quinta-feira, 9 de março de 2023

Pinto do Monteiro

 Severino Lourenço da Silva Pinto – Pinto do Monteiro (1895/1990), nasceu em Monteiro(Pb). Foi  poeta, compositor e improvisador. Foi vaqueiro, policial, auxiliar de enfermeiro e vendeu cuscuz em Recife. Foi alfabetizado já em idade adulta iniciando sua vida profissional com a viola aos 25 anos. Morou em Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR). Também morou nas cidades pernambucanas de Sertânea e Caruaru. Era conhecido como o Cascavel do Repente. Definiu o poeta como aquele que “tira de onde não tem e põe onde não cabe”.

 


 

Alguns fragmentos da obra de Pinto do Ponteiro.

Recebi mais de um poema
Fazendo interrogação
Porque eu da profissão
Mudei de rumo e sistema
Resolverei um problema
De não poder tolerar
Muita gente a perguntar
Ansiosa para saber
Em verso vou responder por que deixei de cantar

Deixei porque a idade
Já está muito avançada
A lembrança está cansada
O som menos da metade
Perdi a facilidade
Que em moço possuía
Acabou-se a energia
Da máquina de fazer verso
Hoje eu vivo submerso
Num mar de melancolia…

 

 

*****

 

 

Eu comparo esta vida
à curva da letra S:
tem uma ponta que sobe
tem outra ponta que desce
e a volta que dá no meio
nem todo mundo conhece

Esta palavra saudade
conheço desde criança
saudade de amor ausente
não é saudade (é lembrança)
saudade só é saudade
quando morre a esperança

Aonde eu chego, não vi
Mal que não desapareça
Raposa que não se esconda
Bravo que não me obedeça
Letrado que não me escute
Cantor que não endoideça

Cantar com quem canta pouco
é viajar numa pista
com um carro faltando freios
o chofer faltando a vista
e um doido gritando dentro
atola o pé motorista

Minha corda não se estica
não se tora nem se enverga
da terra pro firmamento
meu pensamento se alberga
em um lugar tão distante
que lente nenhuma enxerga

Eu vou fazer uma casa
na Serra da Carnaíba
a frente pra Pernambuco
as costas pra Paraíba
só pra não ver duas coisas:
Nem Sumé, nem João Furiba

Há vários dias que ando,
Com o satanás na corcunda:
Pois, hoje, almocei na casa
Duma negra tão imunda,
Que a prensa de espremer queijo
Era as bochechas da bunda!

 

 

 

*****



Eu admiro o tatu
com desenho no espinhaço
que a natureza fez
sem ter régua nem compasso
eu tenho compasso e régua
pelejo, porém, não faço

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