Alberto Lacet nasceu em Teixeira-Pb e vive atualmente em João Pessoa-Pb. É artista plástico e escritor. Como pintor fez diversas exposições no Brasil e no exterior, tendo sua obra consagrada. Começou a escrever jpa na maturidade mas já publicou um romance, um livro de contos e o livro de poemas Explicações do Fogo, de onde selecionamos os poemas abaixo.
Um homem pode cair de um outono
E dissolver-se na água de um rio
E ser depois repatriado num peixe
De estômago vazio
Bastará o mero outono cruzando indiferente
Para um rio soltar-se no ar como folha ao vento
Um peixe embainhar-se na pedra
Esta lapidar folha de faca
Veremos terra vomitando sopa de fogo e tripas
Também pode dissolver-se o vento no vazio
*****
3 LEÕES
1. O FORJADO
Um leão desce à cova
No iminente sol da pele
Lhe basta um pouco de noite.
Teria sido forjado
De metais confusos
Quando de uma bola de fogo
A terra ainda não passava
Do que hoje resta do inicial leão
Coração é peça mais antiga
O restante se fez à volta
Uma eternidade o depurou
Vindo a ter hoje cauda e juba:
A cauda é um tição
A juba, resplendor
2. O ASSOMBRADO
(Deixe-o ao sol):
Destino de leão morto
É estar insepulto
Pois do contrário
Animal covoso que é
O bicho se recompõe
rasga ventre da terra
Assusta vulcão
Viola sepulcro humano
3. O ENSOMBRADO
Se pira de sol fustiga sombra
Um jeito de ser definitivo
Ao leão, abriga-se
Na argila
Na cova, apenas coração conserva-se
Em fogo macio azul de álcool
Enquanto o restante
Leão esfria
Suportará a chama
A perigosa incontinência
De acender e apagar silencioso
Aqui e ali se lambe e se monitora:
Viver é gastar inexaurível
Combustão estelar
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A CONQUISTA
E assim, após longo cerco
Caiu a cidadela
Penetramos sob olhar
Cabisbaixo de ruínas
Um escombro
De quando em quando
Fumega e nos interroga
Um silêncio
Se nos depara
De toda exuberância que havia
Não restou senão um eco
E nem assim ecoa
na acrópole vazia
vem das artérias
Do nosso anterior stadium
Tumultuoso que trazíamos
Porém entre os destroços
Escutar:
Breve trinado de pássaro
Solitário rumor de água
*****
SOLIDÃO
Uma luz parva brotando de lá
Do nascente engolfado pela chuva
Surgirá o dia – sim
Desse parto frio e demorado
A manhã desfalecendo no colostro.
*****
ESTALEIRO
O que não diz no bar, na rua
Escoa na garganta do poema
Sussurrado em transe
Acode pelos labirintos do grito
Pelos estampidos da mente na voz
E pelo que se gastou, se fraturou
Na multidão do que não disse
Num espirrar de pétalas
Foram-se várias sílabas
Depois da chuva forte
Caindo, veio afogar
As sobras das palavras
O silêncio desce enfim ao estaleiro
Ali onde uma vez mais
Dado um tempo se realinham
Poema, palavra e sílaba
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