segunda-feira, 20 de março de 2023

José Laurentino

José Laurentino nasceu no Sítio das Antas em Puxinanã-Pb em 1943 e faleceu em 2106. Poeta, agricultor e cordelista, publicou diversos livros. Entrre eles, Coletânea Poética de Zé Laurentino; Sertão, humor e Poesia/5 edições (1990); Poemas, prosas e glosas (1988); Meus Versos Feitos na Roça; Carta de Matuto; Na Cadeira do Dentista; Poesia do Sertão; Dois Poetas Dois Cantares (Parceria Edvaldo Perico); A Grande História de Amor de Edmundo e Maria (Cordel); Poemas, Prosas e Glosas [1988]. (Maria do Socorro Cardoso Xavier). E Balada de um poeta cego.







O POETA E A PALAVRA 

 

O poeta e a palavra são farinha do mesmo saco.
A palavra está para o poeta,
assim como a chuva está para o arco-íris.

A palavra na cabeça do poeta,
A palavra na caneta do poeta,
A palavra tinta no pincel do poeta,
A palavra vida no coração do poeta,
A palavra punhal, palavra-dor,
palavra comida, palavra vinho no bucho do poeta.

A palavra nomeia.
O poeta passeia com a palavra.
O poeta namora a palavra.
O poeta come a palavra,
transa com ela, goza e... morre.

Morre o poeta com a palavra.
O poeta da palavra não morre.
A palavra do poeta não morre.
O poeta não morre,
... vira pura palavra!

 

(***) 




O CARNAVAL

 

No meu Brasil, em geral
quando chega o carnaval
o dinheiro se consome
é o rico queimando o cobre
e a gente avistando pobre
se acabando de fome. 

Enquanto um folião
gasta sem ter precisão
um milhão com uma roupa
se vê um pobre coitado
semi-nu. agasalhado
com um pedaço de estopa. 

Enquanto aqueles que saldam
bons salários se esbaldam
nos prazeres da folia
se vê um mendigo triste
que aquela cena assiste
com a barriga vazia.

Com as suas vestes rotas
o pranto lhe cai em gotas
e ele diz com razão
 ao passar pelos palcos
 ah! se envés de pó de talcos
 rne dessem um taco de pão. 

 

 

 (***)

 

Tem certas coisas seu moço
Que de bom gosto eu não faço
É dá esmola a quem pede
Com santo embaixo do braço.

Pois eu acho que os santos
Não tem muita precisão
Afinal eu nunca vi
Um santo comer feijão.

Mas por arte de pecado
Ou por minha pouca fé
Todo dia lá em casa
Passa um velho andando a pé
Por sinal muito feliz
Chega em minha porta e diz
Esmola pra São José!

E o diabo da mulher
Que é muito da alcoviteira
Nunca vi uma mulher
Que não seja rezadeira
Adquire um tanto ou quanto
Corre vai dá ao santo
Pra o velho fazer a feira.

Muitas vezes logo cedinho
Se eu vou tomar o café
Quando dou fé o grito
Esmola pra São José!

Isto foi me enchendo o saco
Cada dia enchendo mais
Um dia cheguei em casa
Com a braguilha pra trás.

Sentei num sepo de pau
Tomei uma de rapé
E ouvi a voz lá na porta
Esmola pra São José!

E para dar a esmola
A mulher se remexeu
Mas eu lhe gritei não vá
Pois quem vai hoje sou eu.
Quando eu cheguei na porta
O velho teve um espanto
E eu disse vá trabalhar
Que eu não dou esmola a santo.

Troque o santo numa enxada
Deixe de ser preguiçoso
Pois santo não quer esmola
Deixe de ser presunçoso.

O velho me olhou e disse:
- Que São José te perdoe
E se Deus tiver ouvindo
Quero que ele te abençoe.

E que cubra tua casa
De paz, amor, união
Sossego, prosperidade
Conforto e compreensão.

E se um dia o senhor
Precisar deste velhinho
Ele não mora tão perto
E eu lhe ensino o caminho.

Fica no sítio Cauã
Onde já morou meu pai
A direita de quem vem
A esquerda de quem vai.

Se um dia o senhor passar
Por ali com precisão
De fome o senhor não morre
Também não dorme no chão.

Quando o velho disse aquilo
Eu senti naquele instante
Como se eu fosse uma formiga
Sob os pés de um elefante.

Tava com as pernas tremendo
Digo e não peço segredo
Que o velho deu-me uma pisa
Sem me tocar com o dedo.

Eu com tanta ignorância
Ele tanta mansidão
Fez eu pagar muito caro
A falta de educação.

Então naquele momento
Eu gritei por Salomé
Mandei trazer pra o velhinho
Uma xícara de café
E contando a grana minha
Só vinte reais eu tinha
Dei todinho a São José.


Fonte: paraibacriativa.com.br,  antoniomiranda.com.br e Simone Bacellar (redes sociais)

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Francc Neto

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