terça-feira, 21 de março de 2023

Sérgio de Castro Pinto

 Sérgio de Castro Pinto nasceu em João Pessoa(PB), onde ainda vive. É poeta, advogado, jornalista e professor da UFPB. No mestrado e doutorado, estudou Manuel Bandeira e Mário Quintana, respectivamente. Publicou O Cerco da Memória, Gestos Lúcidos, Zoo Imaginário, Ilha na Ostra, entre outros.

 

 


 

atos falhos


sequer os ensaio.

mas meus atos
falhos
encenam-se assim:

eles já no palco
e eu ainda
        no camarim.




*****




seu Isidoro


seu Isidoro era eletricista
e a sua barba hirsuta
                                   hirta

era um rolo de fios
                    desencapados

soltando faíscas
seu Isidoro era uma pilha
um surto um curto
um longo circuito

atritando-se com a vida




*****

 

 

as cigarras

 

 

são guitarras trágicas.

plugam-se/se/se/se
nas árvores
em dós sustenidos.

kipling recitam a plenos pulmões.

gargarejam
vidros
moídos.

o cristal dos verões.

 

 

***** 

 

 

lapidar

 

em cada verso
que escrevo,
eu me parto.

a folha é lousa.

poemas, epitáfios.

 

 

***** 

 


 

recado a pound

  

pound, eu não sou
nenhuma antena.

eu sou a pane
e a interferência
dos meus fantasmas

no tubo de imagens dos poemas.

 

 

***** 

 

 

antagonismo: máquina

de fotografia/revólver

 

 a máquina
é o revólver ao inverso:
os objetos-bala não saem,
eles entram, se internam.

da máquina
(se acionado o gatilho),
os objetos-bala a engravidam
de um festival colorido.

do revólver
(se acionado o gatilho),
apenas existe uma cor:
a mesma cor de um grito.

 

***** 

 

 

o homem conduzindo a
máquina de fotografia

 

 na máquina
a paisagem é intestina
(o fora está dentro),
não pode mostrar-se ainda.

a máquina
guarda o que havia fora
e o homem a conduzindo
conduz duas memórias:

uma a da máquina (mais dentro)
e a outra a do homem (mais fora).

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