Anna Apolinário nasceu em João Pessoa. É poeta e professora, licenciada
em Pedagogia pela UFPB. Entre seus livros publicados, destacamos Zarabatana,
Solfejo de Eros e Mistrais. Sua poesia pode ser encontrada em diversas
publicações, revistas, sites e blogs de poesia e crítica literária.
TALHO
Salamandras no
cio
Arranham as
ancas de minha esquizoidia
Línguas negras
de argila
Os hematomas
são drusas
Ultrametistas
Verso violáceo
metamorfoseado
Na carne de
Carmen de Godard
Sal, suor,
sangue, gritos
Agora eu
cheiro a feromônio de raflésia
Eis o início
de um grande amor:
Carniça
Selvática
Morder a polpa da palavra
Violentar o verbo
Açoite
Até que o rubro escoe
Atingir o cerne
Com sabre, punhal
Lacerar o arco e a lira
Alvo metafísico
Colisão cáustica
Matilha sádica
Eu quero o aborto
Da aurora boreal
BREVIÁRIO
A nebulosa do
poeta passa no precipício do amor
Um átomo
metamórfico
lacera a íris
do universo
Eriça
o espinhaço do
abismo
Búfalo
rutilante
estilhaçando a
nuvem arterial
A
Pianista
A tua voz de incendiar pássaros
Traça surtos escarlates
Na minha sanidade
Ruflam solos ensolarados
O céu erupciona
Um pecado ruivo
O mar sangra seus diamantes
Felina ametista
Um rugido índigo retine
Nas esporas da angústia
Magmáticas
Medusas
Nas madrugadas frias de julho
os pés nus tateiam a casa em ruínas
a pancada do sangue nas artérias
é quase audível
a loucura é uma pedra espessa
um diamante movediço
rebrilhando
coração eriçado
dentro da escuridão
Um verso de Herberto
vórtice, açoite
no leito ladeado de
abismos
os rostos, espectros
de singular agudeza
a música sobe
estrangula estrelas
Às três da manhã
meu olho esquerdo trepida
em contínuas ondas
de cortisol e adrenalina
as pálpebras cerradas
os pulmões em brasa
o corpo saindo
do centro gravitacional
pernas e quadris tecendo
o terremoto áureo
o desenho dos lábios dela
serpentiforme
língua vândala na vulva
vertendo magma
veias abertas
e os cornos em riste
“Eu prefiro você assim,
Vulcão”
Garimpo
Que teus lábios busquem sem cessar
em minhas densas e voluptuosas cavernas
o doce luminescente minério
o precioso mel de Vênus nascendo
de um ventre cravejado de beijos
Estudo
para um Delírio (Mozarteando)
Ás cinco horas de uma tarde nua e aprazível
Nas veredas do Ponto de Cem Réis
Cá estou a bebericar de meu café cortês
A garçonete me aparece em andrajos de sereia
Sibila-me o verso, ó peixe onírico!
Nobre gota de céu marejou meu olho infante
É Mozart no passeio público
Interrompe seu tropel místico
E vem ter comigo
Ai de mim que não sou poeta!
Acendeu minha cigarrilha
E me trouxe um Blues muito lascivo.
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