Abraão Costa Andrade nasceu em Areia-Pb e reside em João Pessoa-Pb. Cursou Filosofia na UFPB, fez mstrado e doutorado na USP. É poeta, ensaísta e professor da UFPB. Publicou Afroameríndia (Tratado de sensibilidade), Mulária da macambária, O idioma dos pães, A Casa do Tempo, entre outros.
REFLEXÃO SOBRE A QUEDA
Eu escavo o meu abismo
para tornar maior a queda possível
e em voo transformá-la.
RIO ÁRIDO
Um rio desce e sobe estradas de vidas sóbrias de cansaço e música. Um rio corre e para como as carpideiras (irrompendo larvas) sobre pessoas dolentes e secas. O rio verte/veste a cidade. Saturada. O rio cala e não se cala.
O rio encontra-se com uns poetas e se estraçalha. A poesia se perde nas águas desse rio rúptil ou se acha. O rio seca. Seca. A poesia Continua perdida. Ri (ó)! Parahyba.
Reciclar a aridez desse rio. Açude a b i s s a l. Fundo de poeira e saudade. Rio doce em sua cor noturna.
A raspa desse rio/ cidade... o tanto-faz das poeiras. A vaidade dos jaguaribes calejados. É. A cidade se recicla no ciclo de seu viço. Canil. A cidade se recicla no cio.
Há resquício de brilho. Há Sequelas de pó. Ventos calados. Raciocínio de rã angústia em cada poste de luz ou cada vela apagada na crise dos dias.
O rio suporta a fome.
No trânsito alinhavado dois carinhos se dissolvem. Onde encontrar a exata iluminação do sorriso?
O povo — no mercado central — não vive — na lagoa geral — não vive. Vicia-se na azáfama das horas. Como a mulher que pedira esmolas e debulhara sua vida de louca. Ou como a vendedora de doces adormecida na lassa noite da praça da gala.
PRAXIOLOGIA
A poesia por mim buscada é verbo de ação,
nunca está
nem chove.
HERMENÊUTICA
A palavra vem
AGAVE
A poesia e seus estragos no coração de quem ler deixam firmes mãos vividas no desespero da posse.
A poesia – esse estrago – no coração do leitor deixa em riste mãos tremidas, aprendizes remotas do afago.
A poesia – esse extrato – por sob a casca da leitura deixa em risco mãos curtidas na posse, no afago, na loucura.
A poesia – ou é tortura? – sabe delícias em nós e nos desata do medo. |
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