terça-feira, 28 de março de 2023

Dione Barreto

 Dione Barreto. É poeta, ex-dirigente cultural e Psicóloga Clínica. Paraibana de Campina Grande, atuou na vida cultural do Recife de 1977 a 2019. Foi presidente da UBE/PE, do Conselho de Cultura do Recife e Diretora de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, realizando parcerias com instituições de cultura dos nove estados do Nordeste do Brasil, além de Portugal, Galícia e os sete países de língua portuguesa (Projetos CumpliCidades/Prêmio da APCA/SP, Cenalusófona e NordesteS/em parceria com o Sesc Pompeia).

PUBLICOU (poesia): A Noite em que Prolongamos o Sol, Editora Primata, S.Paulo:2023;   Desiguais, Ed. 20-20, Recife, 1994; Do Amor  e suas Perversidades, CEPE, Recife, 1989 (Prêmio Mauro Mota de Poesia/MH); Feitiço do Silêncio, Ed. Autor,  Recife, 1984;rculo Vazio, Ed. Autor, C.Grande, 1973.   INTEGROU uma dezena de antologias de poesia, entre elas: Pernambuco, Terra da Poesia, org. Antônio Campos e Cláudia Cordeiro, ed. IMC/Escrituras, Recife, 2005;  Retratos – A poesia feminina Contemporânea em Pernambuco, org. Eizabeth Angélica Santos Siqueira, Ed. Bagaço/Unicap, Recife, 2004;  e Poetes du Bresil, Aperçu. Realize et Sélection par Lourdes Sarmento. Editions VERECUETOS, Chemins scabreux, revue littéraire, espanhol/franças. Editoria de Paris. Septembre; Foice na Carne, S.Paulo, Alpharrabio Edições/USCS/Instituto Ideia: 2021.

TAMBÉM integra o Dicionário Biobibliográfico de Poetas Pernambucanos, org. Lamartine Morais, Fundarpe, 1993; e o Dicionário Literário da Paraíba, org. Idelette Muzart Fonseca dos Santos. Fundação Casa de Jose Américo/UFPB, 1993. 



OS SOBREVIVENTES


observo cuidadosamente
a mosca que se debate dentro da garrafa de cerveja

admiro seu esforço
mas não tenho pressa com a liberdade
estou ocupada em digerir
os quatro dedos do líquido perdido
e há, sem dúvida,
algum prazer naquela imobilidade

a miséria guarda
seu parentesco estético com a crueldade

 


*****  

 

POEMINHA DE NINGUÉM


: preciso escrever uma carta de amor
mas antes
preciso inventar o amor
pior:
convencer-me

 Do livro DESIGUAIS, Recife, 20-20 Comuinicação e Editora: 1994.



*****

 

DE AMOR MULTIPLICADO
A Fernando Pessoa


se a dor do amor reflete a dor do nada
a dor de alguém no amor multiplicado
somente a dor que se assemelha ao fado
apaga a chama que esse amor maltrata

afora a dor o amor enfim projeta
o drama-em-gente que do espelho fala
o amor na dor de um coração que cala
é deus vencido que dos olhos peca

qual seja a dor o amor decerto livra
a dor antiga do castigo-em-gente
o amor projeta a multidão ausente
e a dor na dor deságua quando pedra

só pela dor o amor marca seu plano
e o tempo nega a dor que quando exata
retira d´alma a mesma dor que mata
e tudo que enlouquece ano após ano

a pedra bruta marca a resistência
e a mesma pedra em outra se transforma
que por ser dupla quer a frágil rocha
trazer o amor a cada nova ausência

Do livro DO AMOR E SUAS PERVERSIDADES, Recife, CEPE/FUNDARPE: 1989. Prêmio Mauro Mota de Poesia/MH.



 *****



A VIDA É METRO


minha mãe marcava o crescer dos oito filhos
desenhando uma escala na parede
- para aprender a cuidar de si, dizia

desde aí, tenho urgências
e faço a vida acordando,
como se morresse

a vida é metro
metragem curtíssima

 

 

***** 

 

 

AMOR DESPERTO


o amor não desperta
ama quem amanhece de amor, primeiro


Do Livro A NOITE EM QUE PROLONGAMOS O SOL, Editora Primata, S. Paulo:2023


 

*****

 

INUTIDÃO


tenho tempo e aprego versos
numa superfície sem solidez.

carrego comigo duas paredes de ventania
e quando avistar os desmamados de nós
arrancaremos bandeiras
e tocaremos, de assobio, a lírica do silêncio
em honra aos corpos estendidos
ao rés de quem arrasta a inutidão

Foice na Carne, S.Paulo, Alpharrabio Edições/USCS/Instituto Ideia: 2021.



***** 



SEXO: FEMININO


eu sou mulher
antiga besta de um aborto mal feito
tirada da costela de adão
por pura ilusão
e se não me falha a memória
como poderia eu estar na história
se o deus que me pariu não era fértil?

eu sou mulher
antiga besta de um aborto mal feito
vim do século zero
gerei o cristo, filho de são josé
e fui uma madalena
aquela tida por puta
e como não?
se jesus também era filho de deus.

eu sou mulher
antiga besta de um aborto mal feito
soberba distração de uma tríade
que se reproduziu de  si mesma
e se designou: pai, filho e espírito santo.

eu sou mulher
e sou
simbologia e mentira histórica.

Do livro FEITIÇO DO SILÊNCIO, Recife, Edição da autora:1984.

 

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