Nísia Nóbrega nasceu em Mamanguape-Pb em
1928 e faleceu em 2000. Escreveu diversos livros de poemas, entre eles “Nox
braços leves do vento”, “Rosa distante”, “Completamente amor”, “Ramo da saudade”,
“Isla-sin-raices”, “Na flor da correnteza”, entre outros. Rabalhou na rádio MEC
com um programa de entrevistas, foi poeta e professora.
POEMA DE AREIA E
VENTO
Por onde, Mamanguape?
O medo ia e vinha
com cheiro de caldo de
cana,
no vento encanado
das ruas de Areia.
Areia é só ventania:
vento trazendo lembrança
de gente buscando ouro,
de gente tangendo bois.
Areia de hoje rima vento
e convento,
faz-se caminho do
amanhã,
cresce no estudo,
religiosamente renascente.
Areia de ontem,
por onde?
NO
CLAUSTRO DE AREIA
No amanhecer,
descobri o jardim,
dentro do claustro,
fechado ao vento
e aberto ao sol.
Suas flores cheiravam a
incenso.
Pareciam-se com as
velhas freirinhas alemãs
que o cuidavam,
quase cegas, quase
surdas,
mas erguidas e brancas,
lírios vigilantes,
de pureza intacta.
POEMA
DA MANGA-ROSA
Mamangua-penso, e ao risco escapo.
Volto no tempo...
Macia pele de
manga-rosa,
mão descascava.
Sumo escorrendo,
da boca ansiosa,
manchava a manga
da blusa nova,
tão cor-se-rosa,
tão manga-rosa,
tão perfumada...
Manchada? Não.
Aquela blusa ficou foi
doce,
e mais macia,
sem engomados,
só manga e róseo
tempo escorrendo,
despetanlado.
ONDE
FOI RIO
Onde foi rio, era chão,
duro, lavado, sem brio.
Nenhuma flora para
espera,
rachando ao sol,
chão de estio.
Onde foi rio, corri,
lágrima e sal de
esperança.
Espera e anseio perdi
de me rever em criança.
E já não cri, já não
cri.
Por onde os grilos da
infância?
Quem de buscar não se
cansa?
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