terça-feira, 16 de maio de 2023

Janaína Azevedo



Janaína Azevedo nasceu e vive em Areia, Paraíba. Graduada em Letras, Mestre em Linguística, pela UEPB, lecionou por 28 anos no Ensino Fundamental e Médio, em sua cidade natal, onde, paralelamente, foi ativista cultural, tendo fundado a Academia de Letras de Areia, em 2011, e sido a primeira Secretária de Cultura do município. Estreou na literatura em 1999, com "Marias", contos, obra vencedora do "Prêmio Novos Autores Paraibanos" (UFPB), obra indicada para o vestibular da UEPB, em 2012. Publicou ainda "Orquídea de Cicuta", contos, (Editora Manufatura) e “Canção para dois amores" (Coleção Tamarindo, Dinâmica Editora), poemas. Após 15 anos e "Narrativas de areia".
 





DÉCIMA OITAVA CANÇÃO


O que sei de ti
é que tens os
olhos quase negros
de tão castanhos
e flautas e agudezas e entulhos
guardados.
E que és o primeiro
milagre
que a mim,
fêmea amendoada,
me é dado percorrer
e demorar-me um pouco.
O milagre das coxas,
dos dentes,
do sexo movente,
lilás, ocre, rubro, carmim.
O esquivo susto
de nos sabermos vivos
em sangue, sonho e plexo.




*****




VIGÉSIMA CANÇÃO

As únicas flores
que já me ofertaste
foram os girassóis
torturados de Van Gogh.
Por causa deles,
todas as noites,
atiro
no meu ouvido
esquerdo,
de onde pende
uma argola
banhada de ouro.




*****




VIGÉSIMA PRIMEIRA CANÇÃO

O filho que
não tivemos,
ainda não seria
homem.
Mas haveria
de, um dia,
endereçar-se,
qual tu,
em trezentas e três
cartas de amor
e alguns bilhetes
para a mulher 
do futuro
que lhe turvaria
os passos
no dia dos festejos de
nossa Senhora de Fátima.




*****




VIII (Oito poemas visíveis para Marco Polo)

O sonho maior de Marco Polo
era o simples sonho
de qualquer viajante:
voltar para a terra em que nasceu
e lá
plantar as uvas da morte
e regar, para sempre,
os arrozais da memória.




*****




V (Oito poemas visíveis para Marco Polo)

As cidades que te habitam
imagens redundantes
conjuras de cimento
escadarias de agonia

As cidades que me habitam:
histórias enforcadas
solstícios em refrão
linguagens sem remorso

Todas as cidades
areias encarceradas.






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