terça-feira, 2 de maio de 2023

Edmilson de Almeida Pereira - Poeta Brasileiro

Edmilson de Almeida Pereira nasceu em Juiz de Fora-MG. É poeta, prosador, ensaista e professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora. Publicou "Mundo encaixado: significação da cultura popular", "O Som vertebrado", "qvasi', entre outros. Foi um dos vencedores do Prêmio Oceanos com "O ausente" e semifinalista da mesma edição do Oceanos com "Um corpo à deriva". 

Foto: Prisca Agustoni




ADVERTÊNCIA



Este caderno não contribui para o Museu
do Homem de Paris.


A leitura será o sopro sobre suas palavras.


As festas
os sacrificios
os rituais -
não sabemos a quem pertencem,
quando atravessamos a soleira da casa.


Diante do estranho - e todos somos -
nos reconhecemos pela infância.




*****





SEGUNDA ADVERTÊNCIA


Este caderno não contribui para nenhuma teoria,
exceto
a dos coletores de sementes.


O sopro excessivo sobre a palavra revela o pó
onde se esperava
Uma mensagem.




*****




O RETORNO-ESTORVO


1.O QUE SE FAZ agora
foi feito antes -

a roupa escolhida
para ter sorte na pesca

o anel gravado em
garantia de um acordo

a mão firme onde
uma assinatura espera

o sal posto ao sol
para durar o alimento

- tudo se dispusera em nós
por alguém nascido

sem que entendêssemos
sua mensagem.




*****




ANTENOR


40 cães na mata.
Caça
para si, nem tanto.
A paca

(substantivo macio)
queda
ao mandatário.

40 cães na caça.

3 porcos (cacete
seu nome de guerra),
enfim,
para a família.

(Porco do mato:
queixo
duro - 
verbo irregular).

Com 40 se mata
o tempo.

A distância entre uma
fazenda
e outra,
às vezes.

40 mantas e mais
na vida.

Antenor não caça
para si
para ninguém: pelas
oitenta

vírgulas eriçadas
aposta.




*****




CORTE


O trigo não tem a cabeça
alta
depois que a foice passeia.

Quem está no campo,
a essa hora,
não volta com a notícia.

Quem fica à espera
embora
creia no arco da mudança,

quando muito, vai à porta
e nutre,
em vão, a própria saúde.

Se há beleza em tal obra
(e existe
no outro lado, uma

janela com as bandeiras
em eclípse),
em ruínas se esculpe.



*Os poemas acima foram extraídos dos livros "qvasi" e "O som vertebrado".


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Francc Neto

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