Aderaldo Luciano nasceu em Areia-Pb. Pesquisa a poesia e a música dos povos brasileiros. Publicou “Engenhos, estradas, sinas”, “Era um espinho no olho e aFlor da lira no peito”, “O nome do cantador”, “Quero morrer na caatinga e “Apontamentos para uma historia crítica do cordel brasileiro”.
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As noites dos
solitários
São longas,
profundas, frias.
Da mesma forma,
seus dias
Se perdem nos
campanários.
Mesmo os códigos
binários
Das redes de
informação
São buracos de
emoção,
Ratoeiras nas
esquinas,
Cadafalsos,
guilhotinas.
O Mundo é Grande
Ilusão
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Sou o barro dos oleiros
e o fogo que queima
o barro
Sou o carro sobre
as rodas
e guio as rodas do
carro
enquanto o mundo se
perde
aos meus achados me
agarro!
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A quem adora
pastéis,
A quem quer caldo
de cana,
A quem maldiz a
semana,
A quem leiloa os
anéis,
A quem engana os
fiéis,
A quem manipula a
massa,
A quem devora
linhaça,
A quem não lê a
receita.
A quem sofrer de
maleita:
Se livre dessa
bagaça!
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A quem pediu sem
querer,
A quem deu sem ter
certeza,
A quem procura
moleza,
A quem buscou se
perder,
A quem fala sem
dizer,
A quem tá preso à
mordaça,
A quem tenta e só
fracassa,
A quem quer ser
cozinheiro.
A quem só pensa em
dinheiro:
Se livre dessa
bagaça!
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Plantei um pé de liamba
No jardim que vou sonhar
Quem mora no jardim, sonha
Quem não sonha, quer morar
Fica pra cá de Los Yungas,
Mas de Alfenas pra lá
Mesma trilha da ayahuasca,
Mais do que maracujá,
Aproximada ao peiote,
Vizinha do juremá
É Liamba de Caboclo,
Meu coração milenar.
Olhei um dia em suas flores
Nelas vi um mangangá,
Abelhas, vespas, formigas
Gostam do seu farfalhar
Ela se aventura ao céu,
Também gosta de hibernar
Vezes fica só o caule,
Porém num pestanejar
Abre-se em pequenas mãos,
Cumpre-se em belo arvorar
Plantei um pé de liamba
Sagrada no meu gongá.
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Quando canto, o
poema se alvoroça
A viola se esquece
de ser ela.
Outra alma, de mim,
logo se apossa
Outra vida
escancara uma janela
Eu me vejo
habitando outra palhoça
Outra Mãe, ao meu
lado, senta e vela
Para além dos
limites conhecidos
Eu visito
ancestrais já esquecidos.
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Caminhávamos, noturnos,
Apontando a Trilha da Anta.
Todo o silêncio nos corpos,
Sonidos, penas, gargantas.
Constelações levantadas
(faíscas, lampejos, tranças)
Um vento fino assoprando
Os galhos finos das plantas.
As folhas dançavam leves
Nervuras, palmas, membranas.
O coração dos planetas
Pulsando, pontas de lanças
Nos dando ordens expressas,
Como antiga governanta
De um castelo abandonado
Em Carnaúba dos Dantas.
Sob o céu de Jericó,
Vencedor de léguas brandas,
Nos levando a Catolé,
Onde o ferro se aciranda.
Nunca mais aquele céu
Me veio, ocasião santa.
Eu e a Noite caminhando,
Imersos na Trilha da Anta.
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