sexta-feira, 21 de abril de 2023

Tassyla Queiroga

Tassyla Queiroga nasceu em João Pessoa-Pb e foi criada no sertão. Viajante inquieta. Dividida entre Literatura e Direito, com poemas publicados nas Revistas Garupa, Gueto, Diversos Afins e Ruído Manifesto. O primeiro livro de poemas se chama Sargaço, e foi publicado em 2019 pela Edições Macondo. 





toda solidão é um domingo de tarde
sem vontade de recomeço
uma xícara vazia
um dia de insônia
que dança madrugada adentro
a lama depois da chuva
ou a criança quieta
no quintal atrás de casa
onde a árvore tem galhos secos
e nenhum pássaro repousa.

 

*****

 

minha última casa
era uma carta
sobre distâncias
escrita nas linhas retas do planalto
um caderno com páginas em branco
e o mapa com rota de fuga
colado na última folha
como os pombos-correios
que levam mensagens
para a Idade Média
o primeiro vídeo de Matilde Campilho
era um passeio de bicicleta
no verão de Copacabana
o último disco de Leonard Cohen
era um bilhete de despedida
e os rabiscos de Basquiat eram
um pedido de socorro
aos prédios de Manhattan.

 


*****

 

você sempre disse que importante é o ritmo
ir sem pressa pela cidade estreita
onde nos perdemos
esperar menos o que não vai ser alcançado
e se houver o dia de reviver assuntos
conclusões não virão de novo
você disse
– don´t think twice
e eu – isso é balela de Bob Dylan
mas assisto você dormir em silêncio
o precipício imóvel entre as pálpebras
por onde caio
afasto as mãos
pra apagar incêndios em nosso íntimo
com um sopro
você sempre soube que importante é o ritmo
e o perigo da combustão é o impulso
basta um fósforo na direção certa
a maneira com que o fogo
destrói rápido as promessas feitas.

 


*****

 


última dose antes da conta
insights só me ocorrem bêbada
concluímos que a tristeza existe
em nós porque somos lúcidos
viramos shot de tequila
e você dormiu no meu corpo
me devolveu chaves antigas
te arrastei pra todo canto
boêmios e roots no jardim de maitreya
tomamos as plantas entre erros e caleidoscópios
e eu já tinha lido tantas vezes teus olhos
que deitamos no cerrado, em silêncio.
aos trinta anos vi uma estrela cadente
e não pedi nada, parada no estacionamento
entre o carro e a fuga
as chaves estavam no teu bolso
minhas mãos geladas queriam carona
e você apareceu de braços abertos
parecia deus criando pecados,
cresci ao teu lado entre o susto e o sono
e tomamos chá em silêncio
a fumaça embaça teus óculos sérios
mas por que razão estaríamos tristes?
nós, que tivemos esperança nos russos
diminuímos os relicários
e chegamos doze léguas à frente dos cínicos.
fotografo teu rosto ao acaso
e o foco da sorte é o arco
que cruza tua boca

n

o

 

c

a

n

t

o
no canto esquerdo do sorriso tímido.




*****



azul

 

toda solidão é um domingo de tarde
sem vontade de recomeço
uma xícara vazia
em noite de insônia
que dança madrugada adentro
a lama depois da chuva
ou a criança quieta
no quintal atrás de casa
onde a árvore tem galhos secos
e nenhum pássaro repousa.

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