terça-feira, 28 de março de 2023

Raymundo Asfora

 

Raymundo Asfora (1930-1987), nasceu em Fortaleza-CE e foi morar  em Campina Grande-Pb ainda menino. Foi poeta, tribuno e Professor de Direito Penal na Faculdade de Direito da Fundação Regional do Nordeste (atual Universidade Estadual da Paraíba).





CHAPÉU PRETO

Era preto, tão preto como preto
Foi seu destino de findar ao léu...
E, sendo preto assim o meu chapéu,
Faço-lhe preto todo este soneto.

Preto um quarteto como outro quarteto,
E como o preto deste preto véu
De mistério que oculta o meu chapéu
Preto farei, também, o seu terceto.

Preto e mais preto do que o próprio preto!
Preto e tão preto quanto este soneto
Ou como o preto de um brumoso céu...

Com o meu preto chapéu me comprometo,
A nunca mais usar um chapéu preto,
Preto, tão preto como o meu chapéu.




*****



ÚLTIMO ADEUS


Tenho bem viva, na lembrança, aquela
tarde estival do derradeiro adeus,
o sol poente, com frágil vela,
cedia à noite as amplidões dos céus.

Pálida e triste, mas de face bela,
tendo o crepúsculo nos olhares seus,
por entre as brumas da distância, ela,
partiu saudosa entre um saudoso adeus.

E, a relembrá-la, estou no meu caminho,
arquitetando, em sonho, o nosso ninho
na frondosa palmeira da ilusão.

Mas ela, ingrata, não voltou mais nunca...
E o pesadelo que o meu sonho trunca,
É atroz ironia da desilusão.



*****





TROPEIROS DA BORBOREMA



Estala relho marvado
Recordar hoje é meu tema
Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema

São tropas de burros que vêm do sertão
Trazendo seus fardos de pele e algodão
O passo moroso só a fome galopa
Pois tudo atropela os passos da tropa
O duro chicote cortando seus lombos
Os cascos feridos nas pedras aos tompos
A sede e a poeira o sol que desaba
Rolando caminho que nunca se acaba

Estala relho marvado
Recordar hoje é meu tema
Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema

Assim caminhavam as tropas cansadas
E os bravos tropeiros buscando pousada
Nos ranchos e aguadas dos tempos de outrora
Saindo mais cedo que a barra da aurora
Riqueza da terra que tanto se expande
E se hoje se chama de Campina Grande
Foi grande por eles que foram os primeiros
Ó tropas de burros, ó velhos tropeiros.

Forró em Campina

Composição: Jackson do Pandeiro

Cantando meu forró vem à lembrança
O meu tempo de criança que me faz chorar.

Ó linda flor, linda morena
Campina Grande, minha Borborema.

Me lembro de Maria Pororoca
De Josefa Triburtino, e de Carminha Vilar.

Bodocongó, Alto Branco e Zé Pinheiro
Aprendi tocar pandeiro nos forrós de lá.

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