sábado, 11 de março de 2023

Chico Lino Filho

 Chico Lino Filho nasceu em Coremas(Pb) e reside em João Pessoa. Publicou “poemas de amor e silêncio”, “Abajur de Lua”, “Paixão movediça” e “Inverno Invisível”. Possui parcerias na área musical com diversos artistas. Participou de antologia organizada pela Biblioteca Nacional.

 


 

 

coremas

 

minha saudade

despenca

ladeira abaixo até

a praça de coremas.

o coreto, a grama,

e o coração dando

voltas na infância.

 

 

Poema

 

os rios guardados

em mim

descem descem já

secaram

 

tal e qual minha infância

em coremas

lá no açude guardada.

 

se de lá nunca saiu

é porque teve mãe dágua.

os rios guardados

em mim

pouco matam minha

sede

 

os patinetes, a praça,

os beijos doces

de Neide

 

o mar me é muito

imenso

para caber a infância

os meus rios, ao contrário, caberiam

em suas ondas.

 

já coremas cabe

em tudo

na infância que ficou

 

até na rima perdida

se eu fosse rimar

amor.

 

 

 

 

o que é a paixão?

 

a paixão é tiro

no ouvido

suicídio ou morte

natural?

 

afinal, do que é feita

a paixão? de coisa feita?

do amor que nem fez

ainda?

 

a paixão é feita

das retinas dos

olhos?

 

ou os olhos são

a paixão que germina?

e o coração aonde entra

nas retinas?

 

a paixão é o coração

em bom estado?

afinal, do que é feita

a paixão?

 

das mulheres que se amam

em partículas

ou de partículas do coração?

 

 

 

 

 

somente um fado

 

 

enfadado,
o poema me pede
um fado.

sequer um fado
eu sei de
cor.

peço gentilmente
ao poema
que me deixe só.

 

 

 

Abajur de luz

 

No alpendre
da casa-grande
o abajur era
a lua.

 

nas enormes janelas
a lua caía que nem
luvas, minhas tias
as vestiam

 

(os noivos tinham
promessas de chegar).

 

talvez viessem
com a lua

e desmontassem dela
com buquês de luar.

 

a lua era clara
entre os noivos
(e a janela também)

 

os abraços que
fossem para o escuro.

 

 

Poema ao bigode de meu avô

meu avô com bigode de alfenim
era dono de engenho,
que pena tenho do seu bigode
hoje amargo. 

seu bigode doce doce
diziam as negras do engenho,
meu avô se ria
com cara de tacho. 

meu avô perdeu seu bigode
de alfenim e as negras se foram
na lembrança do bigode doce doce,
perdido na velhice
deixou de ser alfenim.

as negras não queriam o fim,
queriam o bigode de alfenim
mesmo assim, meu avô preferiu o riso amargo,

meu avô não soletra
o mundo moderno nem as mulheres gostosas
que seus olhos espiam.
hoje, bigode raro, se suja no mel
do seu catarro.

 

 

Meus córregos

 

dos córregos recolhi
meus pés.

eles na infância eram
meus sapatos fiéis.

 

hoje, não os calço.

 

trago-os na memória
para curar meus
calos.

 

corri nos córregos, não
corri dos córregos.

 

o tempo me fez andar mais
rápido.

 

os córregos são imagens
que me atravessam
como riachos.

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