIO

cada verso que nasce
é o silêncio dito.

cada poema que vive
é um indivíduo em branco.

cada poeta que morre
é um epitáfio incompleto.



*****


CHAKRA





quinta-feira, 22 de junho de 2023

Luiz Eduardo

Luiz Eduardo Andrade é formado em Jornalismo e em Mídias Digitais, se apaixonou pela poesia ainda no Ensino Médio. Nascido em João Pessoa, buscou inspiração nas origens de sua família: o Sítio Puxincói, na cidade de Serra Redonda, Agreste Paraibano. 

Em seus textos, aborda diversas temáticas, que vão desde assuntos políticos e pautas sociais, a sentimentalismos, romance e cotidiano. Os textos, em sua maioria, são construídos em sextilhas metrificadas, formato bem característico dos cordéis nordestinos.

Começou a divulgar poesias em seu perfil no Instagram no ano de 2017. Desde então, também passou a publicar os textos no Tik Tok. Atualmente, acumula mais de 10 mil seguidores nas duas redes sociais. Também produz textos personalizados para clientes específicos e realiza eventos.




Amor orgânico


escute além do meu cântico

sinta o meu toque tântrico

se afogue no meu atlântico

viaje no espaço quântico

nem divino, nem satânico

sou um humano mecânico


sinta esse calor vulcânico

sinta esse cheiro botânico

muitas vezes entro em pânico

pois eu não sei ser romântico

queria ser mais titânico

mas meu amor é orgânico ***** Nego

Nego toda influência

que insiste em aniquilar

minha dor e minha vivência

minha cidade e meu lugar


Nego todo publicado

que diz que minha região

é um bolo misturado

que somos uma só nação

e que é melhor ser separado


Nego toda opinião

que me restringe a um arado

diminui a um cercado

chei de seca no sertão


Nego todo seu juízo

suas palavras impropérias

você humilha meu estado

mas vem aqui passar as férias ***** Criação


Quando eu olho pra o céu

consigo me enxergar

pois sou cem por cento humano

mas sei que eu vim de lá

Deus soprou o seu Espírito

sobre mim, e eu acredito

que fui feito para amar


E como é que poderia

ser de um jeito diferente?

já que todos nós nascemos

do Amor em forma de gente

fomos feitos desse jeito

com virtudes e defeitos

não somos um acidente *****




Ilusão nordestina


o nordeste é uma ilusão

um holograma litorâneo

a seca e o solo rachado

são estados momentâneos

e por falar em estados

são bem diversificados

mesmo sendo conterrâneos


há quem diga que o nordeste

não passa de um vilarejo

todo mundo se conhece

vive em um só lugarejo

temos similaridades

mas muitas alteridades

somos mais que sertanejos


somos um só labirinto

chei de singularidades

são nove mundos distintos

com sua própria identidade *****



Amor de outro mundo


queria ser astronauta

num foguete decolar

marcar carreira pro céu

no espaço viajar

em meio a tanta beleza

tarvês assim eu esqueça

como é belo teu olhar


no meio da massa cósmica

desse universo profundo

cada minuto sem ti

dura um milhão de segundos

espero que eu enlouqueça

tarvês assim eu esqueça

esse amor de outro mundo

José Edmilson Rodrigues

José Edmilson Pereira Rodrigues nasceu em Capina Grande-Pb onde ainda vive. Poeta, ensaísta e memorialista. É advogado e mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB. Membro da Academia de Letras de Campina Grande - ALCG e sócio efetivo  do IHCG - Instituto Histórico de Campina Grande-Pb. Foi um dos editores da revista literária Ranhura, manteve coluna no jornal Diário da Borborema e escreve para o portal Paraíba On Line. Os poemas abaixo foram extraídos do livro "A solidão dos olhos e as vertigens do tempo". Também é autor do livro "A poética do ridículo". Seus poemas estão publicados na antologia Engenho Arretado - poesia paraibana do século 21, organizada por Amador Ribeiro Neto e publicada pela Editora Patuá.






LOUCO

Sem noção,
caminha lerdo,
tocado num passo
só dele.
Sorri quase
Sem sentir,
mas um sorriso
alheio
de quem se perdeu
na vida.




*****




PERCALÇOS


Há nuvens e nuvens.
Deslocamentos e encontros,
lembranças chegando,
saudades coladas

Ficou uma angústia,
O peito não fora preenchido.




*****




SILHUETA


Sua foto tem uma cor em tom pastel
Mas não é exatamente o retrato,
Nem é pintura,
Porém, é você que tem essa estação
E que repassa resquício de um tempo antigo
De um rosto ancestral
De uns olhos remotos
E de uma boca de sempre,
Atemporal.



*****



TARDES

Todas as tardes
olhando para o mar
e sobre a areia
as marcas
das tuas nádegas
reveladas
e a vontade do beijo
todas as tardes.



*****



CARTOGRAFIA

Em tempo sereno,
ondas imperfeitas
norteiam mapas
indescritíveis mar afora,
carta náufica da paixão.
Não foi imposta,
involuntária será.




Beth Olegário

Filha de mãe paraibana e com a ancestralidade dos povos Tabajara, Elizabeth Olegário nasceu em Natal. Mantém relação direta com a Paraíba há mais de dez anos, tendo residido por quatro anos em João Pessoa onde cursou o mestrado. Atualmente reside em Lisboa onde é doutoranda em Estudos Portugueses. Área de Especialização: História do Livro e Crítica Textual, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH). É bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal – FCT/PT (SFRH/BD/145768/2019). É investigadora integrado no CHAM (Centro de Humanidades), é membro do Grupo de Investigação em Leitura e Formas de Escrita do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa (CHAM NOVA FCSH). É membro da Ação COST 18126 – “  Escrever Lugares Urbanos – Novas Narrativas da Cidade Europeia” e membro do grupo: Ensino, Diferença e Produçºao de Subjetividade, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Rio Grande do Sul, Brasil

É mestra em Comunicação e Culturas Mediáticas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e licenciada em Língua e Literatura Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É escritora, poeta e crítica literária. Possui recensões críticas e ensaios publicados no jornal Le Monde Diplomatique – Edição Portuguesa (Portugal), jornal da Feira de Quelimane (Zambézia/Moçambique),  Revista O Galo, ( Fundação José Augusto/ Secretária de Cultura do Rio Grande do Norte). Entrevistas no jornal A União, da Paraíba (Paraíba/Brasil), Jornal Potiguar Notícias (Natal/Brasil), Jornal Saiba Mais (Natal/Brasil), suplemento literário Correio das Artes (Paraíba/Brasil), poemas  na revista  cultural portuguesa Gerador (Portugal) e na  revista InComunidade (Portugal) entre outros. Participou na Feira do Livro de Maputo (2022), 1ª e 2ª Feira do Livro de Quelimane – Zambézia/Moçambique (2021 e 2022).



 




 LESBOS 

  

Enquanto alguns 

aproveitam as férias 

no mar azul da Itália: 

Camogli , Baia del Silenzio, Monterosso 

Ilha de Elba, Chiaia di Luna, 

Costa Amalfitana e Spiaggia dei Frati. 

Mulheres e crianças em longa espera se desesperam 

ao ver os corpos de outras tantas crianças 

serem levados pelas correntes do Mar Adriático. 

 

Se isto fosse um poema 

os leitores se lembrariam que Safo 

também teve seu corpo levado 

por estas mesmas correntes, 

mas isto não é um poema  

e os corpos negros, migrantes e pobres 

jamais serão lembrados. 

 

Ser um refugiado é estar desapossado de si. 

É ser um corpo esperançoso equilibrando-se sobre a morte. 

Ser uma mulher refugiada em um campo de refugiados 

é estar em delito. 

É preferir dormir com fraldas 

A ter de ir, à noite, à casa de banho. 

 

De servem os valores humanitários? 

De que serve a poesia em Camp Moria? 

 

A poesia de nada serve. 

Nunca houve humanidade, 

foi por estar certa disto 

que há 2.600 anos Safo 

lançou-se do penhasco de Lêucade. 

Os fragmentos de seus poemas sobreviveram à ruína. 

Os imigrantes que vagam em botes 

no mar Egeu desaparecerão, 

pois não nos interessa as suas vidas, 

 nem as suas histórias. 

 

Cinco mil e quinhentas pessoas  

foram jogadas em Moria. 

No campo, concentração de corpos. 

sírios, iraquianos e paquistaneses. 

Desconcertados.  

Empilhados. 

Lesbos tornara-se a ilha do desespero. 

Coletes já não salvam. 

A poesia de nada serve. 

 

Recita Ro-La, uma jovem síria: 

"A vida é um inferno em Camp Moria". 

 

Enquanto corpos são levados pelas correntes do Mar Adriático 

Enquanto Ro-La recita o verso da morte. 

 

Enquanto Safo lança-se todos os dias do penhasco de Lêucade. 

Um turista de férias repete todas as manhãs: Che bello l'azzurro del mare italiano. 




*****

 

 

 


AUTOIMOLAÇÃO

 

Friccionando o palito 

de fósforo contra a caixa  

Na cidade de Herat[1] 

as mulheres durante horas,  

como quem ora 

passam as horas

olhando o lume.

 

Lá, onde fala é interdita 

o corpo grita. 

Os olhos reconstroem a trama. 

Fogo. Fagulha. Flama. 

 

“A língua é a espera de um possível” 

 

Seus olhos vazios 

vagueiam pelo fogão à lenha 

vacilantes tropeçam na chama,  

que voltei como vespas 

carcomendo a pele.  

Todo gesto é risco. 

 

As mulheres em Herat 

Deslizam palitos  

Leves e lépidos

que anseiam saltitar,  

Para fora da caixa,

porém elas 

com as mãos seguras 

os seguram e silentes,

escutam-se. 

 

Ainda que interdita a fala, 

no Oriente o corpo fala. 

os jogos de olhares, 

o fósforo, 

a chama,

atmosfera silenciosa  

que irrompe lógicas, 

desmantela estruturas 

por vez não assimiláveis 

em um mundo tomado por constantes ruídos. 

 

Na cidade de Herat 

A fome é certa e o futuro é sombra. 

Ir à escola é não saber se voltará viva  

 

A gasolina, 

O fósforo em chama, 

A carne humana assada: 

Imagem desesperada do mundo. 

Destruindo o lirismo da linguagem.  

O fogo procura forma. 

O poema é a carne das coisas.

Vórtice. 

 

Entre a dor e o desespero,

com o corpo em chama,

resistem.

Se escrevessem versos.

Eles seriam lâminas.

 

-  A revolta é um pirilampo que nos acende por dentro.





*****

  

 

 A DESCOBERTA

 

Chegaram com suas naus e mastros.

Invadiram territórios,

mataram povos e

estupraram mulheres.

 

Disseram que nossos povos

eram infantis e incivilizados.

Com os Napë[2] descobrimos

que o mito é a civilização.




*****

 

 

Touro

(Para Júlio Pomar in Memorian)

Na sala, o touro[3]

bailava comigo

na noite de inverno.

 

Lá fora,

toras de madeiras,

decomposição de corpos e

cores mortas.

Folhas suicidas.

Caducas.

Lições do tempo.

Tintas lusitanas.

Malhoa[4] impressionado com  Gustav Klimt

 

Tinto o vinho

Turva a  imagem~

 

Na arena, o touro

Balé andaluz – a incerteza da volta

Manolete no chão.

 

O limite  da dança: o passo.

O limite da  vida: a morte.

 

No copo a borra.

Na  sala o touro.

Na boca o travo.

 

Vinho tinto

Turva a imagem.

 

Encharcada de vinho,

Toureando a solidão

A menina  e o touro

Bailavam na sala

nas noites de outono.




*****

 

 

Pão de Queijo

 

Nunca andamos de mão dadas,

nas noites de lua, nas margens do Tejo.

 

No entanto construímos esferas,

e nos oferecemos com a mesma ternura dos apaixonadas

que caminham pela Ribeira.

 

O amor percorre rotas invisíveis

 

Nunca andamos de mão dadas,

nas noites de lua, nas margens do Tejo.

 

Porém dentro da tigela,

enquanto sovamos a massa

nossos dedos tocam-se,

constroem luas,

silentes, falam de amor.

 

 

 


Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Adriano Cabral

 Adriano Cabral de Sousa nasceu em Santo André-SP e reside em João Pessoa-Pb. Cursou Letras na UFPB e integra o Coletivo de Teatro Alfenim d...