quarta-feira, 8 de março de 2023

Jon Moreira

  

 

Jon Moreira nasceu em João Pessoa é poeta, professor e doutor em Letras pela UFPB. Publicou o livro Anjo Diluidor e eestá atualmente na produção do segundo livro de poemas. Sua poesia pode ser encontrada em diversas revistas e sites de literatura.

 

 


 

 


Os Anjos


que são poetas mortos
carbono, comida pra bicho
o breu em que vivem
a própria terra infecunda
pó pedra dejetos de arte 
que não são poetas mortos
esterco letrado de árvores
pensamento verde
lavouras poéticas
carvalhos frondosos 
soletrando poesias
palmo a palmo no chão preto

 

 

 

 

Higgs

 

 

Minúsculo deus
Filho, pai e espírito 
Do Nada

Da colisão irreversível
Fez-se pão, vinho
Massa

Fez-se Deus
Corpo da mesma
Matéria do mais
Remoto Eu

Melancólica Molécula
Seus filhos paridos
sem pai

Um dia que já não bastava
ser-se
Adão, sentindo-se só
Criou Deus.

 

 

 

 


Casta

 

 

É de estirpe todo o adorno com que saem os verbos.
Vogais rasgam sempre, ditos arranhados dos dentes.
A casca e o laço dado dizem tudo do caroço.
O corpo é de carne pouca, nem sei se tanto.
Disto ou doutro há cerrar o queixo,
cessar assim a raiva.

Sendo de todo o avesso do que refrata.
Não por mal, nem por outra coisa,
apenas por o ser.

 

 

 

 

 

A Primeira Manhã

 

 

O sol
-como num clichê de novela-
esperou por nós
e a sós, nascemos.

O silêncio nos foi pai
ao redor das bocas
calou-nos a sete nós
trancando um tão por
dentro d’outro
que ressoa num
a outra muda voz.

 

 

 

 


Recolheita
para André Ricardo Aguiar


A cana chora no estio do verso
e olha, onisciente,
foice e chão.

palavra cortada
putrefato, adubo, humos,

E o lavrador -que já não lavra-
talha o baixo e a cisma
lhe abandona a raiz

Flor sem talo paira
infecunda
em perpétuo desvão

A dor na palavra morta
É Saara num
           grão de mar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...