sexta-feira, 3 de março de 2023

Eider Madeiros

Eider Madeiros é potiguar de Mossoró e reside na Paraíba. Doutorando em Letras na UFPB, onde estuda Literatura Contemporânea. Publicou o livro de poemas Trinta & Três “Amos pluriúsculo no tribunal ôntico” na revista acadêmic0-literária Intransitiva (UFRJ).

 

 


 

 

Hubrística

Quero ser antípoda da ponta
estar no chão do iceberg
a flutuar sob o peso da água dura
e não ser vista a não ser pelo nada
além da escuridão do fundo de um mar
que me sustenta enquanto veem
que nada o que veem, é o que lhes sustenta

 

 

Antropoceno

O que a casqueta metálica
me fez perder
sem as minhas cilindradas
a pé:
Um gato
a enterrar o mundo
em um terreno baldio


 

 

ENGRAÇADINHO



quem vê esse pastichar risível
mal sabe dos fados que arrulho
que piam cansados do possível
em costelas de estaladiço barulho

quem as perscrutar ouve pedregulhos
escuta ecos retinindo o impossível
tal bocarra maior que um orgulho
que ralha e se acha compreensível

quem lê essas linhas acha crível
se animar com grandes versalhadas
mas se vem notar o gigante desnível
para de apreciar seresma palhaçada

quem vê esse poemeto já falhado
sabe que fingir anda mais aprazível
são os reflexos de um sorriso talhado
nova desventura do [reb]oco admissível




HIDROFILIA



Faz de minha boca, copo
Cópula de meu corpo, bica
Chove em mim sua preciosa água
(prata)
Rega em porra o que de mim derrama
(pica)



É PROIBIDO PROIBIR

Caetano de Dona Canô &
Jacques de Dona Émilie Baudry



Come, jouissance!
Da tua foda, bem ma dá
Que gozo, e que gozo
Findo pouco me fodendo
Se fundo, se cuspo, se metendo
Se como quero, gozo, quero gozo
I’m coming, jouissance!
Nada de poda, de empatar foda
Cingir meus falos, nem castificar
Meus furos (mundos imundos)
Raízes, seivas e fundos
De toda foda, só ela sobra
Só ela dá





XOXOTAS E PATÊS



Tombando palavras ao vinho
Confissões das mais diversas
As expressões tintilam em talheres e copos
E o saborear salgado de patês
Artificiais frutos do mar
Traz à mesa o gosto pela cunilíngua

Longa escrita de surpresas
Fatiando o que não se esperava
Bradando os prazeres da xota
A espalhar olhares esquadrinhados
Desde o jugo do entendimento
Que não importa gênero ou condição

Patês e xoxotas de bandeja
Se abocanham na certeza
De que lambuzar é a ordem
E tomar gosto é o perigo
(A certas línguas tolas, coitadas risadas...)



 

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