Rosilene Leonardo da Silva, nascida em Princesa Isabel PB, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Professora, poetisa e escritora, membro da Academia Princesense de Letras e Artes, membro correspondente da Academia de Letras do Sertão de Pernambuco, coordenadora do Grêmio Literário “Joaquim Inojosa”.
Caverna
Fumaça, poeira, pólvora e lama
Nessa caverna que as vezes me escondo,
Sou mais um morcego estranho sem gana
Achado nos restos desse escombro.
Sozinho a voar, com asas de veludo
Na inconstância lida e rasgada do verbo,
Meu riso em gotas molhado e de luto
Empoeirando a luz que aborta meu ego.
E nessa umidade que a pele esfria
Esfriam as palavras, paredes, lamento,
Enquanto a minha alma chorosa de dia
Pousa na caverna de meus pensamentos.
A
poesia compensa
A fome insaciável,
O tempo que não se tem,
O sentimento ingrato,
A solidão.
Compensa o pão,
A fatia estragada,
O violão choroso,
O silêncio doído,
A espera,
O encontro,
A volta. O grito.
Compensa o mar,
A enchente,
O sol,
Os pardais perdidos,
O suspiro,
O abrigo,
A marca,
A tatuagem.
A poesia compensa a poesia,
Compensa o café quente,
Morno.
E o que não foi feito
E o leite derramado
Que queima de repente.
Ela compensa
O começo – meio – o fim.
A poesia compensa
o verbo e a interjeição!
Compensa o silêncio e o que foi falado.
Compensa o que resta,
O que ficou guardado.
Compensa as esferas,
As atmosferas,
No incólume verso
Compensando a fé.
A poesia compensa
Vida derradeira
Assim sorrateira
Se mostrando quem é.
Castidade
E quem negará que o amor não é carne?
À mesma medida sujeita o desejo à alma?
Verás este que nega, quando despido for
Quando o calor de querer, roubar-lhe a calma.
Eis que a fé treme, corpo, fogo e vela
Na quentura da pele que ama em desejo
Enquanto mais peca mais sente, mais arde
Se demorando nos lábios, bebendo no beijo.
E o amor mesmo impuro, coberto por alfaia
Derrama igual vinho pelas bordas da taça
E o bálsamo da carne misturado ao frescor
Usa manto de desejo, por debaixo e desfaça
Não há quem negue a carne que inflama
Duradoura em sabor mesmo na efemeridade
A nudez de uma alma que se confessa em sentir
Não desampara o pecado, nem merece castidade.
Legado
No leito que durmo, eis o meu pecado
Fingindo ser santa, fingindo ser puta
Que beco escondo a bandeira, a luta?
Fumam o que sou, cuspo meu legado.
São sombras dementes, ausentes e frias
Que expulsaram a vela, fogo pequenino
Quiseram mulher, chorona - menino
Moldando leis em contos de fantasia.
No chão que piso, rachado em meu peito
Remendo o vestido, com flor de algodão
Bordo o céu com linhas, de minha libertação
E tão má, pecadora volto ao meu leito.
Receita
O grito abafado
Foi o gemido engolido
Que poderia ser palavra
Mas não passou de uma mancha
Que o cigarro não fez.
A mão que doía
Parecia ser carinho
Que poderia ser amor
Mas não passou de uma dor
Remendada pelo tempo.
Correntes ou laços
Costumam prender
Não só os cabelos
Mas o sorriso, e a dimensão.
Há um espaço, uma grota,
Uma brecha, uma porta, um escape
Um espinho, uma gota, uma moda
De qualquer coisa que sobra
E a gente põe na panela
Fazendo nova receita
Mastigando bem triturado
O grito antes abafado
A palavra que dança
Na bandeira.
E a mancha, a dor e o laço
Derreteram no fogo
Eis o bronze no peito
Mulher assiste do pódio
Nascer sua nova versão.
Patrimônio cultural de nossa querida Princesa Isabel . A Professora e poetisa Rosilene Silva , é razão de orgulho de toda a boa , brava e digna gente , de nossa histórica e amada Princesa Isabel . Parabéns Rose , hoje e sempre , pelos seus poemas.
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