terça-feira, 4 de abril de 2023

José Antônio Assunção

José Antônio Assunção nasceu em Vila Melão (RN), passou a infância em Cuité-Pb, residiu em Campina Grande-Pb  e atualmente mora em João Pessoa-Pb. É bacharel em Matemática, com especialização em Lógica. Nos anos 70 participou ativamente do cenário cultural de Campina Grande, integrando o grupo teatral Cacilda Becker e a revista Garatuja. É poeta, autor dos livros O Câncer no Pêssego, A trapaça da rosa e A casa do ser. Aposentou-se como produtor cultural nos quadros da UFPB.




INVISÍVEL PIPA (para Sérgio de Castro Pinto)
Feito pesados sacos
De brita sobre o húmus.
Graves gotas de suor
Rolam desde a testa
Ao peito ressecado.
Alheio o olho, mira o atávico
Vasto enleio do mar
Com a areia irisada.
Um menino empunha um cordel.
Invisível elo das mãos
Com a alma desgarrada. *****
Natal 1987 (Aos filhos Tasla e Rúlio)
O Perdido gesto de vasculhar os sapatos na manhã dos sinos. Os próprios sapatos (itinerário de ti?) já quedam rotos nas rugas do tempo. É o menino antigo, só de teimoso, suporta o presente. *****
O Vínculo
Essa velha cadeira desgarrada do quanto pra ela foi talher e exílio; essa velha cadeira de espaldar esguio de onde a noite (todo pai é um abismo) contemplo o rosto de meu filho; essa velha cadeira rúnica a quem não me doeu acrescentar um signo; essa velha cadeira (nunca a destruam) comprei por um reles rútilo níquel numa loja de móveis usados onde ela jazia estúpida, perdido o vinculo. *****

DAMA DAS CILADAS

Sofrido o sinistro Vem o caos, a tribulação. Passada a borrasca Segue a nave, Alepo Ciclâmen.

Ninguém está a salvo Da palma da desgraça Do laço das ciladas.

Ninguém, nobre ou plebeu, Escapa ao fascínio Da incansável Dama Das Camélias, e seus crisântemos de aluguel.

Assim falava um profeta No deserto das palavras No casulo das imagens. ***** DE MUNCH, MONET E BOXE

Depois de tantas jornadas Quedo feito folha de outono À grama que perdeu o viço Ao barro que me corteja o baço. Mas decididamente Não recolherei meu facho O pódium bem ali a esperar meu lábaro A tocha de Prometeu a verberar meu nome Um tanto de gaze a garantir-me o braço. Assim, hei de cumprir meu fado Uma guitarra gitana a ferir-me a palma O grito de Munch a entranhar-me a alma Um quadro de Monet a fechar-me a pálpebra. Um verso último a roçar-me o lábio. (Não te falei que sou todo Sísifo?)

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