Antônio Mariano
nasceu em João Pessoa onde ainda vive. É formado em Eucação Artística pela UFPB
e idealizador do projeto Tome Poesia e Tome Prosa. É um dos fundadores do Clube
do Conto da Paraíba. Publicou Guarda-cguvs esquecido, O dia em que comemos Maria
Dulce, Sob o amor e o romance Entrevamento.
DIALÉTICA
Aquele homem
me aguarda na esquina
com uma faca
que irá repartir o pão
Costasse ele a esquina,
seria talvez padeiro
resgatando a poesia
que me escapa das mãos
HISTÓRIA UNIVERSAL
Nunca soubemos
amar em pleno voo
como as andorinhas
que no auge do prazer
pairam e se absorvem
no antídoto dos instantes
Então escolhemos
em vez do coito
(viveiro de constelações)
lágrima nos olhos
e um banquete de asas
O LUAR
O claro no olhar da moça
é um só leitmotiv:
a lua está lua.
Lua como sempre achou-se.
Nua de adjetivos.
EXCEÇÃO À TEORIA
Quando se vai amar,
as teorias fora do quarto.
Como as sandálias
ficam esquecidas à porta do banheiro
senão molham-se ou sujam.
Quando se vai amar,
as teorias são o tapete.
EXISTENCIALISMO
Ele faz poesia
porque morre de medo
do tiro
no ouvido.
E esquece
da extrema poeticidade
do suicídio.
Que tolo!
Que é então o poeta
senão um suicida
reincidente?
Construção de miragem
para Alfredo Bosi
Vi,
na outra margem do rio,
uma garça rindo
pra mim.
Em tempo, confirmo: menti.
Entrevi
o que sei dessa imagem esgarçada
no imaginário, rindo
de mim.
Inconfesso
Com o que não te digo
teço um enigma.
o que digo sempre
nega o evidente.
Como essa coragem
de me dizer teu fã;
e esse suave relâmpago
a visitar teu rosto.
E a visitar o meu, fosco.
Alquimia do ódio
A química de querer-te
sempre viva:
extrair pétalas,
moto-contínuo,
malmequer;
adicionar à fórmula
porções deste grito
(alheia dor que transcende
a essência dos mitos).
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