terça-feira, 25 de abril de 2023

Vernaide Wanderley

Vernaide Wanderlei nasceu em Patos-Pb e vive e Recife. Exerceu as funções de pesquisadora social na Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ. Foi uma das responsáveis pela reabertura da União Brasileira de Escritores - PE. Publicou os livros de  poemas Tatuagem e Litorgia entre outros.



ABRIR CLAREIRAS EM DESERTOS

Lembro dos cachos anelando às tardes
dos risos antecipando verde nos outeiros
da menina lúdica acordando paqueviras.
Vejo-a escrevendo versos sem viço
negando visto nas canções de outrora
querendo abrir clareiras em manhãs desertas.
Se pudesse lhe daria minha dor vivida
(dor de amor que já partiu em julho)
para não perder a fé que desabrocha
espalhando óleos no seu rosto ensombrado.
O amor que finda nos definha em mágoa
para explodir petúnias na paixão que chega. *****
HARMONIA DOS SONS
O excesso de sons distorce
a noite lá fora...
As vidraças esquecem
de repassar ecos de luz
silêncio e música para ela
que enxuga o olho esquerdo
lugar de escorrer misturas
lágrima e rímel.
Lembrou rosto de criança
depois de chorar e soluçar
em descompasso, sem fala,
choro nos soluços cortados
pela dor, malcriação,
... carência disfarçada, nudez. *****
JULGAMENTO DE LAURA
No terminal do cais,
as pitangas e as carambolas
encantam-se em resinas,
lacas de sóis sobre sobrados, putas,
mendigos e o recinto solene das togas.
O vai e volta de meias e ligas nacaradas
confunde-se com o preto de cetim
e as leis unívocas de homens e de tomos.
Laura é ofertório e súplica,
puta-menina de rios e de punhais,
peitos que mais se adolescentam
a cada sentença e perfuram
sua própria alma e a da cidade
- um fardo indefensável de dias comuns.
O vai e volta das meias nacaradas
aquieta-se e chora sobre ligas,
sobre os códigos, os homens, as togas
e sobre o esquife do cafetão. *****
DE TERRA E DE AFAGO

Agredi o mundo
com punhais
sem ponta,
feri pulsos
queimei a alma
cuspi a raiva
e como um gato cego
enrosquei-me
nos pés da cama
querendo o afago
de gestos loucos. *****
SEMANAS DE COLHEITA

Uma alegria rolou
sobre os torçais do cinto,
alegoria das festas profanas
inundando meu colo de esperança.
Guardemos a chama
desta quarta feira e a dos grãos
que caírem agora no sazonado tempo,
selecionado tempo,
para que todos encham seus bornais.
Passo a ter excessivo zelo
ao tocar as peças da escrivaninha
seus papéis
e envelopes não abertos.
Porque é preciso cultivar um rosto
que enfrente novamente as ruas
saber que finda a estação de escolha
e que dúvidas seguirão com nós.


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