terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Astier Basílio

Astier Basílio nasceu em Vitória de Santo Antão(PE), cresceu em Campina Grande, morou em João Pessoa e atualmente reside na Russia, onde faz doutoramento em Literatura Russa. É Jornalista, poeta, dramaturgo, ensaísta e violeiro. Publicou diversos livros de poesia e ficção.




 

 

Esquecer

 

Esquecer é
retirar as facas
e colocá-las no lugar
correto.

 

 

 

Maçã do amor


Viver em província
é circular
na quadrilha

nada além
do cio de cães
da mesma
matilha

farejando os cus
uns dos
outros

 

 

anos 00

 

Arquivo a ser salvo

o futuro.

 

vazio em zoom

tabuleiro arcaico à mostra

caixa de ecos nada por baixo

 

solo de cristal em vácuo

entre o asfalto e o escuro

sempre salto:

concerto para o erro

 

'stamos

um pouco acima do zero

 

 

 

Soneto da fraude do tempo que tecias

 

Como os fios da falta... o mar é tanto
Quando rasgo o azul envolto em dias
Diluídos nas vagas mais vadias
Quando o sal do silêncio ensaia o pranto

 

Na memória do cais... No amianto
Das manhãs os meus raios tu cosias
E um sarau de sereias tão baldias
Recuava-me o mar num quase canto

 

incrustado no círculo onde me deixas
feito à raiva das rugas fugidias
Na miopia das águas... o teu rosto

 

Condenava o meu sul às mãos de seixas
Sob a fraude dos tempos que tecias
Para a composição de um sol deposto

 

 

 

 

O piano

 

notas

que só pertences

de teu corpo

em círculos, em mergulhos,

num azul de que nenhum mar

ultrapassa tuas nunca

palavras.

Tocas de libido,

manuscritos de uma

música

quando

a falta em riste,

como um fuga de Bach

ou como um címbalo

que retine.

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