quarta-feira, 5 de abril de 2023

Marcus Vinícius

 Marcus Vinícius de Andrade nasceu em Recife e residiu em João Pessoa onde foi um dos integrantes do Grupo Sanhauá. Fez seus estudos de música com os maestros Arlindo Teixeira, Pedro Santos e Gerardo Parente.




ORDEM UNIDA




I


já não há

não há já:

           haja

 

a ordem!

a de ontem, onde?

o deo endiabrado deu

         as ordens.

 

já não há

ah não já

não aja não

                       a ordem morde:

enquanto você

dorme

de medo

e

M 0 R R E...



II

 

enquanto você dorme

         - ou morre -

a dor me percorre:

         é limpa

         e corta

         é certa

 

         e torta
                   mas é
a dor que roda
que doura:
         os frutos e os
         trunfos
                   — os triunfos,
         os triunfátuos fogos
                   da ordem.

é a dormeordemorde
         só
   a mordeordemdorme.

d o r m e o r d e m o r d e n d o – m e!



III

mas a dor-dem
com que boca morde
         ou
dorme com que olhos?

oh: a dor me diz
      que a ordem é
      que a ordem faz
                    de mim
                    o que sempre quis:
quem me morde é minha boca
quem me dorme são meus olhos.

minha dor é minha ordem!



IV

ah, corrente
que me traz nos pés:
dano
         e dano
                    murchando!

no mais e mais
nada dó
            nem doerá:
            a ordem morde
                     ou dorfme.

mas é unida,
        e vencerá...




*****

 

 


POEMAS DO BOI SEM SINTAXE

 


ah, boi
         eu que não fui
hoje não
         sou: o que você foi
                                  boi!

na cancela da eletricidade
no clã  da terra e da idade
a cela e o toque do teclado
         nos cascos:
os restos do boi jogados e
         o falido boi
                    foi

                     marcado.

ferrado e morto meu boi:
         (ah, boi danado)
na cerca de papel encurralado
         abadonado...

somente um boi: poemorto
                          e sem sintaxe.


rês
relho...
— assim estão as coisas, boi
    sem os seus espelhos...

a esmo ensimesmado pensa
         no malho:
a arma, a amarra do chocalho
         prende
só as coisas de teu nome, boi
         e a tua arenga!

sic sunt res: o relho
baixa nos costados, crê
                   assim como é a rês

                                        o  r
                               ou o rê...




*****




ECCLESIA  ECCLESIA


 1.   Pátio

a)
por onde se escoa um mar de pátio
pátio de mar, igreja, patamar
fundidos: barroco o leão
oco o barro do santo
— tosco o barro do mangue.

b)
cruz cruzada este cruzeiro
— frade reza e seu capuz —
uma igreja
(à espreita uma praia)
se espraia, traz a raiz
do que foi e do que fiz.

c)
fiz o que fiz: o poema
o troco da nota desta noite.
o nulo pulo ao não do mangue perto
igreja
onde pulula o arisco
         —  o risco certo.

5.  Missa

a)
o sino, o silêncio
o dão e o dim
repicam missa à messe:
moça acorda/corre
         mulher acorre
correm véus  (vôo)
                   e vida.
e lida — luta — luto
e tudo e tanto:
clerical e claustro
         a custo a missa.

b)
pão e vinho — vão e pinho
cristo na  cruz  acre  e  cru
cruzado   corpo,  corpocruz
                              — luz?
tilintam  os tlins, o tilintar:
                                  fim.




*****

 

 

OLHO E CANA / OLHO DE CANA


 o olho  (mão e objeto)
está  dentro  da  cana,
como se qualquer coisa
o engana.

o olho  vê
— sentido oblíquo
da cana cai no rama —
centro verde sem sustento: pau

o olho tem — dentro da cana —
tecido maior do verde
se plantado.
olho sim — braço em deslize
maior ainda que o próprio jogo:

Dado.

 

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