Andrey Pereira de Oliveira nasceu em João Pessoa e reside em Natal. É professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Autor, entre outros livros, de Utopia e agonia: o indianismo de Gonçalves Dias e A razão embotada: ensaios de crítica literária. Os poemas aqui publicados fazem parte do livro “coruja de trapo”, ainda inédito.
aos farelos
trago comigo
no bolso
pedaços de noites
vadias
que vou largando
aos farelos
inoculando
mistérios
na modorra corrente
e canhestra
dos dias.
*****
dados de meus ossos
talvez
num tempo qualquer,
algum desavisado faça
dados
de meus ossos.
talvez
nesse dia,
eu dite
o acaso
de alguém.
*****
coruja de trapo
o tempo alveja-te o toldo
da cabeça,
cobrindo ideias fixas
(pedras
empilhadas
em ruína)
que nunca foram ditas
pela língua
pesada e muda e
queda.
o vidro da claraboia cega
dos teus olhos
baços a vertigem
do teu fosso interno
espelha.
o espaço vazio na sacada
do teu cérebro
seria a plataforma larga
de onde o vôo alçaria a coruja de trapo
nutrida,
que, gorda e tarda,
tombou
velha.
*****
búzio
ardiloso monjolo marinho, o oceano
regurgita, apresado em corrente metálica
de água longínqua, um búzio perdido:
rosa de vento, roseta de runa antiga
em tabuleiro de fina areia lançada,
cifrada em cal´caria língua esquecida.
*****
máquina partida
posso dizer, se o sol não chegou
e o galo engoliu o canto claro do dia?
se a corda de luz do gnômon rompeu
e parou no passado a máquina partida?
se o peso da sombra semeia e aduba
a dúvida, o medo pânico e a culpa?
Fontes: Ruído Manifesto e Correio das Artes
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