quinta-feira, 6 de abril de 2023

João Paraibano

João Pereira da Luz, conhecido como João Paraibano (1952-2014) nasceu em Princesa Isabel. Viveu muitos anos em Afogados da Ingazeira(PE). Poeta e repentista, nunca freuqnetou escola mas foi considerado um dos maiores cantadores do Brasil. Venceu diversos festivais e teve paricipações no Fantástico da Rede Globo de Televisão. No final de 2010 fez a despedida do presidente Lula com o poeta Valdir Teles.







Doutor eu sei que errei

Por dois fatos: dama e porre.

Por amor se mata e morre.

Eu nem morri, nem matei,

Apenas prejudiquei

Um ambiente de classe.

Depois de apanhar na face

Bati na flor do meu ramo.

Me prenderam porque amo

Quanto mais se eu odiasse.

Poeta mesmo ofendido

Sabe oferecer afeto.

Faz pena dormir no teto

Da morada de um bandido,

Se humilha, faz pedido

Ninguém escuta a voz sua,

Não vê o sol, nem a lua

Deixar o espaço aceso.

Por que um poeta preso

Com tantos ladrões na rua?

Sei que não sou marginal,

Mas por ciúmes de alguém,

Bebi pra fazer o bem,

Terminei fazendo o mal.

Eu tendo casa, quintal,

Portão, cortina, janela,

Deixei pra dormir na cela

Com a minha cabeça lesa,

Só sabe a cruz quanto pesa

Quem está carregando ela.

Poeta é um passarinho

Que quando está na cadeia

Sua pena fica feia,

Sente saudade do ninho,

Do calor do filhotinho,

Da fonte da imensidade.

Se come deixa a metade

Da ração que o dono bota,

Se canta esquece da nota

Da canção da liberdade.

Doutor, se eu perder meu nome

Não acho mais quem o empreste,

A minha mulher não veste,

Minha filhinha não come

E a minha fama se some

Para nunca mais voltar.

Não querendo lhe comprar,

Mas humildemente peço:

Se puder, rasgue o processo

E deixe o poeta cantar.

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