Jon Moreira nasceu em João Pessoa é poeta,
professor e doutor em Letras pela UFPB. Publicou o livro Anjo Diluidor e eestá
atualmente na produção do segundo livro de poemas. Sua poesia pode ser
encontrada em diversas revistas e sites de literatura.
Os Anjos
que são poetas mortos
carbono, comida pra bicho
o breu em que vivem
a própria terra infecunda
pó pedra dejetos de arte
que não são poetas mortos
esterco letrado de árvores
pensamento verde
lavouras poéticas
carvalhos frondosos
soletrando poesias
palmo a palmo no chão preto
Higgs
Minúsculo
deus
Filho, pai e espírito
Do Nada
Da colisão irreversível
Fez-se pão, vinho
Massa
Fez-se Deus
Corpo da mesma
Matéria do mais
Remoto Eu
Melancólica Molécula
Seus filhos paridos
sem pai
Um dia que já não bastava
ser-se
Adão, sentindo-se só
Criou Deus.
Casta
É
de estirpe todo o adorno com que saem os verbos.
Vogais rasgam sempre, ditos arranhados dos dentes.
A casca e o laço dado dizem tudo do caroço.
O corpo é de carne pouca, nem sei se tanto.
Disto ou doutro há cerrar o queixo,
cessar assim a raiva.
Sendo de todo o avesso do que refrata.
Não por mal, nem por outra coisa,
apenas por o ser.
A
Primeira Manhã
O
sol
-como num clichê de novela-
esperou por nós
e a sós, nascemos.
O silêncio nos foi pai
ao redor das bocas
calou-nos a sete nós
trancando um tão por
dentro d’outro
que ressoa num
a outra muda voz.
Recolheita
para André Ricardo Aguiar
A cana chora no estio do verso
e olha, onisciente,
foice e chão.
palavra cortada
putrefato, adubo, humos,
E o lavrador -que já não lavra-
talha o baixo e a cisma
lhe abandona a raiz
Flor sem talo paira
infecunda
em perpétuo desvão
A dor na palavra morta
É Saara num
grão de mar.
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