Hildeberto Barbosa Filho nasceu em Aroeiras-Pb e reside em João Pessoa-Pb. É poeta, ensaísta, professor da UFPB, doutor em Literatura e crítico literário.
Membro da Academia Paraibana de Letras - APL, autor de diversos livros,
entre eles, Nem morrer é remédio (poesia reunida).
POÉTICA II
O poema
também se faz
daquele verso
ausente,
aquele que seria
o ouro da poesia.
Aquele que vem subitamente
e nos habita à luz
*****
NEGATIVO
Não me vejo
nem no espelho
nem na fotografia.
E quando me vejo,
vejo-me incompleto.
Aquele que lá está
sou eu e não sou eu
precário reflexo.
*****
LEGADO
À noite se segue o dia
como as águas abrigam
calor e silêncio.
Resta ao homem
a pluma da linguagem,
ásperos navios de fogo
que iluminam os vazios.
*****
METÁFORA
Num antigo verso
falava das “pupilas da manhã”.
Hoje inverto a metáfora:
nas tuas pupilas, Pâmela, nadam
todas as manhãs.
*****
VERÃO
É verão
e tento proteger o sol
dentro de mim.
O que me aquece,
nessa tristeza de verão,
é o frio de aço
das duras calçadas
da alma.
É verão
e as pessoas nem estão
mais alegres.
(Tudo é claro, quente, triste!)
O sol explode
dentro de mim
enquanto me despeço
*****
Princesa
(para Aldo Lopes e Otávio Sitônio Pinto)
São solitárias
as nuvens
sobre a serra de Princesa,
cidade distante e sem fronteiras
como o mapa de meu coração.
A voragem dos ventos invade
a calmaria das praças, das almas,
e o silêncio da noite é golpeado
por antigas adagas invisíveis.
Como dói o deserto do meu coração!
Como dói o anônimo triunfo
de viver esse mundo longínquo
só por um instante no meu desespero.
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