quinta-feira, 6 de abril de 2023

Amanda Vital

 Amanda Vital nasceu em Ipatinga-MG, morou em João Pessoa onde cursou Letras na UFPB e atualmente vive em Portugal onde cursa mestrado na Universidade Nova de Lisboa. É editora adjunta da revista Mallarmargens e da Editora Patuá. É autora dos livros de poemas "Lux" e "Passagem". Seus poemas podem ser encontrados em diversos espaços virtuais. Participou de antologias como Ventre Urbano e 29 de abril, entre outras.

 

bastidores

 

há dez anos eu era magérrima e tão triste

tomava laxante contava calorias como se

contabilizasse minhas economias tinha já

minha escova de dentes pronta para usar

depois do almoço mas usava ao contrário

tinha fotos de atrizes também magérrimas

e tristes coladas de cima a baixo no quarto

na frente do guarda-roupa no caderno nas

paredes murchava a barriga ao espelho eu

sonhava como ficaria com minhas costelas

furando a carne fina e despontando na pele

eu queria ser leve a ponto de ser carregada

pelo primeiro vento que soprasse mais forte

e no fundo no fundo não era pelo incômodo

não era por carência nunca foi pela estética

no fundo eu queria mesmo era voar e sumir




*****




cantou tanto de galo
que se esqueceu
dos milhos

e as galinhas, espertas,
encheram o papo




*****




ajeite o ninho
que ainda
não sei voar

só abro asas
quando a saudade
me deixar




*****




princípios

 

é uma poesia sem propósito”, dizem eles,

essas que descrevem as casas, os bichos,

as pessoas, as saudades”. eu os conheço e

tento perceber a sede pela complexidade e

pela melopeia, pela filosofia e pelo sublime.

mas os dias se fazem tão bem em poemas

assim, malditos; a vida acontece cotidiana

atrás dos olhos de uma ave, entre o escuro

e o primeiro berro. conhecer tanta gente e

tantos lugares como se eu fosse os poetas

ou a própria poesia. um verso acabando no

mijo do cachorro, na falta de moedas, entre

o vão da escada e o risca-faca do bairrinho.

se falta algum propósito, passa já a existir:

um fragmento de vida sendo a vida inteira




*****

 


confessionário

 

minha verdade só entra pelas frestas: impaciente

e doida ricocheteando contra filtros teias bordas

como uma senhora agoniada nos fundos de uma

igreja junto à parede externa do confessionário a

chorar a sorrir com olhos fixos na barra da batina

do padre e os dedinhos furando as grelhas: entra

estrambólica como uma beata reclusa há décadas

dentro do próprio peito a gestar cabelos brancos

e uns pés de galinha gigantes ao redor dos olhos

a levar ovos numa sacola de plástico reutilizável a

direcionar guinchos sem coerência a quem passa:

já que isso de beleza e de elegância é para outras

mulheres o que é meu eu levo guardado no bolso

em papel envelhecido escrito em caneta bic preta

para mostrar e ler aos outros na parada de ônibus

mas é de uma feiurinha tão agradável que até dói

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