quinta-feira, 4 de maio de 2023

Antônio Morais de Carvalho

Antônio Morais de Carvalho nasceu em Campina Grande e vive em João Pessoa. Publicou dois  livros de poemas, "Persona e "Os Cegos e o Elefante Alguns Modos de Ler Poemas.



O GRANDE RETORNO

O filho, pródigo, volta aos pais
e já não conduz sonho.
Não busca pais: paz apenas:
mesa, cama, coisas fixas.

O piso é abissal: poço sem fundo;
o teto, aberto, chuva de fogo.
Chama,
as paredes:
transparentes,
revelam o mal-estar outrora oculto,
e, vidro, ferem
até o filho pródigo.

O filh, pródigo,
num último esforço
busca razão:
não houve pais, Pai,
fortuna, herança, filho pródigo...
Houve filho apenas,
de ninguém, de nada,
filho eterno,
língua estranha,
jamais entendida ou liberada.




*****



UM LANCE DE DADOS
Para Chico e Cardoso


Não quero o poema-perfeito.
O fastio dos Deuses,
A bondade do Diabo,
O Verbo,
A Bomba!

Não quero o poema-perfeito:
Eu sei que o ultrapasso
Ao tocar o seu mistério.

Não quero o poema-perfeito,
O último-poema:
A poesia
É meu ofício cotidiano.




*****



O COMPULSIVO OFÍCIO
Para Ponce, Pat, Gera e Radiel

todas as palavras
já foram escritas

todos os temas,
atravessados

todas as técnicas,
utilizadas

a própria linguagem
volta-se sobre si
cansada dos outros

ma o home, renitente palavroso,
tanta, em vão, um verso novo.




*****




SEMPRE AMOR


Então já podes amar.

Sabes que o amor não pensa ódio:
sabe represá-lo para logo mais.
Que amor é proferir o ar, o frágil, o insustentável
mas com tanta vontade de crer
que vira metal.
Que amar é sumir, desistir, rasgar o registro,
asfixia.
Mas sabes não amar? Podes? Consegues?
Mas o que há no amor: alguém,
além da própria sombra?
Alguém desentende mais (mas
alguém entende alguém ou algo?)
do que quem ama?
Passaria amor de autovingança,
pulsão, ânsia, vômito?
O que é amar?
Vulva, arte, pôquer, mescalina,
pouco, muito pouco, muito aquém do?
Amor se faz?
Se não tem olhos? Tem filhos?
Então multiplicou
tudo: o hálito do fantasma.
Amor morre? Mas, nasce? Como,
se quando nos anula já é tarde?

Existimos sem história?
Conta-se o que não é verbo?
Sente-se o que não?
Existe?




*****




GENEALOGIA


Como encetar (criar?)
em nome tão comum
um próprio, exclusivo,
ele próprio sobrenome?

E o instinto, os ais,
como prender, se ao invés
de único código, exibo
(Perverso Polimorfo) morais?

Mas a condenação, o lance
atávico, que me põe orvalho,
da primeira manhã ã noite sempre,
é ter, rachados

no mais ardente asfalto,
esses pés de carvalho.


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Francc Neto

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