Dione Barreto. É poeta, ex-dirigente cultural e Psicóloga Clínica. Paraibana de Campina Grande, atuou na vida cultural do Recife de 1977 a 2019. Foi presidente da UBE/PE, do Conselho de Cultura do Recife e Diretora de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, realizando parcerias com instituições de cultura dos nove estados do Nordeste do Brasil, além de Portugal, Galícia e os sete países de língua portuguesa (Projetos CumpliCidades/Prêmio da APCA/SP, Cenalusófona e NordesteS/em parceria com o Sesc Pompeia).
PUBLICOU (poesia): A Noite em que Prolongamos o Sol, Editora Primata, S.Paulo:2023; Desiguais, Ed. 20-20, Recife, 1994; Do Amor e suas Perversidades, CEPE, Recife, 1989 (Prêmio Mauro Mota de Poesia/MH); Feitiço do Silêncio, Ed. Autor, Recife, 1984; Círculo Vazio, Ed. Autor, C.Grande, 1973. INTEGROU uma dezena de antologias de poesia, entre elas: Pernambuco, Terra da Poesia, org. Antônio Campos e Cláudia Cordeiro, ed. IMC/Escrituras, Recife, 2005; Retratos – A poesia feminina Contemporânea em Pernambuco, org. Eizabeth Angélica Santos Siqueira, Ed. Bagaço/Unicap, Recife, 2004; e Poetes du Bresil, Aperçu. Realize et Sélection par Lourdes Sarmento. Editions VERECUETOS, Chemins scabreux, revue littéraire, espanhol/franças. Editoria de Paris. Septembre; Foice na Carne, S.Paulo, Alpharrabio Edições/USCS/Instituto Ideia: 2021.
TAMBÉM integra o Dicionário Biobibliográfico de Poetas Pernambucanos, org. Lamartine Morais, Fundarpe, 1993; e o Dicionário Literário da Paraíba, org. Idelette Muzart Fonseca dos Santos. Fundação Casa de Jose Américo/UFPB, 1993.
OS SOBREVIVENTES
observo cuidadosamente
a mosca que se debate
dentro da garrafa de cerveja
admiro seu esforço
mas não tenho pressa com a
liberdade
estou ocupada em digerir
os quatro dedos do líquido
perdido
e há, sem dúvida,
algum prazer naquela
imobilidade
a miséria guarda
seu parentesco estético
com a crueldade
*****
POEMINHA DE NINGUÉM
: preciso escrever uma
carta de amor
mas antes
preciso inventar o amor
pior:
convencer-me
Do livro DESIGUAIS, Recife, 20-20 Comuinicação e Editora: 1994.
*****
DE AMOR MULTIPLICADO
A Fernando Pessoa
se a dor do amor reflete a
dor do nada
a dor de alguém no amor
multiplicado
somente a dor que se
assemelha ao fado
apaga a chama que esse
amor maltrata
afora a dor o amor enfim
projeta
o drama-em-gente que do
espelho fala
o amor na dor de um
coração que cala
é deus vencido que dos
olhos peca
qual seja a dor o amor
decerto livra
a dor antiga do
castigo-em-gente
o amor projeta a multidão
ausente
e a dor na dor deságua
quando pedra
só pela dor o amor marca
seu plano
e o tempo nega a dor que
quando exata
retira d´alma a mesma dor
que mata
e tudo que enlouquece ano
após ano
a pedra bruta marca a
resistência
e a mesma pedra em outra
se transforma
que por ser dupla quer a
frágil rocha
trazer o amor a cada nova
ausência
Do livro DO AMOR E SUAS PERVERSIDADES, Recife, CEPE/FUNDARPE: 1989. Prêmio Mauro Mota de Poesia/MH.
*****
A VIDA É METRO
minha mãe marcava o
crescer dos oito filhos
desenhando uma escala na
parede
- para aprender a cuidar
de si, dizia
desde aí, tenho urgências
e faço a vida acordando,
como se morresse
a vida é metro
metragem curtíssima
*****
AMOR DESPERTO
o amor não desperta
ama quem amanhece de amor,
primeiro
Do Livro A NOITE EM QUE
PROLONGAMOS O SOL, Editora Primata, S. Paulo:2023
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INUTIDÃO
tenho tempo e aprego
versos
numa superfície sem
solidez.
carrego comigo duas
paredes de ventania
e quando avistar os
desmamados de nós
arrancaremos bandeiras
e tocaremos, de assobio, a
lírica do silêncio
em honra aos corpos
estendidos
ao rés de quem arrasta a
inutidão
Foice na Carne, S.Paulo,
Alpharrabio Edições/USCS/Instituto Ideia: 2021.
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SEXO: FEMININO
eu sou mulher
antiga besta de um aborto
mal feito
tirada da costela de adão
por pura ilusão
e se não me falha a
memória
como poderia eu estar na
história
se o deus que me pariu não
era fértil?
eu sou mulher
antiga besta de um aborto
mal feito
vim do século zero
gerei o cristo, filho de
são josé
e fui uma madalena
aquela tida por puta
e como não?
se jesus também era filho
de deus.
eu sou mulher
antiga besta de um aborto
mal feito
soberba distração de uma
tríade
que se reproduziu de si mesma
e se designou: pai, filho
e espírito santo.
eu sou mulher
e sou
simbologia e mentira
histórica.
Do livro FEITIÇO DO SILÊNCIO, Recife, Edição da autora:1984.
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