Maria Valéria Rezende nasceu em Santos-SP e reside em João Pessoa. Recebeu diversas premiações importantes, como os prêmios Jabuti e Casa de Las Américas. Tem uma vasta bibliografia e entre seus livros publicados destacamos O voo da guara vermelha, Outros Cantos, Carta à rainha louca, Vasto Mundo, Modo de apanhar pássaros à mão, Quarenta dias, entre outros.
Nasce
toda verde,
vermelha renasce a folha,
logo será ouro.
* * * * *
Preso em saco plástico
último frêmito de asas —
morre a borboleta.
* * * * *
De ponta-cabeça
céu vira mar, mar é céu —
e o céu tem marola
* * * * *
A casa vazia
sem cheiro nem som, revive;
chegou a criança!
* * * * *
Ouço um chilrear —
há uma criança e há pássaros —
de quem esse canto?
* * * * *
Meu avô quebrava pedras
a golpes de picareta
de sol a sol
eu lhe trazia a quartinha de água
fresca
e lhe tocava as costas
as costas de meu avô eram pedra
a pele de meu avô
de sol a sol
tinha cor de sola e terra
o braço de meu avô
alongado em pau e ferro
rompia a pedra
meu avô bebia da quartinha
a água doce e fresca
e deixava-me na testa
um beijo de areia e sal
meu avô brandia a picareta
e cantava
com ecos de caverna
com timbres de estalactites
foi-se meu avô de pedra e sola
vento terra areia mar e sal
meu avô de pau e ferro
cumpriu-se de volta ao chão
ficamos nós
eu, os tijolos, cimento,
e a ventania no andaime
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