Marcos Pereira dos Anjos nasceu em João Pessoa. Com “Alguns Gestos”, lançado em 1963, deu início ao Grupo Sanhauá, cuja maior preocupação foi tirar o escritor provinciano do ineditismo e que estava relegado. A seguir, editou “Canto Cão”, de Anco Márcio; “O Ataque”, de Antônio Serafim; “Linha de Limite” de Emmanuel Ponce de Leon Jr e, além de outros livros, a revista “Couro”, todos essencialmente artesanais e mimeografados, características ao Grupo Sanhauá.
ALGUNS GESTOS
(1962-1963)
Do
surgir-se
sentir-se
sumir-se
a b e r t u r a
o amor é barco
onde aportam distâncias
surge da verticalidade
— este gesto
seu caminho é o barco
— este momento
sua distância repousará
— este silêncio
as cores
o tempo
o homem
— por que não inventamos
um outro dia?
no amor
o homem é gesto
que silencia
— é acidental sua crueldade
o homem
só distâncias
só silêncio de se ir
— a ilusão de se estar
logo há de surgir
uma manhã de silêncio
para a edificação do homem
ao sentir-se
aspira o esquecer-se
e côncavo o pensar
— não há nada de essencial
no existir
suas mãos fluem
— murmúrios
— evocam-se silêncios
repetem-se-lhe os gestos
caminha o ser
final
na limitação
flutua
a serenidade do ser
— o aniquilar-se
*****
OUTROS GESTOS DE EXISTIR-SE
o braço
nunca pesa
na terra
que se planta
- o braço espera
toda vez que gera
busca o braço
onde
o rude pranto
reza
outros braços
onde silêncios
chuvas-sêmen
à terra cantam
um braço
se ergue
- o braço
fixo-horizonte
à boca alimento
o homem no pranto
o homem no canto
o homem no amor
o homem na terra
- a terra do homem
o homem no homem
- escravo do homem
a terra é o homem
- sua liberdade
- seu pranto
- seu canto
- seu amor
se fosse esse rio
se fosse essa rua
se fosse essa casa
é simplesmente um homem
que é também viaduto
em si fluem cidades
condensam-se postes
reflete-lhe os bondes
espia-lhe os anúncios
nu risonho
é simplesmente um homem
sozinho na ponte
Nenhum comentário:
Postar um comentário