segunda-feira, 10 de abril de 2023

Marcus Alves

 Antônio Marcus Alves de Sousa é doutor em Sociologia e mestre em comunicação social pela Universidade de Brasília. Publicou dois livros de poemas, "O Eterno e o provisório" e "Vírus e o anjo de Van Gogh". Atualmene preside a Fundação Cultural de João Pessoa.


 QUARENTENA II


Um dia fui ligar o carro

Ele estava cheio de adubo e florescia

Um cheiro de gasolina




*****




FIEL DAS PALAVRAS


Escrevi um romance de 90 páginas

O editor queria deixar com 10.

Virou conto.




*****



O PRIMEIRO POEMA

Assim eu quereria o meu primeiro poema:

 

Que tivesse a leveza da velha caravela

Que risca efêmera o mar.

Tua pele, rascunho de elísios.

Tua palma, chaga da morte.

Teu segredo: as noites em que se ouvia ladrares famintos, flagelados.

 

Quereria também o mais contido vestígio de vida

Presente na estrela mais límpida,

Que aos céus mais límpidos cega

E tinge, em pleno, o dezembro mais turvo.

 

Quereria a ternura, mesmo que seca,

Mesmo que ríspida seja; mesmo que anule

E enseje a distância entre o ser e o nada

Que de entre a semente e o fruto viceja.

 

Cantos órficos, não.

Quero o mundo em colisão.

A vida em colisão.

 

E da morte, a mais corriqueira:

Aquela que abate aves,

Constelações,

Vermes,

Homens,

Cactos.




*****




OS COCAIS

Sob o clarão diurno que ilumina

O solo terroso, medido a régua e jargão,

E na rigidez de pedras em colóquio,

Inúmeras, rancorosas, mas providas

Da espera que habita os minérios

 

Os cocais moldam o informe, oferta

Infértil e que, prenhe de mar, calca

A tudo numa ruína única: cerco de si, vigília do nada,

 

Sob este clarão, ergue-se, da vala dos deuses,

E contra o muro prenhe de bloqueios,

Os cocais selvagens, a captar a benevolência do vento.

Em pose altiva, fincando um retrato seu. Na raiz grunhe um

Tiro de máquina. Desta terra

Não esperar nada, saber

Das tramoias que a cerceiam;

Afinal, é dia, e certeiro

Baixa o sol, ilumina o grosso porte, remembrando

Quem melhor servia aos cuidados

Dos que nas mãos segredam o escarro

Para, não dando as caras,

Lançar à face escrava.

 

Um coqueiro ergue-se, pretensioso,

Ergue-se sobre as casas, que o cultuam

E lançam no ventre seu

O imprestável desejo de gente.

 

Pois ele é deus a catar a fora

Os olhos civis

De quem não quer, desta terra,

Ir embora.




*****




ÉPICO

Este poema era para ser longo

Tão longo quanto a Divina Comédia.

Disse tudo.

 

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