segunda-feira, 17 de abril de 2023

Celso Japiassu

Celso Almir Japiassu Lins Falcão nasceu em João Pessoa onde fez os primeiros estudos e também o Ginásio e o Clássico, no Colégio Pio X, da Ordem Marista, e no Liceu Paraibano, respectivamente. Ainda em João Pessoa publicou os primeiros poemas nos jornais locais e foi membro do Teatro do Estudante da Paraíba, pelo qual ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no III Festival Nortista de Teatro Amador, realizado em Recife, em 1956Participou também de um movimento literário local que ficou conhecido depois como Geração 59, liderado pelo poeta Vanildo Brito e que valorizou na então conservadora província os conceitos contemporâneos de literatura e arte. Publicou sete livros de poemas: O texto e a palha [1965], Processo Penal [1968], A legião dos suicidas [1971], A região dos mitos [1979], O itinerário dos emigrantes [1983], O último número [1988] e 17 poemas noturnos [1993]. Em parceria com Nei Leandro de Castro, publicou 50 sonetos de forno e fogão. É o editor de http://www.umacoisaeoutra.com.br/



Poema nº 2 sobre o morto


Foi depois que as luzes se acenderam
que o esplêndido cadáver apareceu.
A moça de pernas magras continuou imutável
com seus olhos verdes anunciando verdes auroras.

Os homens continuaram rindo
E um deles aproximou-se
pensando que o corpo fosse um búzio
Porque brilhava tédio nos seus olhos.

Talvez houvesse vício nas calçadas.

Mas o asfalto era duro e duros os ruídos
que jorravam das pernas e dos olhos
quando o frio chegou junto com as folhas.




*****




Poema de amor


Abro a janela do quarto e penso em ti,
Sinto o gosto do vento deste mês.
E imagino os teus olhos e cabelos
como são agora, que é Setembro
e és claridade e brisa e pensamento.




*****




Poema


Entrementes deponho em teus cabelos
este indizível mistério e estas formas
que buscas

Embora em ti pressinta o inincontrolável
em ti me acho e surpreendo
este  mim mesmo que sou
e que abnego.

Talvez te nomeie  iniludível
brumosa rosa limpa
intermitente
e nem te encontre e te descreva.

E nem te cante e te descubra
e nem chame lâmina teu sorriso
e em ti perceba o que de mim se afasta.




*****




A CRIAÇÃO


A luta cai entre os corpos
Como uma pedra
Poupa a vertigem.
O homem trabalha o medo
 — mural acrescentado —
de saturar uma bala.
Como traçar a vindita
interpretada na máquina
ou recolher o desterro
da terra elaborada:
Enumerar o granito
que delimita o curral
e sangra a vaca o cavalo
o sal o feijão o mal.
Como o porco o’homem
grita
e a si mesmo
descobre
beirando a face do mito.




*****



Aurora

Dormi entre assassinos,
juntei minha voz ao coro dos mendigos.
Ouvi o agouro das aves
prenunciando a náusea.

Em pleno verão, entoei a musica do inverno
e mergulhei no assombro.
Nenhum disfarce encobriu a voz
que anunciava o grito.

Aurora lancinante aspergia a escuridão
de uma noite eterna, absoluta.
Pássaros grasnaram o anúncio
de horror e fome.

Nossos estigmas traduziam
a face da doença - a dor
de sonhos massacrados -
a dor.

 





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