Leonardo Almeida Filho (LAF), Campina Grande/Paraíba, 1960, professor, escritor, músico. Mestre em literatura brasileira pela Universidade de Brasília (2002), publicou Graciliano Ramos e o mundo interior: o desvão imenso do espírito (EdUnB, 2008), O livro de Loraine (Edição do Autor, romance, 1998), logomaquia: um manefasto (híbrido, 2008); Nebulosa fauna & outras histórias perversas (e-galaxia, contos, 2014 e nova edição impressa em 2021), Babelical (poemas, Editora Patuá, 2018), Nessa boca que te beija (romance, Editora Patuá, 2019), Grande Mar Oceano (romance, Editora Gato Bravo/Portugal, 2019 – Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, 2019), Tutano (poesia, Editora Patuá, 2020), Os possessos (romance, Editora Patuá, 2021), além de contos, crônicas e poemas em coletâneas, revistas e jornais.
Como
músico (violonista e compositor) participou de diversos festivais e gravou o CD
Papo de Boteco, uma produção independente, em 2017, disponível no Spotify e na
sua página no Youtube.
Blog de poesia: www.poesianosdentes.blogspot.com.br
e-mail:
leo.almeidafilho@gmail.com
Fabiano
A cama de seu
Tomás
me encanta, ela
me dizia
ela afirmava e
sorria
nenhuma cama se
equipara
à cama de seu
Tomás.
Sinhá, quem
sabe um dia
te compro uma
cama igual
tão robusta e
tão macia
tudo isso eu
respondia
por favor não
leva a mal.
Por hora,
sigamos no embalo
Da rede nessas
paredes
Tenha fé e
paciência
prometo, lhe compro
um dia
a cama pra tua
alegria
Me deitarei no
teu corpo
Estirado na
cama nova
Novinha,
novinha em folha
E faremos o
nosso embalo
Nos corpos
juntos, suados.
E ela então me
perguntava
Sobre a cama
prometida:
igual a de seu
Tomás?
Aquilo sim é
que é cama
Onde se sonha e
se ama.
E eu querendo
um sorriso
Nos lábios da
minha amada
Dizia: Sinhá,
não chore
Terás sua cama
nova
Verá que ela
não tarda
Não atentei
para o fato
De como tomara
ciência
Da cama de seu
Tomás?
Na certa
deitou-se um dia
De lá não saiu
jamais.
A Minha Sinhá
não foi minha
Por que nunca
fui capaz
De matar a sua
sede
No embalo da
minha rede
como a cama de
seu Tomás.
Irrecuperável
Para meus velhos
Esse jovem
que me olha do
espelho
traz dentro de
si um velho
com seu
silêncio
suas dores,
suas cãs,
seu amargor
Guarda na alma
um desses
que mijam nas
calças
e andam
claudicando
divagando
devagar.
Esse velho
insone
que habita o
espírito
com seu cheiro
de fralda descartável
caixinha
semanais de remédios
fotos de netos
e muitas receitas médicas
pressente o
futuro.
Desencantado,
sabe que a vida
lhe foge pelos
dedos
a cada manhã
e chora
escondido
lamentando o
fim que se aproxima.
Esse jovem
que me fita
assustado
compreende a
tragédia
e por isso
escreve,
escreve, escreve
tudo é tão
bonito
tão perfeito,
tão precioso
tudo é tão raro
e valioso
que dói perder
para sempre
este momento,
este instante
irrecuperável.
Medusa
Para Mariele Franco
Que medo é esse
que o falo tem
de não falar?
O que lhe falta
além do fato de
que a falha
reside em
acreditar
que a
existência de sua fala
pressupõe fazer
calar?
O falo existe
ao fazer
silenciar?
Que teme o falo
a fêmea fala
que conquista
sem pedir
licença ou benção
o que é seu,
sempre foi seu,
o seu lugar?
Cortar a cabeça
para cortar a
língua?
Essa a medida
do falo para, à
míngua
deixar a fala
que o amedronta
em seus
fantasmas mais terríveis
e que ele crê
vir lhe castrar?
que há
incompletude em seu falar?
E que o que ele
busca é a fala fêmea
ombreando-lhe
na estrada
pela longa
caminhada
completando o
que lhe falta
a plenitude ao
falar.
Nosso Leonardo Almeida, poeta, cronista, romancista e compositor dos bons, sempre nos brinda com sua escrita.
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