segunda-feira, 13 de março de 2023

Maria Valéria Rezende

 Maria Valéria Rezende nasceu em Santos-SP e reside em João Pessoa. Recebeu diversas premiações importantes, como os prêmios Jabuti e Casa de Las Américas. Tem uma vasta bibliografia e entre seus livros publicados destacamos O voo da guara vermelha, Outros Cantos, Carta à rainha louca, Vasto Mundo, Modo de apanhar pássaros à mão, Quarenta dias, entre outros.



 

 

 

Nasce toda verde,
vermelha renasce a folha,
logo será ouro.

* * * * *

Preso em saco plástico
último frêmito de asas —
morre a borboleta.

* * * * *

De ponta-cabeça
céu vira mar, mar é céu —
e o céu tem marola

* * * * *

A casa vazia
sem cheiro nem som, revive;
chegou a criança!

* * * * *

Ouço um chilrear —
há uma criança e há pássaros —
de quem esse canto?

* * * * *

 

Meu avô quebrava pedras

a golpes de picareta

de sol a sol

eu lhe trazia a quartinha de água fresca

e lhe tocava as costas

as costas de meu avô eram pedra

 

a pele de meu avô

de sol a sol

tinha cor de sola e terra

o braço de meu avô

alongado em pau e ferro 

rompia a pedra

 

meu avô bebia da quartinha

a água doce e fresca

e deixava-me na testa 

um beijo de areia e sal

 

meu avô brandia a picareta

e cantava 

com ecos de caverna

com timbres de estalactites

 

foi-se meu avô de pedra e sola

vento terra areia mar e sal

meu avô de pau e ferro 

cumpriu-se de volta ao chão

ficamos nós

eu, os tijolos, cimento,

e a ventania no andaime

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...