Antônio Morais de Carvalho nasceu em Campina Grande e vive em João Pessoa. Publicou dois livros de poemas, "Persona e "Os Cegos e o Elefante Alguns Modos de Ler Poemas.
O GRANDE RETORNO
O filho, pródigo, volta aos pais
e já não conduz sonho.
Não busca pais: paz apenas:
mesa, cama, coisas fixas.
O piso é abissal: poço sem fundo;
o teto, aberto, chuva de fogo.
Chama,
as paredes:
transparentes,
revelam o mal-estar outrora oculto,
e, vidro, ferem
até o filho pródigo.
O filh, pródigo,
num último esforço
busca razão:
não houve pais, Pai,
fortuna, herança, filho pródigo...
Houve filho apenas,
de ninguém, de nada,
filho eterno,
língua estranha,
jamais entendida ou liberada.
*****
UM LANCE DE DADOS
Para Chico e Cardoso
Não quero o poema-perfeito.
O fastio dos Deuses,
A bondade do Diabo,
O Verbo,
A Bomba!
Não quero o poema-perfeito:
Eu sei que o ultrapasso
Ao tocar o seu mistério.
Não quero o poema-perfeito,
O último-poema:
A poesia
O filho, pródigo, volta aos pais
e já não conduz sonho.
Não busca pais: paz apenas:
mesa, cama, coisas fixas.
O piso é abissal: poço sem fundo;
o teto, aberto, chuva de fogo.
Chama,
as paredes:
transparentes,
revelam o mal-estar outrora oculto,
e, vidro, ferem
até o filho pródigo.
O filh, pródigo,
num último esforço
busca razão:
não houve pais, Pai,
fortuna, herança, filho pródigo...
Houve filho apenas,
de ninguém, de nada,
filho eterno,
língua estranha,
jamais entendida ou liberada.
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UM LANCE DE DADOS
Para Chico e Cardoso
Não quero o poema-perfeito.
O fastio dos Deuses,
A bondade do Diabo,
O Verbo,
A Bomba!
Não quero o poema-perfeito:
Eu sei que o ultrapasso
Ao tocar o seu mistério.
Não quero o poema-perfeito,
O último-poema:
A poesia
É meu ofício cotidiano.
*****
O COMPULSIVO OFÍCIO
Para Ponce, Pat, Gera e Radiel
todas as palavras
já foram escritas
todos os temas,
atravessados
todas as técnicas,
utilizadas
a própria linguagem
volta-se sobre si
cansada dos outros
ma o home, renitente palavroso,
tanta, em vão, um verso novo.
*****
SEMPRE AMOR
Então já podes amar.
Sabes que o amor não pensa ódio:
sabe represá-lo para logo mais.
Que amor é proferir o ar, o frágil, o insustentável
mas com tanta vontade de crer
que vira metal.
Que amar é sumir, desistir, rasgar o registro,
asfixia.
Mas sabes não amar? Podes? Consegues?
Mas o que há no amor: alguém,
além da própria sombra?
Alguém desentende mais (mas
alguém entende alguém ou algo?)
do que quem ama?
Passaria amor de autovingança,
pulsão, ânsia, vômito?
O que é amar?
Vulva, arte, pôquer, mescalina,
pouco, muito pouco, muito aquém do?
Amor se faz?
Se não tem olhos? Tem filhos?
Então multiplicou
tudo: o hálito do fantasma.
Amor morre? Mas, nasce? Como,
se quando nos anula já é tarde?
Existimos sem história?
Conta-se o que não é verbo?
Sente-se o que não?
Existe?
*****
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O COMPULSIVO OFÍCIO
Para Ponce, Pat, Gera e Radiel
todas as palavras
já foram escritas
todos os temas,
atravessados
todas as técnicas,
utilizadas
a própria linguagem
volta-se sobre si
cansada dos outros
ma o home, renitente palavroso,
tanta, em vão, um verso novo.
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SEMPRE AMOR
Então já podes amar.
Sabes que o amor não pensa ódio:
sabe represá-lo para logo mais.
Que amor é proferir o ar, o frágil, o insustentável
mas com tanta vontade de crer
que vira metal.
Que amar é sumir, desistir, rasgar o registro,
asfixia.
Mas sabes não amar? Podes? Consegues?
Mas o que há no amor: alguém,
além da própria sombra?
Alguém desentende mais (mas
alguém entende alguém ou algo?)
do que quem ama?
Passaria amor de autovingança,
pulsão, ânsia, vômito?
O que é amar?
Vulva, arte, pôquer, mescalina,
pouco, muito pouco, muito aquém do?
Amor se faz?
Se não tem olhos? Tem filhos?
Então multiplicou
tudo: o hálito do fantasma.
Amor morre? Mas, nasce? Como,
se quando nos anula já é tarde?
Existimos sem história?
Conta-se o que não é verbo?
Sente-se o que não?
Existe?
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GENEALOGIA
Como encetar (criar?)
em nome tão comum
um próprio, exclusivo,
ele próprio sobrenome?
E o instinto, os ais,
como prender, se ao invés
de único código, exibo
(Perverso Polimorfo) morais?
Mas a condenação, o lance
atávico, que me põe orvalho,
da primeira manhã ã noite sempre,
é ter, rachados
no mais ardente asfalto,
esses pés de carvalho.
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