Chico Lino Filho nasceu em Coremas(Pb) e reside em João Pessoa. Publicou “poemas de amor e silêncio”, “Abajur de Lua”, “Paixão movediça” e “Inverno Invisível”. Possui parcerias na área musical com diversos artistas. Participou de antologia organizada pela Biblioteca Nacional.
coremas
minha
saudade
despenca
ladeira
abaixo até
a praça de
coremas.
o coreto, a
grama,
e o coração
dando
voltas na
infância.
Poema
os rios guardados
em mim
descem descem já
secaram
tal e qual minha infância
em coremas
lá no açude guardada.
se de lá nunca saiu
é porque teve mãe dágua.
os rios guardados
em mim
pouco matam minha
sede
os patinetes, a praça,
os beijos doces
de Neide
o mar me é muito
imenso
para caber a infância
os meus rios, ao contrário,
caberiam
em suas ondas.
já coremas cabe
em tudo
na infância que ficou
até na rima perdida
se eu fosse rimar
amor.
o que é a paixão?
a paixão é tiro
no ouvido
suicídio ou morte
natural?
afinal, do que é feita
a paixão? de coisa feita?
do amor que nem fez
ainda?
a paixão é feita
das retinas dos
olhos?
ou os olhos são
a paixão que germina?
e o coração aonde entra
nas retinas?
a paixão é o coração
em bom estado?
afinal, do que é feita
a paixão?
das mulheres que se amam
em partículas
ou de partículas do coração?
somente um fado
enfadado,
o poema me pede
um fado.
sequer um fado
eu sei de
cor.
peço gentilmente
ao poema
que me deixe só.
Abajur de luz
No alpendre
da casa-grande
o abajur era
a lua.
nas enormes
janelas
a lua caía que nem
luvas, minhas tias
as vestiam
(os noivos
tinham
promessas de chegar).
talvez viessem
com a lua
e desmontassem
dela
com buquês de luar.
a lua era clara
entre os noivos
(e a janela também)
os abraços que
fossem para o escuro.
Poema ao bigode de meu avô
meu avô com bigode de alfenim
era dono de engenho,
que pena tenho do seu bigode
hoje amargo.
seu bigode doce doce
diziam as negras do engenho,
meu avô se ria
com cara de tacho.
meu avô perdeu seu
bigode
de alfenim e as negras se foram
na lembrança do bigode doce doce,
perdido na velhice
deixou de ser alfenim.
as negras não queriam
o fim,
queriam o bigode de alfenim
mesmo assim, meu avô preferiu o riso amargo,
meu avô não soletra
o mundo moderno nem as mulheres gostosas
que seus olhos espiam.
hoje, bigode raro, se suja no mel
do seu catarro.
Meus córregos
dos
córregos recolhi
meus pés.
eles
na infância eram
meus sapatos fiéis.
hoje,
não os calço.
trago-os
na memória
para curar meus
calos.
corri
nos córregos, não
corri dos córregos.
o
tempo me fez andar mais
rápido.
os
córregos são imagens
que me atravessam
como riachos.
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