quinta-feira, 20 de abril de 2023

Marília Valengo

Marília Valengo é de João Pessoa, capital da Paraíba, mas mora há 5 anos na cidade de New York, Estados Unidos. Costuma dizer que tem um pé no Cariri e outro no mar. É redatora, estrategista de conteúdo e ultimamente, nômade. Publicou poemas nas versões digital e impressa da Revista Subversa e lançou seu primeiro livro de poesia, Grito em praça vazia, pela Editora 7 Letras em Outubro de 2020.



bilhete de despedida

 

queria que você visse
a minha coleção de frases 

queria que você visse
o exato momento que o sol
lança um feixe de luz
sobre a porta da cozinha
de manhã muito cedo 


que você parasse
alguns minutos 

para ver o brinco de moça
florido no quintal
a força do amarelo

os pequenos animais 

que aparecem por causa dele

planejei te mostrar
o caminho que leva 

para a árvore mais antiga da redondeza

e sonhei com o momento 

em que iríamos sentar para assistir 

aos bichos voltando para o curral 

perto do sol se pôr


quis te levar na casa abandonada

quis dividir com você todos os barulhos 

por trás do maior silêncio da terra


queria que você entendesse 

que não precisa mergulhar mil léguas submarinas
basta perceber que flutuar é mais fácil 

do que se imagina.




*****




então?

 

não faz a menor diferença
já que estamos sob o mesmo

 

sol

 

não pode haver distinção

porque nossos suores são compostos  

 

damesmaquímica  

 

também não existe distância maior, 

 

a    m   o                                      r      

 

quando o que está

entre

os nossos corpos 

 

é o mesmo

 

independente do ponto de vista

 

é o mar quem está agitado, não eu.

 

como as mulheres que conheço

quero descanso

 

e saber

 

com quem deixaremos os nossos filhos?




*****




heróis também jogam golf

 

fico imaginando que todos se convidam
por bilhetes deixados embaixo
de copos que serão recolhidos

por garçons asseados em um salão

esterilizado que é para ninguém perceber

as nuances do clubismo e também de
outras facetas mais vulgares

do despeito

 

que faz com que em outros lares

inventem novas maneiras

de esconder tais bilhetes

nos buracos de muros rajados de balas

que serão recolhidos por mensageiros-passos-firmes

que é para ninguém perceber as nuances vulgares

do oportunismo

 

e enquanto nos desesperamos
com periódicos e cartas que não chegam
mãos se apertam

documentos são assinados

votos são recolhidos

e um sentimento de paz e democracia invade a todos

quando na verdade só há dois buracos onde podemos enfiar nossa esperança

e que tanto faz se dentro do gramado

ou dentro da parede

é a sofreguidão da palavra

relevância que nos assombrará no final.



Fonte: 
Poemas Paraíba | MAPA BRAVA


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Adriano Cabral

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