quarta-feira, 1 de março de 2023

Chico Cesar

 Chico Cesar nasceu em Catolé do Rocha(Pb) e reside em São Paulo. É Jornalista formado pela UFPB, poeta, cantor, compositorcom diversos álbuns gravados. Publicou O agente laranja e a maçã do amor (infantil), Versos pornográficos e Cantáteis – cantos elegíacos de amozade (audiolivro e livro).


 



1. gozo

 

Com a palavra gozo na boca
deixou escorrê-la ao peito
sem outro jeito:
umbigo virilha coxas
e entre as pernas gozo

gozo na semente
gozo nascente
dormente
na gente



2. cetro

ereto agora
o cetro em ti poria
coo se fora pura e puta poesia
recitar e excitar
até que esporraria
tudo em teus grandes lábios de veludo
depois ao cubo
ao cu iria
titilando as tetas de biquinhos duros como setas
e aí meu amor em ti
eu de mim me acabaria



8. fruta

mordo sua fruta roxa
suada
inchada
cheirosa rosa cheia
o sumo desce pela coxa
a língua acompanha
gota a gota
o olhar fixo no botão aceso
o olfato embriagado

um dedo ousado insinua-se atrás
e é mordido pelo seu piscar
a língua volta
nova dança até o novo jorro
(vem amor vem
que eu agora morro)



10. sem te dares conta

quisera estar sob tua escrivaninha
lambendo entre tuas pernas
enquanto escreves pra mim
(a saia levantada, afastada a calcinha)
estar aí sem te dares conta
sem tua plena consciência nem consentimento
sentindo o cheiro de tuas palavras
e teus cabelos repuxando meus cabelos
crispados os dedos
arrepiados os cabelos
sem te dares conta

morder tuas coxas
lamber os joelhos e atrás deles
sangrar a língua de tanto singrar
esse ir e vir de acompanhar seu pensamento
as palpitações e contrações do teu sexo desejoso
sem te dares conta
até o ponto final
(sem te dares conta)



14. candeeiro

o candeeiro do desejo aceso
ilumina a cumeeira:
é muito pra mim essa rede inteira



18. pastoral

o sol inclina para o monte
o capim se anima de orvalhos
a garoa sussurra brisa no ouvido da garota
eles se percebem na natureza
nos grãos de areia e pólen
no farfalhar das borboletas em trânsito
nas ondas em que se espreguiçam atlânticas
encontram-se onde não há esquinas
ouvem-se entre os ruídos do que é tudo
e amalgamam-se soltos
como nos sonhos que abrem os olhos e os poros
que arrebitam desejos
e arrebentam o balde dos açudes antigos:
riachuelos desandam



20. primeiro soneto

clama clama clama por mim ser visitada
aquela que à distância estou amando
sempre me pergunta quando quando
virei eu bater em sua morada

sua voz tremente desejante delicada
a minha alma vem há muito dominando
é a voz pura de uma mulher clamando
e que no fundo no fundo se sabe desejada

ah... ela sabe que ao longe também clamo
para estar junto dela e mesmo dentro
pra servi-la de escravo e ser seu amo

se eu for e ela abrir a porta sei que entro
mas agora distante eu que a chamo
pois eu moro na praia e ela no centro



21. sempre alerta

desejos de mulher
atendê-los
quem não quer



24. jerusalém

debora tem uma flor rosa entre as pernas
ela é toda um pouco rosa mas a flor é mais
essa flor onde debora é mais cheirosa
mais ainda quando se molha dela mesma
de sua própria chuva que é de dentro pra mais dentro}
e pra fora transborda

debora agora está plantada
no jardim das delícias em Jerusalém
plantada porque quer
quando quiser sairá pelas ruas
com a rosa molhada entre as pernas
toda ela rosa cheirosa
deixando um rastro de lua

debora demora a retirar-se
e quando vai ficar na umidade do ar
e na pedra do banco
regada pela chuva
e assim permanece 

 

 




CANTÁTEIS
Cantos elegíacos de amozade
Xilogravuras de João Sánchez
Rio de Janeiro: Garamond, 2005
ISBN 885-7617-066-3 

2

 

eu pra cantar não vacilo
digo isso digo aquilo
digo tudo que se disse
digo veneza recife
fortaleza que se abre
quero que o mundo se acabe
se não disser o que sinto
digo a verdade, minto
vertente me arrebata
minha voz é serenata
labareda e labirinto

 

 

24

 

o megafone do mundo
ômega fonema fundo
vulcão transboquiaberto
ogiva que explode perto
clitóris saliva glande
bolha de gozo que expande
os andes, os abricós
abrigai a todos nós
abri o eu da memória
vamos, deixe de história
e me diga "enfim, sós"

 

 

54

 

às vezes falta juízo
soez o gato sem guiso
vem miar e pedir leite
eu só peço que aceite
o atarantado pedido
asa de anjo caído
sem rede de proteção
cacos de aura no chão
o karma estatelado
vem me salvar do pecado
cometido por adão



61

vejo dor de gente adulta
no invisível que se avulta
e na vulva da quimeras
vejo oitocentas megeras
disputando um consolo
catapio e fura-bolo
velam o cadáver do cão
alaúde e violão
cadenciando o embalo
enxergo tudo e me calo
não vejo minha paixão


127

páginas finais cantáteis
as prosápias versáteis
os tremeliques ferrenhos
os trancelins advenhos
a reportagem de mim
história do amor sem fim
serafins e clarinetas
grutas gritos grotas gretas
é o amor uma renda?
profunda infinda fenda?
vaca de divinas tetas?

 


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