segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Arnaldo Xavier

 

Arnaldo Xavier nasceu em Campina 
Grande-Pb, em 1948. Faleceu em
São Paulo, em 2004.


Arnaldo Xavier é paraibano de Campina Grande. Nascido em 1948 e faleceu prematuramente em 2004. É uma das vozes mais fortes da sua geração e um forte representante da Poesia Negra brasileira. Estreou em poesia através de um projeto do Centro Popular de Cultura – os lendários CPCs. Incursionou pela Poesia Concreta e pelas vanguardas. Mudou-se para São Paulo ainda muito jovem.

O Negro não é feio nem Bonito. O Negro contraria pelo Seu Não-Alinhamento. Pela sua Não-Permissão. O Negro contraria e esta contrariedade é a expressão de incorrespondência às significações adversas manifestadas pelo mundo branco.”

(...)

Hum tempo novo exige uma nova linguagem. E que esta Linguagem seja exatamente o sentido )quizilista(, o gesto (xangótico), a sugestão )ebólica(, a careta (quilombística), a escrita )exusíaca( que o corpo do negro aponta de forma própria irreversível.” (XAVIER, 1986, p. 96)


 

 SENTINELAVANÇADA

           as piranhas corroem
unha por unha
as noites

           as piranhas corroem
ossos por osso
as camas

           as piranhas corroem
olho por olho
as esquinas

         até o último gomo da noite

 

         RITMICASTRAÇÃO OU JURUNANDO
AS ESQÉRCIAS DE UM PUEBLO

             os gestos últimos fluem
em veias negras azuis e mamelucas
pelas fuligens das chaminés
pelas mastigações dos arados
e chocalhos pelos olhares em negros
quadros negros
de um povo julgado a imagem e semelhança
de ovelhas e archanjos bêbados
(num bolero aflito)

         os corpos noturnos e copos taciturnos
em barcas e bocas
de um milharal teso onde as espigas
tentam furar todas as estradas possíveis
e impossíveis
(numa rumba sinistra)

         os sabugos esqueléticos os lápis atônicos
e as nervosas sedes das mãos
veiculam num filete de navalha
(numa guarânia macabra)

               o horizonte como sabre afiado
nas vigas das ovelhas se dos archanjos sadios
fecha o seu abraço ríspido
em plantações de camicases
(num alorcado flamenco)

         a camponesa tristeza choca o grão e o esperma
afoito que floresce o açoite
um filho goro e abafado
pelos afagos de sanguessugas
(numa baladagônica)

         a necessidade de comer gerando a necessidade
de mudanças na memória acéfala
de alguns perplexos homens
(na gralha de uma toada)

         as escondidas danças em gemidos molhados
por trás de pilhas de sal e de fogo
e os panos de uma aurora onde a fome parece
um metalgalho rígido é a única
branca arma branca de faminto
a única tática é a última estratégia
de um passo de tango)

 

         PORTA DEMERGÊNCIA

                            armei ilhável antro
(acessos
circos e cercos)

                   armei policiável pedra (atiçados
campos patas e arames)

                      armei caçável ave
(abertgas
grades e estradas)

                                armei plantável vida
(debaixo
de roxos lençóis
boinas e
capacetes)

                            armei insufocável brado
(nunca
eternos campeões de todos os gemidos)

                                      armei aurorável horizonte
(onde
o sol arriará as calças
e se acocorará para cagar por trás
da moite)

                             armei populações civis
(de
olhos bem abertos sobre
a carne dos juízes
momentâneos)

                       armei (em plenas aflições) funerável motivo
de sombra
(em ideias perplexas e sóis calados
enquanto vive a marsada
em agonias últimas)



Fonte: Antônio Miranda.

 

 

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