terça-feira, 4 de abril de 2023

Paulo Nunes Batista

 Paulo Nunes Batista  (1924-2019) nasceu em João Pessoa-Pb, viveu e fez carreira literária em Anápoles-GO onde chegou a ser membro da Academia Goiana de Letras. Foi advogado, jornalista e poeta, tendo publicado inúmeros folhetos de Cordel e livros de contos e poesia. Entre os quais destacamos "Canto presente", Cantigas da Paz", "A caminho do azul", "De mãos acesas", "ABC de Carlos Drummond e outros ABCs", "Causicontos", "Cronicontos", alguns ensaios, entre eles destacamos "Um tributo à Câmara Cascudo", "Raizes do Cangaço". Foi preso político, orador espírita, Residiu no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, João Pessoa, Recife e outras cidades.


META

Os olhos grandes cheios do infinito
da Música vestindo a Natureza
e as almas se banhando de Beleza
nas auras puras desse céu bendito.
O sonho, a lenda, a Fantasia, o mito,
tudo que aviva a inspiração acesa;
a Luz, nos velhos tuneis da Incerteza,
explode a tradição, e a regra, e o rito.
O romantismo azul da Boemia;
a alma rósea-lilás da Rebeldia,
esse misto de Povo e de Divino.
Essa coragem de já não ter medo,
eis a revelação do meu segredo
e a meta espiritual de meu destino.




*****




A SINFONIA DO SILÊNCIO


O cabto azul da água
no coração do bosque
Pássaros ensaiam
a sinfonia do Silêncio
A tarde é rosa aberta
embelezando a alma
Os Elementais se achegam
e nos ofertam seu Reino.
O Sol na asa do Espaço
sonha em ser só saudade
Que nos serve ser gente
sem servir a ninguém?
Nossas irmãs, as Plantas
servem, desde as Raízes
O Ar, a Àgua, a Terra, o Fogo servem
O' home, a que(m) tu serves?




*****


A ho(n)ra  p(ol)uída


O caso é este:
Já não se faz poente
como antigamente!

Um sol de néon se põe
sobre um horizonte de plástico.

Os humanos robôs assistem a esse
espetáculo
com seus olhos de vidro, suas mãos de metal.
Nesta ho(n)ra p(ol)uída, o que resta
da vida
após o Armageddon total?

Os passáros de Aço sobre
árvores de cimento armado
ainda tentam cantar.
O som apodreceu. O que era Grito é
mármore,
e virou pedra o ar.

Parecem ainda nadar os peixes
fictícios,
todos de uma só cor.
Mas não restam senão duas duríssimas Lágrimas
que um Deus qualquer chorou
sobre o altar dos derradeiros
Sacrifícios
no Ritual do Horror.

Quis falar, sem sucesso, uma Boca
eletrônica.
Mas não havia mais
uma palavra só, após a DOR
atômica -
a não serem uis! e ais!...

E toda a Arte - dos antigos aos
modernos -
de que memória havia nos museus
-
tudo subiu pros céus, na explosão
dos Infernos
ante os olhos atônitos de Deus!

E uma jovem sem cara exibiu o seu
sexo
numa palma de mão:
foi tudo o que sobrou, depois de
cem mil séculos
do Show de Armageddon.

Surdo-mudo, paralítico, asssexuado e
cego -
após dar-se na próxima mente o
Grande Nó -
o último homem entregou sua alma
toda ao ego
e nunca se sentiu tão infinitamente.
Só.




*****




 REFORMA


A casa velha, reformada, fica
limpa, cheirosa, sólida, habitável.
Viver em casa assim torna agradável
a vida, faz nossa existência rica.

A velhice, à matéria, danifica;
o mal torna o homem mais que miserável.
Torna-te bom, de tudo quanto amável
existe, tua vida, plenifica.

Faze a reforma do teu pensamento,
do teu desejo, do teu sentimento:
— Atira fora aquilo que não presta.

E deixa o Bem cobrir-te com sua Asa.
Quem se reforma, a si, reforma a Casa
de Deus — e faz, da vida, eterna morada. 




*****





                           ABC de cantoria para Soares Feitosa

 

 

Antônios! Santos, Poetas,
Profetas em Verso & Prosa!
Dêem-me as palavras certeiras,
da Rima e Métrica a entrosa,
pr’eu versar, todo em poesia,
o ABC DE CANTORIA
para SOARES FEITOSA.

Batistas... todos: Antônio
Batista Guedes, meu Tio;
Louro-Dimas-Otacílio,
meus Primos – o Grande Trio;
Ugolino do Teixeira,
meu Avô... abram a Porteira
do Verso – pro Desafio!

Cantadores e Coquistas;
os Poetas do Cordel;
Glosadores, Repentistas
tragam-me a Imagem fiel
pr’eu – retratando um Poeta –
atingir o alvo da meta
e cumprir bem meu papel!

Deus Apolo! Santas Musas!
Do Parnaso dêem-me a Mão,
trazendo a Luz da Poesia
nas Asas da Inspiração,
pr’eu aqui dizer quem é
esse Francisco José
SOARES FEITOSA, então.

Em Ipu, no Ceará,
esse Menino nasceu:
19 de Janeiro
foi o Dia em que se deu
o grande acontecimento.
Mas seu pai, que triste evento!,
no mesmo dia morreu.

Francisco José SOARES
FEITOSA é único filho
de Tatim e dona Anísia –
parteira de muito brilho.
Do norte do Ceará
trouxe o de melhor que há,
no seu destino andarilho...

Glaucineide, uma serrana
é sua Dona e Senhora.
Cearense, como ele,
no Lar da Virtude mora.
Tem cinco filhos do Chico:
fez o poeta mais rico
de um ouro que não descora...

Heroína, Dona Anísia
enfrentou a viuvez
com coragem, decisão,
fé, trabalho e sensatez.
Fazendola Catuana:
aí, Anísia, a Serrana
do Menino um Homem fez.

Infância, passa o Menino,
toda, em Monsenhor Tabosa,
cidadezinha pacata,
que de boa fama goza.
Num Seminário, em Sobral,
com 13 anos, afinal
entra SOARES FEITOSA.

Já dos 14 aos 15 anos
em nova Russas morou,
em casa do tio amigo
padre Leitão, que o ensinou.
Rio Macacos... seu rio...
Os sertões, a Mãe, o Tio
são saudades que guardou.

Lá vai o jovem Francisco
pelos campos a correr,
pelos matos ou caatingas
quando Deus manda chover...
ou quando a Seca secava
tudo em torno... e só restava
a água-de-se-não-morrer...

Macacos... diz o Poeta:
(Eu) “nem sei se ainda existe,
mas lhes garanto que água
ele não têm!”... dizer triste
de quem faz, do rio, tema
de um belíssimo poema...
O rio na alma resiste...

Nessas águas do Macacos
Chico Zé matou a sede...
deu inté bunda-canastra...
fez de sonho uma parede
para represar as águas...
E balançou suas mágoas
no céu azul de uma rede...

Outros ares: Moço Chico,
Jornalista em Fortaleza.
Foi caixeiro-viajante
no Piauí, com destreza,
vai pro Banco do Brasil.
De mexer com o metal vil
trouxe a sina, com certeza...

Porque, na casa do 20, –
dando à vida novo rumo –
aprovado por concurso,
mantendo o fiel do prumo,
Francisco José SOARES
FEITOSA se eleva aos ares:
já é fiscal do Consumo!

Quando viu que era preciso,
nos seus 22 de idade,
casou-se com Glaucineide,
pra sua felicidade.
Se diz sim – ela diz sim.
E os dois vão vivendo, assim
como se um só, na verdade.

Recife: catorze anos
em Recife residiu –
de 80 a 94.
O governo o transferiu
pra Salvador da Bahia.
O demônio da Poesia,
antes disso, descobriu...

Salvador... suas ladeiras...
a bela gente de cor...
Bahia de Castro Alves,
da Liberdade o Cantor!
E Chico, de Pernambuco,
trouxe, da Poesia, o suco
pra cantar em Salvador...

Traz, de Recife, o primeiro
poema, pois Chico o fez
beirando os 50 anos,
no ano 93.
Da Poesia a Estrela lhe arde.
Dá o Réquiem em Sol da Tarde
à luz, em 96.

UM Senhor Poeta surge,
quase da noite pro dia.
Ainda em 96,
funda o Jornal de Poesia –
pioneiro – na INTERNET.
Mas, neste 97,
é que mostra o que escondia...

Vem, PSI, A PENÚLTIMA,
sacudir nossa Nação
com Obra que, em nossas letras,
é quase revolução –
algo de espantoso e novo...
E balança a terra e o Povo,
com seu livro – SALOMÃO!

Xis de SOARES FEITOSA
é unir da copa à raiz
a Poesia Brasileira –
o melhor deste País.
Poesia valente, viva –
Verso & Prosa – positiva,
que acha do problema o xis...

Zâmbi, Meu Negro, Obrigado
por ter dado ao cordelista
a chance de abecedar
SOARES FEITOSA, o Artista!
Se me faltaram arte e engenho
perdoem o mau dese(mpe)nho
do

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