terça-feira, 28 de março de 2023

Cris Estevão

 Cris Estevão nasceu em João Pessoa onde ainda vive. Formada em Letras pela UFPB, e arte-educadora, professora e poeta. Particupou de algumas antologias, a exemplo de 100 poemas 100 poetas, Nós da Poeais e da Imersõ Latino-Americana. É autora de Morrerá em cada esquina do teu corpo uma pessoa só.




RESPIRAR


No ar
Raro feito
O mundo a parar
Eu giro
Ao Som da cor no peito
UM cinza crespo e profundo
Taquicardíaco
A língua cobre mais um remédio
As pernas dançam incoerentes
Enquanto os medos pulsam
delirantes
aqui dentro




*****



LIDO


A cada gota
sumo, ponta
Pressiono, não sinto
É instinto
Mas se é para ser extinto,
Rasga tudo por dentro
De longe, pressinto
que não há meio para sustentar
se só ficou suspense no ar




*****



TRANSLÚCIDA



Ela, transparente, incolor
Chuta a lata. Furta a cor
Vem sem rédea, a vapor
Põe as cartas, meio a meio

Sem comprar pão, nem dizer a que veio,
se falseio, anseio, passeio,
amola a faca com meu desejo.

Num ensejo
assumo, vejo:
Vem pra desconcertar o meu dia.



*****



FLEXÃO DE GÊNERO



O jeito que ela ria
Coloria as páginas
amarelas
de um tempo que ainda nem tinha passado
pra ela
meu riso
mordiscador de canto de boca
coloria sem ar
sem tempo pra ensaiar
pronome singular

Eu rio
Tu agoa
Nós, sequer havia
vós, já não se ouvia
Eles, navegar.




*****



OUTRA HISTÓRIA COMUM


A primeira vez que esqueci as chaves você ralhou comigo.
Na segunda sorriu como quem diz: "não tem jeito".
Da terceira vez, eu não levei as chaves.
Você respirou fundo.
Na quarta não pude subir.
Você jogou tudo pela janela.

Não houve outra vez.

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