terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

João Damasco Braga

 João Damasco Mangueira Braga nasceu em Cajazeiras-Pb, Reside em Campina Grande onde é professor aposentado do Curso de Engenharia Elétrica da UFPB. Graduado também em Letras pela UFPb, dedica-se atualmente à Literatura. Publicou o livro Rabo de Cutia.



RASGA MORTALHA


A rasga-mortalha grasnava:
sinal ruim, morte na casa.
Instaurava-se o medo,
que era falso, não era medo,
pois lá pela quarta vez
a rasga-mortalha já estava
desmoralizada.




BAGAÇOS
                   Para Adeildo Pereira


A cana chupa o homem.

Doçura,
fibra e brancura,
por entre os nós,
por trás da casca,
da pele escura.

O homem chupa
           a cana
chupa
           o homem.



PREDADOR

O urso negro era belo.
Senhor de implícitos limites
na branca planície,
acomodou-se na gruta
presumindo instintivamente
a segurança do abrigo.

Espreitava-o com fome
um urso cinzento,
na afoiteza bruta
de violar o domínio alheio,
no desespero de ser
acossado por outros
mamíferos
plantígrados,
predadores insensíveis
- homens sem cor.



IMAGEM E
SEMELHANÇA


A Ideia do crepúsculo
A Criadora Palavra
O crepúsculo

A Ideia do homem
A criadora palavra

O homem

A ideia do poema
A palavra crepúsculo
Um poema

Semelhança e imagem.




VIDA


Sylvia Plath foi dormir cedo,
mas um poema acabado
não desaparece.




OUTRO RECRUTA
                                  Para Edilson Amorim


lia Oswald
e disse também à namorada:
Se morrer, venho te ouvir cantar.
Sobreviveu à guerra,
conheceu uma gringa
e ficou morando por lá.



ENCONTRO


Mergulhar no poema
deixar-me lavar.

Pelo rio do teu corpo,
deixar-me levar.

No vau do poema
do teu corpo,
de mim para mim,
sem retorno passar.









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