Antônio Marcus Alves de Sousa é doutor em Sociologia e mestre em comunicação social pela Universidade de Brasília. Publicou dois livros de poemas, "O Eterno e o provisório" e "Vírus e o anjo de Van Gogh". Atualmene preside a Fundação Cultural de João Pessoa.
Um dia fui ligar o carro
Ele estava cheio de adubo e florescia
Um cheiro de gasolina
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FIEL DAS PALAVRAS
Escrevi um romance de 90 páginas
O editor queria deixar com 10.
Virou conto.
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O PRIMEIRO POEMA
Assim eu quereria o meu primeiro poema:
Que tivesse a leveza da velha caravela
Que risca efêmera o mar.
Tua pele, rascunho de elísios.
Tua palma, chaga da morte.
Teu segredo: as noites em que se ouvia ladrares famintos, flagelados.
Quereria também o mais contido vestígio de vida
Presente na estrela mais límpida,
Que aos céus mais límpidos cega
E tinge, em pleno, o dezembro mais turvo.
Quereria a ternura, mesmo que seca,
Mesmo que ríspida seja; mesmo que anule
E enseje a distância entre o ser e o nada
Que de entre a semente e o fruto viceja.
Cantos órficos, não.
Quero o mundo em colisão.
A vida em colisão.
E da morte, a mais corriqueira:
Aquela que abate aves,
Constelações,
Vermes,
Homens,
Cactos.
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OS COCAIS
Sob o clarão diurno que ilumina
O solo terroso, medido a régua e jargão,
E na rigidez de pedras em colóquio,
Inúmeras, rancorosas, mas providas
Da espera que habita os minérios
Os cocais moldam o informe, oferta
Infértil e que, prenhe de mar, calca
A tudo numa ruína única: cerco de si, vigília do nada,
Sob este clarão, ergue-se, da vala dos deuses,
E contra o muro prenhe de bloqueios,
Os cocais selvagens, a captar a benevolência do vento.
Em pose altiva, fincando um retrato seu. Na raiz grunhe um
Tiro de máquina. Desta terra
Não esperar nada, saber
Das tramoias que a cerceiam;
Afinal, é dia, e certeiro
Baixa o sol, ilumina o grosso porte, remembrando
Quem melhor servia aos cuidados
Dos que nas mãos segredam o escarro
Para, não dando as caras,
Lançar à face escrava.
Um coqueiro ergue-se, pretensioso,
Ergue-se sobre as casas, que o cultuam
E lançam no ventre seu
O imprestável desejo de gente.
Pois ele é deus a catar a fora
Os olhos civis
De quem não quer, desta terra,
Ir embora.
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ÉPICO
Este poema era para ser longo
Tão longo quanto a Divina Comédia.
Disse tudo.
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