Iviny (1998) é natural de Campina Grande-Pb, onde reside. É idealizadora e produtora de conteúdo do Instagram literário @pluralizar.te, espaço em que publica suas urgências poéticas. Autora do livro “Orgasmos da Alma", participou em 2021 da Coleção Desaguamentos (vol. I) e em 2022 do livro Prosas de Oficina (vol. II), volumes publicados pela Editora Escaleras. Graduada em Letras - Língua Portuguesa (UFCG) e especializando em Escrita Criativa, Multiplataformas e Roteiro (NOVOESTE), atua no ensino básico como professora de redação e Literatura.
TESOURA
Eu beijo a boca da inspiração,
A sua língua me invade por inteira,
Corta meus canais e surge, a certeira
Serpente da intrínseca movimentação.
Performatizo tua falsa ficção,
Mas logo encaixo o pensamento: víbora que delira
Na folha em branco, nos lençóis... Mira
Nos papéis, ora nos cortamos ao meio, ora somos
junção.
No ato, as úmidas se misturam,
Traçamos a lápis o movimento,
Surge o verso, a mistura dos gozos em rebento.
E assim, nos desfragmentamos, Outros virão,
Mas ali no separar das babas, evento
Dos âmagos ávidos, nasce nojento o poema sedento.
*****
BUSCAR NÃO É VERBO II
Hoje eu
acordei sobressaltada.
Nos
meus sonhos era o teu aniversário.
Lembrei
do teu olhar quando chegava o fim da viagem,
Peito
recluso. Queria que eu ficasse,
Silenciosamente.
O gosto
da comida mudava,
O
cheiro do ambiente era clamor,
A
madrugada antes da partida: impossível!
Confere:
chaves, carteira, protetor solar que estava no banheiro.
Ai,
ai...
Escondi
um monte de sorrisos entre as tuas roupas.
Na
parede de recados deixei um beijo borrado de batom.
Parti.
Parti
como uma música de brega.
*****
AOS QUE SÃO
DA NOITE…
Quando se fala nas palavras
Aí sim, eu tomo rumo!
Porque elas passeiam nas linhas e entrelinhas
Mas precisam ter e ser voz,
Simultaneamente
gritar silêncios
de escuridão ou aquarela.
E ainda assim não se perdem,
vagam por aí explicando
o que os homens não conseguem.
Comunicando semelhanças,
invadindo ambientes, articulando culturas,
Ajudando os poetas a construírem versos
que os tornam prisioneiros
amantes da vida,
companheiros das formas de amar.
Eu quero das palavras a essência
Para que nelas eu seja uma puta poeta
E dedique meus versos aos que são da noite.
*****
DESATENTO
Às 7,
Procuro em
alguma maleta
Um sorriso que caiba neste dia.
Visto-o,
Saio sorrindo de cara e
Morrendo de vida.
*****
EGOCÊNTRICO
É O ESTÔMAGO
Eu, burro, inerte ao meio dia.
Descarregando a areia reclamava de dor nas costas
E eu, digo o quê?
Chega a mulher com as mãos idênticas aos meu cascos,
perguntando o que dar de comer aos meninos.
E eu, como o quê?
*****
MÉNAGE VIOLENTO
Fiz ménage com o ódio e o nojo
( :do presidente,
dos antirracistas [só] de rede social,
da fila do desemprego,
da positividade utópica)
Fiz à trois porque só a desesperança não basta
Os antônimos mostram sua força na linha de frente
Só acreditar não basta
é preciso incômodo
( :em você, no mundo).
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