terça-feira, 15 de março de 2022

Lenilde Freitas

Lenilde Freitas nasceu em em Campina Grande e mais tarde radicou-se em Recife. Sua obra reúne, entre outros, os seguintes títulos: Desvios (1987); Esboço de Eva (1987); Cercanias (1989) a  Corça e o campo (antologia publicada em 2010). A poeta recebeu diversos prêmios, entre eles destacamos “All Nation Poetry Contesf (USA); Prêmio Emílio Moura de Poesia (MG); Prêmio Pasárgada (SP), etc.

Lenilde Freitas é natural de Campina Grande.



 



REVESES DA SORTE

Vida! Não te peço nada
que não me possas dar.

O que eu mais amei
logo tirou-me a sorte.

No dia em que levou
- em vez de me levar -

O que eu chamei: Vida
e o mundo chamou: Morte.




*****



SAUDADE

Saudade é lembrar seja o que for
de belo, na escassez em que se esteja
no pouco acrescentar e até repor
se a alma permitir que assim seja.

Saudade é voar, mesmo em declive
ir longe com o olhar, igual condor
viver do que em nós ainda vive
sem nunca revestir-se do incolor.

E por fim quando tudo for distância
— varandas, redes, luas e telhados —
no pátio iluminado de infância

Se a sombra chegar sem que a ouçamos
com seus passos macios, aveludados
a vida há de ficar no que cantamos.




*****

 

 NO CORAÇÃO DO INVERNO

Um pouco de sol
no coração do inverno
tentei ser aos teus olhos glaciais.
E na magnitude do meu próprio engano
quis a mim mesma responder
a pergunta que jamais.

Ciclones passaram ao largo

— ao largo os temporais.
Mas alguém chegou a tempo 
de ver o inverno passando
de ver minha vida escoando
de ver de ver nada mais.




*****




RIO VERDE



Para melhor compor as madrugadas

também os galos acordavam cedo.
O vento ao passar pela varanda
contava à folhagem um segredo.
A hora era imensa e tão pouca
ó rastro da manhã que já desanda
no tempo, despetalando sim
cada palavra frágil flor de nossa boca.
Os colibris voavam, bailarinos
sobre as sépalas verdes do futuro.
A brisa prenuncia assim os finos
dedos da chuva fria sobre o muro.
Então o relógio para, a vida zera
— desfaz-se a neblina de quimera. 




*****




O MASCATE 


Pelos bairros, pelas ruas

pelos becos do Recife
o homem passava sempre
vendendo quinquilharias.
Fitas, linhas e colchetes
agulhas, elásticos, botões
caixa de grampos, alfinetes.
Brandindo sua matraca
passava dia após dia
gritando alto bem alto
pelas ruas da cidade.
Lá vem o homem passando
pela Rua da Saudade.

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