quarta-feira, 26 de abril de 2023

Marcus Vinícius

Marcus Vinícius de Andrade nasceu em Recife e fez seus primeiros estudos de música com os maestros Arlindo Teixeira, Pedro Santos e com o pianista Gerardo Parente. Compositor, maestro, arranjador e Presidente da Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes (AMAR-SOMBRÁS), sociedade de gestão coletiva de direitos autorais musicais que integra o ECAD. Foi membro do extinto Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), que pertencia ao Ministério da Cultura. É um profundo conhecedor da matéria autoral, sendo um dos nomes mais respeitados de nosso país. Nesta entrevista, analisa questões que estão na ordem do dia. Paralelamente ao trabalho musical, integrou o Grupo Sanhauá lançando por esse grupo dois livros de poemas, "Poema Quase Canto e "Cinco Tempos do Olho".


FALAÇÃO (1)


o rádio de pilha disposto sobre a mesa
                    - concentra
mais que a comida do espírito
                    - condensa
mais a palavra que o grito
                    - enfrenta
mais o gemer que o gemido

                    - alenta
mais que um simples estar perdido
                    e se aleita
                    no seu próprio
                    u  m  b  i  g  o...

o rádio de pilha disposto sobre a mesa
se perde conforme os seus sentidos
                   (antenas
                          ou então
                                 ruídos)
captando e se embabelando: sons
sendo o que é
                   tendo sido
outrora nada mais além
           nada mais sem
           um sim sem mais também
        -  s i m p l e s   f e i x e   d e  g r i t o s.

o rádio de pilha disposto sobre a mesa
está muito além de mim:
                     eu mesmo que
                          meço/avalio
o fato simples dele estar vivo;
                     eu mesmo que
                     com uma pancada
posso descontrolá-lo de seus fios;
mas eleme pega
e em estar pegando-me
cala-me com seu coração frio.

o medo escorreu por entre os olhos
                  e chegou até os lábios do menino:
com um xarope amargo então, que ele
                  provasse (uma careta!) sem nenhum efeito.

                  e daí para mil noites sem sono
de fantasmais sonhos, abismo colorido
                  e seus bichos de memória deslizando
nas visões frescas de tevemaníaco

foi um pulo: um só apenas
                   o suor esquecido e descarnado
o seu olhos de infante, avessamente...

                  nele jazia um pássaro tombado:
o medo  -    que ali se alimentava
                  na sala escura com a tevê na frente...


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