segunda-feira, 8 de maio de 2023

Agostinho Nunes da Costa

Agostinho Nunes da Costa (1757-1858) faz parte da melhor tradição poética do Nordeste brasileiro. Segundo o pesquisador Mário Bento, algumas fontes indicam que ele nasceu em São João do Sabugi-RN, outras que foi em Espinharas-Pb. Viveu na Serra do Teixeira e era considerado um nome de grande relevância cultural na sua época. Segundo depoimento do escritor e artista plástico Alberto Lacet, "o cordel foi criado a partir dos escritos de Agostinho Nunes da Costa, pai de Ugulino Nunes que confeccionou a primeira viola brasileira".


lustração de Marcelo Soares


                                              MOTE


Quem quiser falar de mim
Cante e grite pela rua,
Que eu como é na minha casa;
Cada qual coma na sua.

 

DÉCIMA

Nasci livre, Deus louvado,
E até sem medo fui feito
Porque meu pai, com efeito.
Com minha mãe foi casado;
Também nunca fui pisado,
Como terra ou capim,
E se alguém pensar assim
É engano verdadeiro;
Olhe para si primeiro,
Quem quiser falar de mim.

 Mas, fale lá quem falar,
Que eu não morro de careta,
Para mim, tudo isso é peta,
Só Deus me pode matar;
Quem de mim se desgostar
Que me feche a porta sua;
Eu bem sei que quem me injua
E com raiva ou com inveja,
Mas como isso não me aleja
Cante e grite pela rua.

Deus me deu tal natureza
Que bem pouca gente tem:
Não invejo de ninguém
Seu brasão, sua riqueza!
Pois dos outros a grandeza
Não me abate, nem me abrasa.
É pequena a minha asa
Que mal chega para mim.
Alas, se é bom ou se é ruim,
Eu como é na minha casa.

Que importa a Pedro ou a Paulo,
Seja rico ou seja nobre,
Que eu vivendo como pobre
Ande a pé ou a cavalo?
A mim não me dá abalo
Toda grandeza da lua!
Cante e grite pela rua
Quem em paixão se abrasa;
Que eu como é na minha casa
Cada qual coma na sua.

Com minha mãe foi casado;
Também nunca fui pisado,
Como terra ou capim,
E se alguém pensar assim
É engano verdadeiro;
Olhe para si primeiro,
Quem quiser falar de mim.

Mas, fale lá quem falar,
Que eu não morro de careta,
Para mim, tudo isso é peta,
Só Deus me pode matar.

Que importa a Pedro ou a Paulo,
Seja rico ou seja nobre,
Que eu vivendo como pobre
Ande a pé ou a cavalo?
A mim não me dá abalo
Toda grandeza da lua!
Cante e grite pela rua
Quem em paixão se abrasa;
Que eu como é na minha casa
Cada qual coma na sua.

 







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Francc Neto

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