Vanildo Brito (1937/2008) nasceu em Monteiro-Pb e viveu em João Pessoa-Pb. Foi filósofo poeta e escritor. Foi professor de Filosofia da UFPB. Publicou diversos livros, entre eles destacamos A construção dos mitos, Memorial Poético, Duplo sinal das horas, Livro das Paisagens e Selecta Carmina – Poesia Seleta. Era poliglota. Além do Português, dominava o Inglês, o Francês, o Italiano, e um pouco de Alemão, Esperanto, e Interlíngua.
DÉCIMA-QUINTA
A vida tece destinos
quando te encontro;
A vid nasce de novo
quando te vejo;
A vida entoa seu canto
quando te toco.
A vida peneriza
porque te amo.
*****
O POEMA
Meu poema é semente
antecipada no tempo:
cardume de palavras
no mar do meu pensamento.
Abandonado ao vento,
jogado à vaga da sorte,
espera germinação,
espera talvez, a morte.
*****
A RAÇA-MÃE E SUAS GEOGRAFIAS
Já sepultas estão. Porto sem caís,
o Planeta contempla as suas luas
sulcando o sulco amargo dos canais.
A Raça-Mãe rumina o seu degredo.
Aquém no tempo, naves ancoradas —
Syrtis Major, Calixto, Ganimedes —
ó memória nas rotas orbitada!
Agora a Raça-Mãe ante os humanos:
o milenar e repetido encontro.
Há um gosto de tempo e olhos bebendo
o céu violeta, os gelos e as montanhas.
Como cinza estrelar na imensa tarde
a morte em Marte seus desertos arde.
*****
Metamorphoseon
A fábula
desfeita se refaz
no encontro das memórias redivivas;
volta o verde das chuvas, volta o aroma
vegetal das espigas.
Por sobre o
mar a lua ensanguentada
aderna lenta como nave bêbeda;
já se lhe pode ver a luz mastreada
entre a luz das estrelas.
Aquém a Terra
obscura e imensurável
tecendo as teias do seu próprio passo;
nascem formas e vozes no silêncio
do luminoso espaço.
A fábula
refeita se desfaz
nas pedras turvas desse cais salobre;
vai-se a lua de sangue, naufragada
sobre as líquidas flores.
Das praias
dessas ilhas encantadas
eu não mais partirei em torno ao vento;
contemplo a luza da sempiterna Face
renovada no tempo.
*****
Aligerum mare
O nauta
despe-se das âncoras, despede-se
do imóvel cais, a voz dos ventos pressagia.
Não teme as marés de sizígia
inflando os líquidos canais. O leme
inventa-lhe os caminhos.
Pelagus patet,
dixit. E se parte
para o espaço do grande mar aberto
alertas carata de remotas rotas.
No coração as velas da
lesta navegação. A nave plange
seus madeiros. Aquém as rocas
roídas de salsugem.
Lento, o
silêncio doura
o dorso alígero da tarde.
O sol, fruto maduro, arde
seu rastro na pele do tempo.
A viagem revela o seu rosto
curtido pelo sol da febre marinheira.
E as ilhas se revelam no navego
da quilha, sobre o azul do fundo pélago.
Mui brancas,
as gaivotas gritam
seu canto gaio
Nenhum comentário:
Postar um comentário