José Laurentino nasceu no Sítio das Antas em Puxinanã-Pb em 1943 e faleceu em 2106. Poeta, agricultor e cordelista, publicou diversos livros. Entrre eles, Coletânea Poética de Zé Laurentino; Sertão, humor e Poesia/5 edições (1990); Poemas, prosas e glosas (1988); Meus Versos Feitos na Roça; Carta de Matuto; Na Cadeira do Dentista; Poesia do Sertão; Dois Poetas Dois Cantares (Parceria Edvaldo Perico); A Grande História de Amor de Edmundo e Maria (Cordel); Poemas, Prosas e Glosas [1988]. (Maria do Socorro Cardoso Xavier). E Balada de um poeta cego.
O POETA E A PALAVRA
O poeta e a palavra são farinha do mesmo saco.
A palavra está para o poeta,
assim como a chuva está para o arco-íris.
A palavra na cabeça do poeta,
A palavra na caneta do poeta,
A palavra tinta no pincel do poeta,
A palavra vida no coração do poeta,
A palavra punhal, palavra-dor,
palavra comida, palavra vinho no bucho do poeta.
A palavra nomeia.
O poeta passeia com a palavra.
O poeta namora a palavra.
O poeta come a palavra,
transa com ela, goza e... morre.
Morre o poeta com a palavra.
O poeta da palavra não morre.
A palavra do poeta não morre.
O poeta não morre,
... vira pura palavra!
(***)
O CARNAVAL
No meu
Brasil, em geral
quando chega o carnaval
o dinheiro se consome
é o rico queimando o cobre
e a gente avistando pobre
se acabando de fome.
Enquanto um
folião
gasta sem ter precisão
um milhão com uma roupa
se vê um pobre coitado
semi-nu. agasalhado
com um pedaço de
estopa.
Enquanto
aqueles que saldam
bons salários se esbaldam
nos prazeres da folia
se vê um mendigo triste
que aquela cena assiste
com a barriga vazia.
Com as suas
vestes rotas
o pranto lhe cai em gotas
e ele diz com razão
ao passar pelos palcos
ah! se envés de pó de talcos
rne dessem um taco de pão.
Tem certas
coisas seu moço
Que de bom
gosto eu não faço
É dá esmola
a quem pede
Com santo
embaixo do braço.
Pois eu
acho que os santos
Não tem
muita precisão
Afinal eu
nunca vi
Um santo
comer feijão.
Mas por
arte de pecado
Ou por
minha pouca fé
Todo dia lá
em casa
Passa um
velho andando a pé
Por sinal
muito feliz
Chega em
minha porta e diz
Esmola pra
São José!
E o diabo
da mulher
Que é muito
da alcoviteira
Nunca vi
uma mulher
Que não
seja rezadeira
Adquire um
tanto ou quanto
Corre vai
dá ao santo
Pra o velho
fazer a feira.
Muitas
vezes logo cedinho
Se eu vou
tomar o café
Quando dou
fé o grito
Esmola pra
São José!
Isto foi me
enchendo o saco
Cada dia
enchendo mais
Um dia
cheguei em casa
Com a
braguilha pra trás.
Sentei num
sepo de pau
Tomei uma
de rapé
E ouvi a
voz lá na porta
Esmola pra
São José!
E para dar
a esmola
A mulher se
remexeu
Mas eu lhe
gritei não vá
Pois quem
vai hoje sou eu.
Quando eu
cheguei na porta
O velho
teve um espanto
E eu disse
vá trabalhar
Que eu não
dou esmola a santo.
Troque o
santo numa enxada
Deixe de
ser preguiçoso
Pois santo
não quer esmola
Deixe de
ser presunçoso.
O velho me
olhou e disse:
- Que São
José te perdoe
E se Deus
tiver ouvindo
Quero que
ele te abençoe.
E que cubra
tua casa
De paz,
amor, união
Sossego,
prosperidade
Conforto e
compreensão.
E se um dia
o senhor
Precisar
deste velhinho
Ele não
mora tão perto
E eu lhe
ensino o caminho.
Fica no
sítio Cauã
Onde já
morou meu pai
A direita
de quem vem
A esquerda
de quem vai.
Se um dia o
senhor passar
Por ali com
precisão
De fome o
senhor não morre
Também não
dorme no chão.
Quando o
velho disse aquilo
Eu senti
naquele instante
Como se eu
fosse uma formiga
Sob os pés
de um elefante.
Tava com as
pernas tremendo
Digo e não
peço segredo
Que o velho
deu-me uma pisa
Sem me
tocar com o dedo.
Eu com
tanta ignorância
Ele tanta
mansidão
Fez eu
pagar muito caro
A falta de
educação.
Então
naquele momento
Eu gritei
por Salomé
Mandei
trazer pra o velhinho
Uma xícara
de café
E contando
a grana minha
Só vinte
reais eu tinha
Dei todinho
a São José.
Fonte: paraibacriativa.com.br, antoniomiranda.com.br e Simone Bacellar (redes sociais)
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