sexta-feira, 7 de abril de 2023

Ascendino Leite

Ascendino Leite (1915-2010) nasceu em Conceição do Piancó-Pb. Foi jornalista, escritor e funcionário público. Dirigiu a redação de diversos jornais em São Paulo e Rio de Janeiro. Na Paraíba trabalhou em O Norte, A União e Correio da Paraíba. Foi membro da Academia Paraibana de Letras e sócio fundador da Associação Paraibana de Imprensa. Publicou diversos livros, entre eles destacamos “Por uma saudade azul”, “Visões do Vale”, “Estética do modernismo”, “Os dias esquecidos”, entre outros.





MEU ROSTO


Sou tão sincero no que faço
que penso: Deus me segue,
sorrindo e abençoado no pecado.

Sou tão sincero no que penso,
que Deus me acompanha no passado,
— velho tributário do pecado.

Sou tão voraz por entre as coisas
que, não raro, com elas me confundo.
Daí que, fiel ao que elas são,

sei que Deus me abandona no que sou.
Como, então, não creditar
a Deus, Nosso Senhor,
a sorte de, a toda hora, ter desejos?





*****

 


IDEOLOGIA

 

Escondida está em nosso Vale
a minha ideologia da paixão.
Se tudo tivesse dado certo, digo,
eu teria sido pai aos doze anos.
Não é, querida Laura? E tu,
uma certa mãezinha à mesma idade?
Surpresas, mais que mistérios, vindas
do Vale em que nasci e casto fui,
os sentidos me impondo seu império.




*****

 

CANÇÃO AMARGA

 

Nem todo silêncio é inexplicável.
Antes, pode ser pensado
          e dirigido,
sob inconcebíveis fundamentos,
a um indispensável massacre.

Porém, mais que um ato
          dantesco
ele consuma em morte e
          cinza
ilusórios amores renegados.



Elegia -10

 

  

Vem. O campo está aberto e livre
pra nele, a flor florir.
Como, no teu corpo, minhas mãos tocando
e tímidos se espalhem
meus dedos por teus delicados
traços, amando.

É assim que, por entre soluços
e sufocados gritos de prazer,
nada nos falte
nem chegue à demasia.

Eis o que, por nós, urdido
e pelo calor de nossa carne,
aquecida e sôfrega, vem nascendo
o mais ambicionado
dos destinos em busca
da ventura, do amor e da razão. 
dita vivida por viver.




*****

 

 

OMBROS

 

Fria é a tarde.
E úmida a minha carne
ao cruzar a grama
e passar por teus ombros nus.

Vejo o horizonte e a lua
               despontando
rumo ao vago firmamento.
No entanto, vence o teu olhar
sobre o silêncio cósmico
e profundo do mar escuro.

O meu próprio amor.



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