segunda-feira, 17 de abril de 2023

Abraão Costa Andrade

 Abraão Costa Andrade nasceu em Areia-Pb e reside em João Pessoa-Pb. Cursou Filosofia na UFPB, fez mstrado e doutorado na USP. É poeta, ensaísta e professor da UFPB. Publicou Afroameríndia (Tratado de sensibilidade), Mulária da macambária, O idioma dos pães, A Casa do Tempo, entre outros.



 

REFLEXÃO SOBRE A QUEDA

 

Eu escavo

o meu abismo

 

para tornar maior

a queda possível

 

e

em voo

transformá-la.




*****


 

 

RIO ÁRIDO

 

 

Um rio desce e sobe

  estradas de vidas sóbrias

    de cansaço e música. Um rio

       corre e para como as carpideiras

     (irrompendo larvas) sobre pessoas

    dolentes e secas.

  O rio verte/veste a cidade.

     Saturada.

        O rio cala e não se cala.

 

O rio encontra-se com uns poetas

   e se estraçalha. A poesia se perde

     nas águas desse rio rúptil

ou se acha.

  O rio seca. Seca. A poesia

     Continua perdida.   Ri

(ó)! Parahyba.

 

     Reciclar a aridez desse rio.

Açude a

              b

                 i

                   s

                     s

                       a

                          l.         Fundo

                                     de poeira e

                                    saudade.

Rio doce em sua cor noturna.

 

 

            A raspa desse rio/

cidade... o tanto-faz das poeiras.

     A vaidade dos jaguaribes

               calejados.  É.

A cidade se recicla no ciclo de seu viço.

   Canil. A cidade se recicla no cio.

 

 

Há resquício de brilho. Há

   Sequelas de pó.  Ventos calados.

      Raciocínio de rã angústia

    em cada poste de luz ou

cada

vela

apagada

            na crise dos dias.

 

O rio suporta a fome.

 

 

                        No trânsito

alinhavado dois carinhos se dissolvem.

    Onde encontrar a exata iluminação

do sorriso?

 

 

O povo — no mercado central

     — não vive — na lagoa geral — não vive.

Vicia-se            na azáfama das horas.

    Como a mulher que pedira esmolas

e debulhara sua vida de louca.

   Ou como a vendedora de doces

adormecida na lassa noite

da praça da gala.




*****



 

PRAXIOLOGIA

 

A poesia

por mim buscada

é verbo de ação,

 

nunca está

 

nem chove.




*****


 

 

 

HERMENÊUTICA

 

A palavra vem
antes do sentido.

A palavra é ave,
e o sentido voos
improváveis.




*****

 

 



 

 

 

AGAVE

 

A poesia e seus estragos

no coração de quem ler

deixam firmes mãos vividas

no desespero da posse.

 

A poesia – esse estrago –

no coração do leitor

deixa em riste mãos tremidas,

aprendizes remotas do afago.

 

A poesia – esse extrato –

por sob a casca da leitura

deixa em risco mãos curtidas

na posse, no afago, na loucura.

 

A poesia – ou é tortura? –

sabe delícias em nós

e nos desata do medo.

 


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