segunda-feira, 27 de março de 2023

Vanildo Brito

Vanildo Brito (1937/2008) nasceu em Monteiro-Pb e viveu em João Pessoa-Pb. Foi filósofo poeta e escritor. Foi professor de Filosofia da UFPB. Publicou diversos livros, entre eles destacamos A construção dos mitos, Memorial Poético, Duplo sinal das horas, Livro das Paisagens e Selecta Carmina – Poesia Seleta. Era poliglota. Além do Português, dominava o Inglês, o Francês, o Italiano, e um pouco de Alemão, Esperanto, e Interlíngua.


 

 

 

 

DÉCIMA-QUINTA


A vida tece destinos
quando te encontro;

A vid nasce de novo
quando te vejo;

A vida entoa seu canto
quando te toco.

A vida peneriza
porque te amo.

 

 

*****

 

 

O POEMA


Meu poema é semente
antecipada no tempo:
cardume de palavras
no mar do meu pensamento.

Abandonado ao vento,
jogado à vaga da sorte,
espera germinação,
espera talvez, a morte.

 

 

*****


A RAÇA-MÃE E SUAS GEOGRAFIAS

 

Já sepultas estão. Porto sem caís,

o Planeta contempla as suas luas

sulcando o sulco amargo dos canais.

 

A Raça-Mãe rumina o seu degredo.

Aquém no tempo, naves ancoradas —

Syrtis Major, Calixto, Ganimedes —

ó memória nas rotas orbitada!

 

Agora a Raça-Mãe ante os humanos:

o milenar e repetido encontro.

Há um gosto de tempo e olhos bebendo

o céu violeta, os gelos e as montanhas.

 

Como cinza estrelar na imensa tarde

a morte em Marte seus desertos arde.

 

 

 

*****

 

 

 

Metamorphoseon

        

A fábula desfeita se refaz
no encontro das memórias redivivas;
volta o verde das chuvas, volta o aroma
vegetal das espigas.

Por sobre o mar a lua ensanguentada
aderna lenta como nave bêbeda;
já se lhe pode ver a luz mastreada
entre a luz das estrelas.

Aquém a Terra obscura e imensurável
tecendo as teias do seu próprio passo;
nascem formas e vozes no silêncio
do luminoso espaço.

A fábula refeita se desfaz
nas pedras turvas desse cais salobre;
vai-se a lua de sangue, naufragada
sobre as líquidas flores.

Das praias dessas ilhas encantadas
eu não mais partirei em torno ao vento;
contemplo a luza da sempiterna Face
renovada no tempo.

 

 

*****

 

        

Aligerum mare

 

O nauta despe-se das âncoras, despede-se
do imóvel cais, a voz dos ventos pressagia.
Não teme as marés de sizígia
inflando os líquidos canais.  O leme
inventa-lhe os caminhos.

Pelagus patet, dixit. E se parte
para o espaço do grande mar aberto
alertas carata de remotas rotas.
No coração as velas da
lesta navegação. A nave plange
seus madeiros. Aquém as rocas
roídas de salsugem.

Lento, o silêncio doura
o dorso alígero da tarde.
O sol, fruto maduro, arde
seu rastro na pele do tempo.
A viagem revela o seu rosto
curtido pelo sol da febre marinheira.
E as ilhas se revelam no navego
da quilha, sobre o azul do fundo pélago.

Mui brancas, as gaivotas gritam
seu canto gaio

 

 

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