sábado, 27 de maio de 2023

Eudes Barros

  

Eudes Barros (1905- )nasceu em Alagoa Nova-Pb. Fez seus estudos primários e secundários em João Pessoa. Muito cedo integrou-se na vida intelectual como poeta e prosador. Depois participou ativamente das atividades jornalísticas na Paraíba, em Pernambuco e no rio de Janeiro. Escreveu seu primeiro livro de poemas na adolescência. “Fontes e Paues” foi publicado pela Imprensa Oficial da Paraíba em 1920. O poema Êxodo, aqui transcrito, foi publicado neste livro. Em 1928 lançou também pela Imprensa Oficial o livro Cânticos da Terra. Em 1937 lançou o romance Dezessete.




 

 

JESUS BRASILEIRO

 


Jesus do meu País! foi a Maruja em festa
que te trouxe na cruz das velas de Cabral!
E na primeira missa-aqui-foi a floresta
tua primeira catedral!

Nos teus natais, aqui, não há neve lá fora...
Mas luares mornos! (e que festas! é de vê-las...)
É aqui que Jesus mora! E' aqui que Jesus mora!
crucificou-se aqui... mas numa cruz de estrelas!
No meu País não és um Cristo moribundo
mas um Jesus de glória e de Ressurreição!
Salve, ardente Jesus do Novo-Mundo,
que nos sorris do céu numa Constelação!
As tuas bênçãos descem da amplidão acesa
para florir e fecundar a terra virgem e feliz!
Ó Jesus-Lavrador! ó Jesus-Natureza!
Jesus do meu País!




*****

 

 

 

ÊXODO

 


Passam nas ruas, pelos caminhos
Bandos mais bandos de pobrezinhos.

 

Da cruel seca vítimas são,

Mestros filhinhos do almo Sertão...

 

Deixam saudosos a sua terra

Que hoje tristeza  e dor encerra...

 

Tinham as faces cor de romã.
Eram risonhos como a manhã...

 

Ouviram sempre cantar nos ninhos
Os bardos d'asas-os passarinhos...

 

Hoje vagueiam tristes e exsues
Sob o zimbório dos céus azuis!

 

Quantas saudades, quantas lembranças
Se ocultam n´alma dessas crianças!

 

Jesus bondoso! Filho de Deus!
Tem piedade dos filhos teus!

 

O Sertão ontem era florido

Mas vê-se agora triste e dorido...

 

O Astro do dia queima com ardor
Aqueles campos cheios de dor!

 

Os pobrezinhos são como as flores
Murchas, pendidas e sem olores...

 

Mui andrajosos de par em par
Andam nas ruas, vão esmolar...

 

Como eles andam tão fatigados!
Como são pobres e desgraçados!

 

Da cruel seca vítimas são
Mestos filhinhos do almo Sertão! (1919).




*****



(...)
Estamos ainda às tuas águas próximas – América!
Sabemos-te ainda da existência imensa – como há cinco séculos
pelos sargaços e aves marinhas do último dia da aventura de

[Colombo.
Não tomamos ainda posse do teu gênio livre em nome
                                                                 [de Ti Mesma!
Somos olhos que se abrem num deslumbramento eterno
diante de Ti – do teu Mistério! O teu mistério
                                                                  [verde...

Homem do Novo Mundo!
título virgem, druídico, profundo,
que (por associação de ideias) nos traz logo aos olhos
                                       [e ao espírito  - o Amazonas
que do Peru nos manda, como uma vitória-régia, em suas
                                       [ águas, a alma de Chocano...

Santos Chocano! Legendas cheias de sons imensos
                                       [Os sons da América!

Homem do Novo Mundo!
título altivo como o de Condor dos Andes!
Condor dos Andes... Castro Alves! Grito de epopeia do
                                                        [Continente!

Homem do Novo Mundo!
título virgem, druídico, profundo
milenar como o esplendor submerso dos Astecas;
tentacular como New York... New York! Broadway!
                                          [Luz! Luz! Luz! Luz!
Deslumbramento! Petróleo!  Radium! New York!
tentacular múltiplo livre  como um poema de walt Whitmann!.
(...)


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Francc Neto

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