Bianca Rufino nasceu em Campina Grande, é poeta, declamadora, compositora, cantora, performista e brincante. Produz audiovisual e publicou os livros Zíngara e De quando o rio lavou as histórias. Anda pelo mundo “prestando atenção em tudo”, no seu Fusca chamado Chica Barrosa.
receita
quando o canto do pássaro te atravess
ar
se faça de madeira (oca)
deixe ele maturar
no seu íntimo barril
como cachaça
canto bom
é canto curtido
ovulando
ando sentindo tremores no corpo
abalos sísmicos
de madrugada
se escutar a terra partir: não se abale!
é o meu magma estremecendo as placas
tectônicas
regresso
a gente nasce
sendo semente,
gera e cria
até vir pesticida
digo, sociedade
afogando
a alma.
pra voltar a ser semente,
dessas de barriga grande
que engravidam
e alastram criação
pela beira de estrada
e rompem asfalto,
é preciso volver
água
chão
vento
ardência
até
virar semente
de
novo,
até
virar semente,
ovo.
tape
os ouvidos
imagine
se o navegador
deixasse
de andar entre mares
porque alguém disse
do risco
ou a agricultora
deixasse
de cuidar de sua plantação
porque alguém disse
de uma praga na colheita
imagine
quanto se deixa
de crescer
porque alguém disse.
mentira
não escuto na rádio
os cantos potiguaras
tabajaras
as maracas
os tambores.
o termo popular é tão mentiroso
quanto o presidente.
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