segunda-feira, 13 de março de 2023

Leonardo Almeida Filho

Leonardo Almeida Filho (LAF), Campina Grande/Paraíba, 1960, professor, escritor, músico. Mestre em literatura brasileira pela Universidade de Brasília (2002), publicou Graciliano Ramos e o mundo interior: o desvão imenso do espírito (EdUnB, 2008), O livro de Loraine (Edição do Autor, romance, 1998), logomaquia: um manefasto (híbrido, 2008); Nebulosa fauna & outras histórias perversas (e-galaxia, contos, 2014 e nova edição impressa em 2021), Babelical (poemas, Editora Patuá, 2018), Nessa boca que te beija (romance, Editora Patuá, 2019), Grande Mar Oceano (romance, Editora Gato Bravo/Portugal, 2019 – Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, 2019), Tutano (poesia, Editora Patuá, 2020), Os possessos (romance, Editora Patuá, 2021), além de contos, crônicas e poemas em coletâneas, revistas e jornais.

Como músico (violonista e compositor) participou de diversos festivais e gravou o CD Papo de Boteco, uma produção independente, em 2017, disponível no Spotify e na sua página no Youtube.

 

Blog de poesia: www.poesianosdentes.blogspot.com.br

e-mail: leo.almeidafilho@gmail.com





Fabiano

 

 

A cama de seu Tomás
me encanta, ela me dizia
ela afirmava e sorria
nenhuma cama se equipara
à cama de seu Tomás. 

Sinhá, quem sabe um dia
te compro uma cama igual
tão robusta e tão macia
tudo isso eu respondia
por favor não leva a mal.

Por hora, sigamos no embalo
Da rede nessas paredes
Tenha fé e paciência
prometo, lhe compro um dia
a cama pra tua alegria 

Me deitarei no teu corpo
Estirado na cama nova
Novinha, novinha em folha
E faremos o nosso embalo
Nos corpos juntos, suados.

E ela então me perguntava
Sobre a cama prometida:
igual a de seu Tomás?
Aquilo sim é que é cama
Onde se sonha e se ama. 

E eu querendo um sorriso
Nos lábios da minha amada
Dizia: Sinhá, não chore
Terás sua cama nova
Verá que ela não tarda 

Não atentei para o fato
De como tomara ciência
Da cama de seu Tomás?
Na certa deitou-se um dia
De lá não saiu jamais. 

A Minha Sinhá não foi minha
Por que nunca fui capaz
De matar a sua sede
No embalo da minha rede
como a cama de seu Tomás.

 

Irrecuperável

                              Para meus velhos

 

Esse jovem
que me olha do espelho
traz dentro de si um velho
com seu silêncio
suas dores, suas cãs,
seu amargor

Guarda na alma
um desses
que mijam nas calças
e andam claudicando
divagando devagar. 

Esse velho insone
que habita o espírito
com seu cheiro de fralda descartável
caixinha semanais de remédios
fotos de netos e muitas receitas médicas
pressente o futuro. 

Desencantado,
sabe que a vida
lhe foge pelos dedos
a cada manhã
e chora escondido
lamentando o fim que se aproxima. 

Esse jovem
que me fita assustado
compreende a tragédia
e por isso
escreve, escreve, escreve

 Sabe que
tudo é tão bonito
tão perfeito, tão precioso
tudo é tão raro e valioso
que dói perder para sempre
este momento,
este instante
irrecuperável.


 

Medusa

                Para Mariele Franco

 

Que medo é esse
que o falo tem de não falar?

O que lhe falta
além do fato de que a falha
reside em acreditar
que a existência de sua fala
pressupõe fazer calar? 

O falo existe
ao fazer silenciar? 

Que teme o falo
a fêmea fala que conquista
sem pedir licença ou benção
o que é seu, sempre foi seu,
o seu lugar?

Cortar a cabeça
para cortar a língua?

Essa a medida
do falo para, à míngua
deixar a fala que o amedronta
em seus fantasmas mais terríveis
e que ele crê vir lhe castrar?

 Não vê o falo
que há incompletude em seu falar?

E que o que ele busca é a fala fêmea
ombreando-lhe na estrada
pela longa caminhada
completando o que lhe falta
a plenitude ao falar.

 

 

Um comentário:

  1. Nosso Leonardo Almeida, poeta, cronista, romancista e compositor dos bons, sempre nos brinda com sua escrita.

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Francc Neto

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