terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Aderaldo Luciano

 Aderaldo Luciano nasceu em Areia-Pb. Pesquisa a poesia e a música dos povos brasileiros. Publicou “Engenhos, estradas, sinas”, “Era um espinho no olho e aFlor da lira no peito”, “O nome do cantador”, “Quero morrer na caatinga e “Apontamentos para uma historia crítica do cordel brasileiro”.



 

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As noites dos solitários
São longas, profundas, frias.
Da mesma forma, seus dias
Se perdem nos campanários.
Mesmo os códigos binários
Das redes de informação
São buracos de emoção,
Ratoeiras nas esquinas,
Cadafalsos, guilhotinas.
O Mundo é Grande Ilusão

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Sou o barro dos oleiros

e o fogo que queima o barro
Sou o carro sobre as rodas
e guio as rodas do carro
enquanto o mundo se perde
aos meus achados me agarro!

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A quem adora pastéis,
A quem quer caldo de cana,
A quem maldiz a semana,
A quem leiloa os anéis,
A quem engana os fiéis,
A quem manipula a massa,
A quem devora linhaça,
A quem não lê a receita.
A quem sofrer de maleita:
Se livre dessa bagaça!

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A quem pediu sem querer,
A quem deu sem ter certeza,
A quem procura moleza,
A quem buscou se perder,
A quem fala sem dizer,
A quem tá preso à mordaça,
A quem tenta e só fracassa,
A quem quer ser cozinheiro.
A quem só pensa em dinheiro:
Se livre dessa bagaça!

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Plantei um pé de liamba
No jardim que vou sonhar
Quem mora no jardim, sonha
Quem não sonha, quer morar
Fica pra cá de Los Yungas,
Mas de Alfenas pra lá
Mesma trilha da ayahuasca,
Mais do que maracujá,
Aproximada ao peiote,
Vizinha do juremá
É Liamba de Caboclo,
Meu coração milenar.
Olhei um dia em suas flores
Nelas vi um mangangá,
Abelhas, vespas, formigas
Gostam do seu farfalhar
Ela se aventura ao céu,
Também gosta de hibernar
Vezes fica só o caule,
Porém num pestanejar
Abre-se em pequenas mãos,
Cumpre-se em belo arvorar
Plantei um pé de liamba
Sagrada no meu gongá.

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Quando canto, o poema se alvoroça
A viola se esquece de ser ela.
Outra alma, de mim, logo se apossa
Outra vida escancara uma janela
Eu me vejo habitando outra palhoça
Outra Mãe, ao meu lado, senta e vela
Para além dos limites conhecidos
Eu visito ancestrais já esquecidos.

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Caminhávamos, noturnos,
Apontando a Trilha da Anta.
Todo o silêncio nos corpos,
Sonidos, penas, gargantas.
Constelações levantadas
(faíscas, lampejos, tranças)
Um vento fino assoprando
Os galhos finos das plantas.
As folhas dançavam leves
Nervuras, palmas, membranas.
O coração dos planetas
Pulsando, pontas de lanças
Nos dando ordens expressas,
Como antiga governanta
De um castelo abandonado
Em Carnaúba dos Dantas.
Sob o céu de Jericó,
Vencedor de léguas brandas,
Nos levando a Catolé,
Onde o ferro se aciranda.
Nunca mais aquele céu
Me veio, ocasião santa.
Eu e a Noite caminhando,
Imersos na Trilha da Anta.

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Francc Neto

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