Lúcio Lins (1948/2005) nasceu em João Pessoa. Formou-se em Ciências Jurídicas e foi funcionário da UFPB. Publicou “Lado que cavo/que covas”(1982); “As lãs da insônia” (1991); “Perdidos astrolábios” (1999). Publicou seus poemas no Correio das Artes, Revista Usina, Revista Ler, Suplemento de Minas, entre outros.
Nos anos 70 integrou o Movimento Jaguaribe Carne, ao lado de Pedro Osmar, Paulo
Ró, Chico Cesar e outros artistas. Nos anos 80 fundou o Bar Travessia que
movimentou a cena cultural da cidade. Teve parcerias musicais com Byaya, Mestre
Fuba, Chico Cesar, Zé Wagner e Adeildo Vieira.
vestindo o
poema
meu
exercício
de voar
é pousar
na imaginação
das asas
é fazer ninho
com as palavras
a reforma
faço poemas
reformando a casa
sento cerâmica
no papel
e os pedreiros
sentam palavras
na sala
sou eu
que estou em silêncio
são eles
que têm a fala
delírio
de gari
os urubus
são aves
do paraíso
os anjos
são urubus
travestidos
(dei-me ao luxo
de catar isso)
fora do
circo
domar a fera
é mais que o espetáculo
de levar ao público
as garras já domadas
domar-se a fera
é não entrar na jaula
imagens
o T de tv:
antena externa
o V de tv:
antena interna
(a imagem é minha)
um itinerário
de leituras
a traça
tem algo de erudito
e uma preferência
pelos mais antigos
de muitos
conceitos de amor
a traça se alimentou
palavra por palavra
demais
lições de vida
pela traça foram lidas
página por página
a traça
tem algo de cético
devora os textos
e não vive dos inéditos
duas margens
quando o tempo
me cobrir os céus
com a anágua suja
da tua espera
e teus lábios
forem duas margens
um
gritando calmaria
outro
clamando tempestade
eu voltarei
de corpo e barco
e por ti
seguirei minha viagem
navegarei
entre teus braços
e segredos
eu
serei teu búzio
tu
serás o meu degredo
Cabo Branco
extremo Cabo Branco
estranho trampolim
ao contemplar o Atlântico
o mar mergulha em mim
memória das
águas
sei do mar
do seu sal
suas palavras naus
e toda paisagem
uma vista de Portugal
sei do mar
do seu longe
sua história mangue
e o marulho das ondas
uma linguagem lusitana
sei do mar
que o mar
ainda é um silêncio
e a palavra mar
um oceano de palavras
bodas de ouro
passaram-se
os anos
e eles ainda
passam
um pelo outro
quanto são estranhos
história flutuante
não tenho horizontes
tenho sonhos à vela
e a tempestade da história
não tenho mapas
tenho cartas anônimas
e os gritos de seus náufragos
não tenho mares
tenho a garganta seca
e as palavras navegáveis
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