terça-feira, 18 de abril de 2023

Fred Svendsen

Frederico Svendsen nasceu em João Pessoa-Pb onde ainda vive. Pintor, desenhista, gravador, escultor e designer. Aparece no blog Gota Serena como um dos representantes da Arte Correio que dialogava com as vanguardas poéticas principalmente nos anos 70 e 80. Sobretudo a partir da a Poesia Visual. Forma-se em licenciatura em Educação Artística pela Universidade Federal da Paraíba. Estuda gravura em metal com Hermano José (1922-2015). Inicia sua carreira como ilustrador do suplemento literário do Correio das Artes. Entre 1976 e 1980.





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Telma Gomes

 Telma Gomes nasceu em João Pessoa, capital da Paraíba, onde cresceu e vive. Ainda inédita em livro ela é poeta, educadora, linguista, pós-doutora e graduada em Letras. E, também, é criadora do blog “Só uma alma” no qual, desde 2010, publica seus poemas.




I - Reflexão

 

O bem ou o mal
é uma opção.
Força,
Poder,
Construção
Representam as mãos.

 Unir ou dividir
é uma opção.
Amor,
Conforto,
Paz
Representam as mãos.

Afagar ou apedrejar
é uma opção.
Toque,
Carinho,
Verdade
Representam as mãos.




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II - Sinto Eu

 

Meu...
um instante meu,
um momento meu,
um pensamento meu,
um vazio meu,
um corpo meu,
um mundo meu.
Sinto-me só
e preenchida em meu Eu.
Sinto-me sossegada
e protegida em meu Eu.
Sinto-me minha em meu Eu.




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III - Retratos

 

No três por quatro,
No monóculo,
No preto e branco,
No colorido.
Quantos momentos eternizados.
Quantas recordações
umas tristes e outras alegres.
Quanta magia volta à lembrança,
Quando revejo os retratos de meu passado.
Retratos antigos,
Retratos recentes,
Retratos de amigos e de parentes,
Retratos que relembram histórias
trazendo de volta o tempo, o cheiro
e o sabor de outras vidas.




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IV - Contemplação

 

Contemplo teu olhar sob a tela.
Chego a ouvir teus pensamentos.
Ansiosa pelos contornos que delinearás.
Almejo por um instante
Ser retratada em tuas pinceladas.
Desejos de mulher,
Ser imortalizada.
Mas só por um instante,
Contemplar a criação já me traz satisfação.




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V- Encantamento

 

Almas de artistas.
Ele se fez atrair por ela,
Sua arte a seduziu.
Ela o encantou com palavras.
Cada (re)encontro um desvendar.
Cada expressão uma sintonia.
Livremente um do outro
Por encantamento.




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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Abraão Costa Andrade

 Abraão Costa Andrade nasceu em Areia-Pb e reside em João Pessoa-Pb. Cursou Filosofia na UFPB, fez mstrado e doutorado na USP. É poeta, ensaísta e professor da UFPB. Publicou Afroameríndia (Tratado de sensibilidade), Mulária da macambária, O idioma dos pães, A Casa do Tempo, entre outros.



 

REFLEXÃO SOBRE A QUEDA

 

Eu escavo

o meu abismo

 

para tornar maior

a queda possível

 

e

em voo

transformá-la.




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RIO ÁRIDO

 

 

Um rio desce e sobe

  estradas de vidas sóbrias

    de cansaço e música. Um rio

       corre e para como as carpideiras

     (irrompendo larvas) sobre pessoas

    dolentes e secas.

  O rio verte/veste a cidade.

     Saturada.

        O rio cala e não se cala.

 

O rio encontra-se com uns poetas

   e se estraçalha. A poesia se perde

     nas águas desse rio rúptil

ou se acha.

  O rio seca. Seca. A poesia

     Continua perdida.   Ri

(ó)! Parahyba.

 

     Reciclar a aridez desse rio.

Açude a

              b

                 i

                   s

                     s

                       a

                          l.         Fundo

                                     de poeira e

                                    saudade.

Rio doce em sua cor noturna.

 

 

            A raspa desse rio/

cidade... o tanto-faz das poeiras.

     A vaidade dos jaguaribes

               calejados.  É.

A cidade se recicla no ciclo de seu viço.

   Canil. A cidade se recicla no cio.

 

 

Há resquício de brilho. Há

   Sequelas de pó.  Ventos calados.

      Raciocínio de rã angústia

    em cada poste de luz ou

cada

vela

apagada

            na crise dos dias.

 

O rio suporta a fome.

 

 

                        No trânsito

alinhavado dois carinhos se dissolvem.

    Onde encontrar a exata iluminação

do sorriso?

 

 

O povo — no mercado central

     — não vive — na lagoa geral — não vive.

Vicia-se            na azáfama das horas.

    Como a mulher que pedira esmolas

e debulhara sua vida de louca.

   Ou como a vendedora de doces

adormecida na lassa noite

da praça da gala.




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PRAXIOLOGIA

 

A poesia

por mim buscada

é verbo de ação,

 

nunca está

 

nem chove.




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HERMENÊUTICA

 

A palavra vem
antes do sentido.

A palavra é ave,
e o sentido voos
improváveis.




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AGAVE

 

A poesia e seus estragos

no coração de quem ler

deixam firmes mãos vividas

no desespero da posse.

 

A poesia – esse estrago –

no coração do leitor

deixa em riste mãos tremidas,

aprendizes remotas do afago.

 

A poesia – esse extrato –

por sob a casca da leitura

deixa em risco mãos curtidas

na posse, no afago, na loucura.

 

A poesia – ou é tortura? –

sabe delícias em nós

e nos desata do medo.

 


Jackson Agra

Jackson da Costa Agra (1947-1978) nasceu em Campina Grande-Pb, foi professor universitário (FURNE), aluno do mestrado em Letras da UFPB e um dos editores da revista Garatuja. Visceralmente poeta deixou-nos um legado literário de rara densidade lírica, épica e flosófica. 



POEMA TRÊS

A cara do dia
No estranho segredo
Carrega a magia
Do sonho e do medo

A rima vazia
No espaço do enredo
Repete à tardia
Palavra, arremedo.

A escrita faria
No auge do enlevo
A fala, avaria
Sair, sem ter medo.




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ODE MORDAZ

Jamais ficarei chorando no porto
qaundo a última mão der o último adeus:
a última mãomagra e já de longe alva,
no último navio, no último barco no fim do tempo:
o tempo, esse recôndito inimigo
apagador de alegrias, canceroso na tristeza.

A pureza, para que a quero se ela não me serve?
Para que vou andar a procura do que é puro se
em todos os lugares tudo é sujo?
Para que vou procurar a brancura se 
em volta tudo é negro?
Para que vou me preocupar com a beleza se
tudo que há é feio?
Não. Não quero mais saber de início.
Tudo é fim, decididamente fim.
Nem Bandeira, com sua alma plena conseguiu
apagar o foz do quadro.
Nem ele conseguiu deixar de pensar na morte absoluta.
Pasárgada não era o roteiro da alegria, mas
uma fuga à tristeza.

O tempo com suas reentrâncias nunca me ensinou
como desvendear-me.
Em todos os lugares onde passo tudo é vida e
tudo é mentira.
Nunca consegui ver um olhar sincero
pelo menos um verdadeiro.
Nunca consegui quem me fizesse deixar de pensar
no que sempre pensei.

Sempre houve qualquer coisa no ar
de indeciso, de imaturo.
Sempre houve qualquer coisa na vida que
não se sabe se é vida.
E eu não consigo ver vida na morte.

Em todas as visões que eu pensei
estar sendo real, nunca consegui ver-me inteiro e único.
Sempre fui parte de tudo, de tudo que é imundo e podre
de tudo que é imundo e podre.
A salvação é apena uma palavra que nunca se conseguiu esclarecer.
A seleção nunca foi feita nem poderia ser porque tudo é igual.
A poesia também serve para fuga para imoralidade e crueza,
e não poderia deixar de ser o que é, para ser o contrário
como sempre se pensou.

Quando a última mão balançar o navio
não haverá choro
porque não houve porto.

Com mais dois ou três goles de paciência
eu poderia suportar a ideia de uma mesa vazia.
Eu poderia suportar a ideia de ficar sozinho,
à espera de que alguém atendesse e entendesse
a minha solidão oca causada por nada.
Mas paciência não se vende em goles e mesmo
com outros a minha mesa está sempre vazia.

Queria que o porto voltasse e abrisse as suas portas para que
eu, o navio desgovernado, pudesse atracar.
Queria que o porto tivesse mãos lisas e cabelos louros, pele branca e
bronzeada. Queria que o porto fosse porta pelo menos no pensamento
Alheio. Não importaria que eu mesmo visse no porto apenas o porto
porque eu sei que ele teria mãos e ne afagava; teria olhos e me olhava;
seria humano e me amava.
Mas não haverá porto que possa suportar a ideia de uma dor metafísica
e não há dor que possa compreender o segredo de um homem sujo,
decididamente sujo.

Não haverá porto porque não houve coerência
nem nas minhas ações nem nas ações de ninguém.

(Algum dia nós nos encontraremos num tempo de vida, de morte ou 
de desencontros. E então tudo será mais fácil de entender porque não
haverá olhares por trás de portas e janelas nem mais de cem cérebros 
atentos a mim.)

Por enquanto eu prendo a atenção de mais de cem cérebros
Por enquanto eu já estou cheio de todos eles.
Por enquanto há uma cidade interiorana,
                            sem passado histórico,
                            sem luzes européias,
                            sem rios famosos,
                            sem fama de nada.
Apenas uma cidade onde as mulheres costumam parir e arrumar a casa
dez vezes por dia e
os homens trabalham a semana e bebem o domingo.

Não ha porto que possa suportar a ideia da loucura.
Toda loucura fede a desenganp e cheira a esperança.
Mas esperanã e desengano não são dois extremos que nunca se                                                                                       [encontrarão. 
Não há encontro que possa remediar todos os desencontros existentes.
E não há existência desencontrada que possa pensar em termos de vida.

Vida, porcaria vida.
Por que te quero se te tenho e não te desfruto?
E para que me queres se não te serves de mim?
Por que não queres que eu me desfaça?
Por que não desfazes todas essas fezes que te rodeiam?
Por que não tratas logo de encontrar alguém com quem te possas                                                                                             [repartir?

Mas onde conytram-se todos os motivos que me faziam feliz                                                                                         [antigamente?
Foram tão bosn que eu os esqueci
Numa manhã chuvosa numa tarde calourenta num bar sem bebida.

Onde estão todos os que eu não encontro e não procuro?
Por que eu procuro se ninguém vem a mim?
Dois olhos de espanto estão batendo.
Dois olhos de espanto são bastantes para ver o mundo.

O mundo está se escondendo em capas douradas em corpos vermehos
                                            em cadeiras desconfortáveis.

Mundo e vida e céu e terra
Cidade e rua, porto e espera.

    DAS ESPORAS DOURADAS DO CAVALO ALADO
    EU CONTEMPLO PASSANDO O TEMP0;
    EU NA MINHA CAVERNA E A VIDA NO PALÁCIO DE FUMAÇA
         TENTANDO DISFARÇAR QUE É REAL.




Fonte: Revista Garatuja Ano III Nº5 - Campina Grande Outubro de 1982


                     


Celso Japiassu

Celso Almir Japiassu Lins Falcão nasceu em João Pessoa onde fez os primeiros estudos e também o Ginásio e o Clássico, no Colégio Pio X, da Ordem Marista, e no Liceu Paraibano, respectivamente. Ainda em João Pessoa publicou os primeiros poemas nos jornais locais e foi membro do Teatro do Estudante da Paraíba, pelo qual ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no III Festival Nortista de Teatro Amador, realizado em Recife, em 1956Participou também de um movimento literário local que ficou conhecido depois como Geração 59, liderado pelo poeta Vanildo Brito e que valorizou na então conservadora província os conceitos contemporâneos de literatura e arte. Publicou sete livros de poemas: O texto e a palha [1965], Processo Penal [1968], A legião dos suicidas [1971], A região dos mitos [1979], O itinerário dos emigrantes [1983], O último número [1988] e 17 poemas noturnos [1993]. Em parceria com Nei Leandro de Castro, publicou 50 sonetos de forno e fogão. É o editor de http://www.umacoisaeoutra.com.br/



Poema nº 2 sobre o morto


Foi depois que as luzes se acenderam
que o esplêndido cadáver apareceu.
A moça de pernas magras continuou imutável
com seus olhos verdes anunciando verdes auroras.

Os homens continuaram rindo
E um deles aproximou-se
pensando que o corpo fosse um búzio
Porque brilhava tédio nos seus olhos.

Talvez houvesse vício nas calçadas.

Mas o asfalto era duro e duros os ruídos
que jorravam das pernas e dos olhos
quando o frio chegou junto com as folhas.




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Poema de amor


Abro a janela do quarto e penso em ti,
Sinto o gosto do vento deste mês.
E imagino os teus olhos e cabelos
como são agora, que é Setembro
e és claridade e brisa e pensamento.




*****




Poema


Entrementes deponho em teus cabelos
este indizível mistério e estas formas
que buscas

Embora em ti pressinta o inincontrolável
em ti me acho e surpreendo
este  mim mesmo que sou
e que abnego.

Talvez te nomeie  iniludível
brumosa rosa limpa
intermitente
e nem te encontre e te descreva.

E nem te cante e te descubra
e nem chame lâmina teu sorriso
e em ti perceba o que de mim se afasta.




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A CRIAÇÃO


A luta cai entre os corpos
Como uma pedra
Poupa a vertigem.
O homem trabalha o medo
 — mural acrescentado —
de saturar uma bala.
Como traçar a vindita
interpretada na máquina
ou recolher o desterro
da terra elaborada:
Enumerar o granito
que delimita o curral
e sangra a vaca o cavalo
o sal o feijão o mal.
Como o porco o’homem
grita
e a si mesmo
descobre
beirando a face do mito.




*****



Aurora

Dormi entre assassinos,
juntei minha voz ao coro dos mendigos.
Ouvi o agouro das aves
prenunciando a náusea.

Em pleno verão, entoei a musica do inverno
e mergulhei no assombro.
Nenhum disfarce encobriu a voz
que anunciava o grito.

Aurora lancinante aspergia a escuridão
de uma noite eterna, absoluta.
Pássaros grasnaram o anúncio
de horror e fome.

Nossos estigmas traduziam
a face da doença - a dor
de sonhos massacrados -
a dor.

 





Hélder Pinheiro

José Hélder Pinheiro Alves nasceu em Capistrano-CE e reside em Campina Grande-Pb. É Professor Titular da Universidade Federal de Campina Grande. Possuí Graduação em Letras, pela Faculdades Integradas de Uberaba (1983), Mestrado em Letras (Literatura Brasileira), pela Universidade de São Paulo (1992), Doutorado em Letras (Literatura Brasileira), também pela Universidade de São Paulo (2000), e Pós-doutorado, pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004). Hélder Pinheiro atua, principalmente, nos seguintes temas: literatura e ensino; poesia; literatura infantil; e literatura de cordel. Destaca-se ainda que é membro do GT “Literatura e Ensino” da ANPOLL. Publicou "Poesia em Sala de Aula", "No poço de Jacó", "Onde cantam os passarinhos", entre outros.


A tarde caiu
Um pássaro canta
Não o identifico.

Seu canto persiste.

Noite bateu à porta
Pássaro calou
Finda o dia

Alguém observa calado
por uma janela fechada.




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Chuva escorria
em bica
molhava tarde
meu corpo
ensopou
molhou fundo
senti corpo frio




*****


O bafo sobe
pelos cabelos
         músculos
O bafo abafa-me
O bafo acre na garganta
se ao menos chorasse.




*****




A nhambu canta apressada
Com medo de ser caçada...

Na palmeira, o Sabiá
Há séculos canta por lá.

Ou será que o coitado
Anda triste, acabrunhado




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Na madrugada há orquestra
Da passarada em festa.

Todos cantam uma canção,
Mais parece uma oração.

E as vozes vão se esvaindo
Com o dia que vem vindo.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Amiel Nassar Rivera

 Amiel Nassar Rivera é o pseudônimo de Marcelo Medeiros da Silva. Nasceu em Campina Grande-Pb e vive em Monteiro-Pb. Doutor em Letras pela UFPB e mestre em Linguagem pela UFCG, é graduado em Letras pela UEPB. É professor da UEPB no Campus de Monteiro. Desenvolve pesquisas voltadas para os seguintes temas: mulher e literatura, escritoras oitocentistas, literaturas não-canônicas, representações de gênero e de sexualidades, ensino de literatura, formação de leitores e formação de professores. Publicou Poemas de amor e esperas, Ao homem que eu quis e diversos livros acadêmicos.



XXXVI

Ferve em mim
a vontade de
d
e
r
r
a
m
a
r
o vinho do desejo
Nesta tua castidade.




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LXV

Ao som de Nelson Gonçalves

Entre nós dois,
Aquela mesa.
De um lado, eu;
Do outro, a solidão.
Para nós, uma só taça,
A da tristeza,
E um mesmo gesto:
Um brinde único
À tua terna ausência.




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LXXXI

Eu me refaço 
na dor
que tu me serves
como alimento.




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XI

Por fora,
casa caiada 
de saudades.

Por dentro,
casa velha,
oca de amor.

Eis como ficou
meu coração,
chão batido
de tristezas,
desde que
te foste
sem dizer-me
adeus sequer.




*****




L

Um cheiro no cangote
Faz do velho coiote
Um manso carneiro.




Piedade Farias

Maria da Piedade Farias nasceu em Campina Grande-Pb e reside em João Pessoa-Pb. Cursou Arquitetura e Urbanismo na UFPB e especializou-se em Restauração de Bens Culturais pela UFMG. Gosta de escrever e pintar. É integrante do Coletivo Cultural Anayde Beiriz. Publica seus poemas em revistas e coletâneas. É autora do livro "Arco-Íris de Alfenim".


Meio-dia

As folhas entrelaçadas,
Pintadas com verde denso,
não fazem sombra nos caminhos.

Pra onde foram os passarinhos?

Não se escuta nenhum estalo
de galhos soltos ao vento
e lagartixas em sobressalto.

Faz mormaço.

Só o coro das cigarras
corta o silêncio pesado.




*****




Tarde

Fiozinho de águas claras
nasce bem escondidinho
entre pedras cinza e cáqui.
Pedras toscas sobre a terra
fustigada pela tarde.
Avançam, terra e hera
por sobreo muro antigo,
e em seus trajetos passeiam
pelos fios estendidos,
indiferentes às flores.

Sobre as nuvens o arco-íris
presenteia o céu
com um diadema de cores.




*****




Manhã


Passarinho bebeu a água doce do rio
onde a libélula pairava.

Nas margens úmidas
moram árvores debruçadas.

As águas, no dia claro,
recebem a reverência
das suas copas inclinadas.
Formiguinha ribeirinha,
trabalha duro, trabalha,
se junta às outras, são tantas
Enfileiradas
em suas longas caminhadas.

Voltam, depois carregadas
com partezinhas de folhas
tão pesadas.




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Meninos de Princesa

Menino chegou primeiro
de bandeira na mão.

Menino vinha com jeito
de quem traz, desconfiado,
todo plano armado
no seu olho de vilão.

Depois veio outro menino,
quietinho, no seu caixão,
passou aqui, rua acima,
levado pelas meninas
com suas flores na mão.

Menino trouxe ligeiro
o peso do tabuleiro,
olho cheio de expressão.
Falou mansinho
bem assim:
- Que comprar um alfenim?

Outro vindo, não sei de onde
me pede um "trocadim".




*****




Melodias e piruetas

Cantam todas as rolinhas,
Anu preto, Bem-te-vi.
Cantam os galos de campina,
Cantar sempre foi sua sina
Dos que são os donos da festa
Ao dia que vai surgir.

Cantam para o azul do céu,
Cantam ao verde da mata
E ao dourado do sol;
Cantam para a esperança,
Para todas as crianças,
Cantam para o arrebol.

Logo um grupo de meninos
Entra correndo na mata
E abafa este cantar.
Mas, entre todos, um somente,
Que é poeta e não sabe,
Cala e se põe a escutar.



quinta-feira, 13 de abril de 2023

Celso Novais

 Celso Otávio Novais (1927-1993) nasceu em Santa Rita-Pb. Foi advogado, escritor, poeta e foi o terceiro editor do Correio das Artes - o mais antigo suplemento literário em circulação no país. Publicou "A superfície leste", "Painel do silêncio", entre outros.







JUSTIÇA E BONDADE


Se a vida é uma tortura, ela separa
O que em nós juntaram e em vão se fez,
Se a vida é uma doçura, ela é tão rara,
Como os brevíssimos instantes de nudez.

O amor é como um sonho, uma tiara,
Uma inútil armadilha de quem fez
Do próprio amor, um sonho que amara,
Quando amou e sonhou sem ter mais vez.

Ter medo de ser justo - eis o segredo,
Do franco atirador sem compromisso,
Que se compraz sozinho em seu enredo,

Não me queiras assim nessa inverdade,
Nem me perguntes o que tenho com isso,
Mas para mim ser justo é ter bondade.




*****




NOITES DE SÃO JOÃO

Quando no meio da noite
Ele acordou
São João não havia mais,
Toda adivinhação havia terminado,
Os fogos, as luzes, os gritos,
Até as fogueiras assopravam
Cansadas
Enão vestiu-se devagar
E saiu mais ddevagar ainda
Parecia que ele havia roubado
A noite de si mesmo.



*****




PARÁBOLA DO ÓDIO RACIAL

Se me perguntas a cor
Que a alma do negro tem
Eu respondo - não tem cor

Se me disseres a cor
Que a alma do branco tem
Eu respondo que não tem

Se as almas não tem cor
Pra que então tanta dor?




*****




CONFIDÊNCIA

A minha vida inteira está aqui,
Entre fatais instantes modelada
Buscando a uma aurora que não vi
Julgando tudo eterna madrugada.

A minha vida inteira está ali.
Aonde o sonho se esculpiu do nada
Aonde estava escrito o que não lí
Além das curvas dessa estranha quadra.

Se um dia eu me encontrar comigo mesmo
Hei de sentar-me na muralha fria
Pra ver de perto as coisas vãs

E então partirei - sozinho à esmo
Perguntando a mim mesmo o que faria
Se me dessem de novo outras manhãs.




*****



SUPERFÍCIE LESTE

Houve um dia
Em que tentei
Alcançar
A Superfície leste
Das coisas,
E vim correndo
Ao primitivo
Silêncio
Que tu eras,
Nas tardes
Cresciam flores
Roxas, verdes
Amarelas,
Quando eu parti
Tu não viste
Quando eu cheguei
Tu não eras.






Joely Queiroz

Joely Fernandes de Queiroz nasceu em Sousa-Pb e vive em Aparecida-Pb. É professora, escritora, poeta e cineasta. Graduada em Letras - Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Campina Grande. Já participou de diversos festivais de poesia e contos, a exemplo do FESERP - Festival Sertanejo de Poesia. Sua poesia pode ser encontrada em antologias como "Ritos e Versos para o fim do mundo", organizada por ocasião do Mulherio das Letras do Sertão. Publicou os livros de poemas "Nas vielas do meu ser" e "Duas casas um só ser". A autora está com outros três projetos em andamento, dois romances e uma coletânea de contos. também possui alguns roteiros para curta-metragem.




Fotografia

Dualidade de sentimentos.

Um requintado disfarce.
Lágrimas que sorriem
E sorrisos que choram.
Fotografia distorcida,
Retorcida e contorcida.
Transfigurada, transformada 
E restaurada.
Podes sentir como sinto minha alma?
Fotografei-a.




*****




Liberdade no Tempo

Livre sorrio, choro e sobrevivo
A vida leve sinto
Os dias suaves vivo
As horas imparáveis passo
Os minutos ansiosos obedeço
Os segundos e milésimos ligeiros
Rememoram-me do meu ciclo transeunte
Não me privo de viver sorrisos e lágrimas
Não me prendo a todas as regras e formas
Ocupo-me em viver
Nem meus versos são fixos
Imagina eu?!
Minhas ironias insanas
São tão livres quanto eu.




*****




Coisificação

Paro,
Reparo,
Penso mais um pouco.
Respiro fundo
Para planejar, em fração de segundos,
A expressão no meu rosto.

Não aprendi a libertar meu interior.
Essas coisas se aprendem?
Não acumulei na consciência
As inúmeras possibilidades de eus
Que posso ter.

Me perco de mim.
Quem sou?
O que sou?
A sociedade está louca.
Humanizam objetos
E coisificam pessoas.




*****




Moça Flor


Moça do sertão
Embeleza corações degradados,
Semiáridos,
Enraíza e acumula riquezas interiores.
Em solo que brota
Jamais será o mesmo.
Passarinhos andarilhos a visitam
E, juntos com o vento,
Espalham sua beleza em semente.
Para que ouçam sobre ela,
Para que vejam quem é ela.

Moça florida e forte,
Sucunhenta e Espinhosa.
Nada de perigo,
Apenas defesa.
Beleza nos espinhos, frutos e flor,
Aonde for.




*****



Suma


Não suma.
Não me deixe só.
Me dá segurança dos seus reais sentimentos!
Não suma.
Não me deixe só.
Prova o que sente!
Me proteja !
Me Ame!

 

Pensando melhor...
Suma!
Me esqueça!
E me deixe só
Com a alma sangrando em qualquer rua.
Na verdade, 
Você nunca quis que eu fosse sua.
Me deixe só,
Vou estancar a alma com outro amor.


quarta-feira, 12 de abril de 2023

Zé de Cazuza

José Nunes Filho (Zé de Cazuza) nasceu em 1929 nasceu em Prata-Pb , no Cariri, está completando nesta segunda-feira, 92 anos de idade. Ícone da cultura caririzeira, o poeta é conhecido nacionalmente por ‘O homem Gravador’ título que lhe rendeu uma reportagem no Globo Repórter.



A mulher apareceu,
Apaixonei-me por ela,
Fui limpar ao nome dela,
Terminei sujando o meu.

Do teu riso e tuas frases,
Quisera sempre estar perto,
Teu amor foi um oásis,
Que surgiu no meu deserto.




*****




Sobre dia de Finados

Hoje muita gente veio
Os seus mortos visitar,
Vindo apenas a passeio,
Depois volta pra morar.




*****





Sobre o retirante, este improviso:

O pobre do retirante
Viaja sem rumo certo,
Quando já vai fatigado
Acha um juazeiro perto,
Parecendo um guarda-chuva
Que DEUS armou no deserto.



*****



Sobre o oceano:

Na água do oceano,
Passeia alegre a garoupa,
A ventania agitada
Traz a onda dando poupa,
O sargaço vai saindo
O mar vai limpando a roupa.


Eu vou convidar BUCÊ,
Uma distinta pessoa,
perdoe do pobre poeta,
Meu repente, minha loa,
Mas seu nome tiro um fino
Numa coisa muita boa.



*****




SONETO: Partida de minha mãe

Quem da terra partiu levando um riso,
Estampado nos lábios por lembrança,
Com certeza levava a esperança
De alcançar o perdão no paraíso.

Diz o filho sentindo o prejuízo,
A chorar pela mãe que fez mudança,
Aspirando de DEUS a confiança,
De abraçá-la no dia de juízo.

Sobre o seu leito quando morta estava,
Sua bela feição me retratava,
A feição duma santa de capela.

Senti nos olhos arrojado pranto,
A minha mãe que me estimava tanto
Só teve um filho pra chorar por ela.


Jairo Cezar

 Jairo Cezar nasceu em João Pessoa-Pb é professor e poeta, especialista em Educação. Publicou diversos livros, entre eles destacamos os livros de poemas Escritos no Ônibus, O peso das gotas. Venceu prêmios como Novos Escritos (2010) e o Prêmio Canon de Poesia (2011). Publicou alguns livros de poesia de grande sucesso, a exemplo de Rapunzel e outros poemas de infância, Augusto dos Anjos em quadrinhos. É um dos principais responsáveis pela preservação da memória do poeta Augusto dos Anjos no estado da Paraíba.


O peso das gotas
(Ao mestre Ivan Martins)

 
O frio franze
O peito do acordeom,
repousa nos acordes
cálidos da canção
em desassossego.

Sobra-me, pois o silêncio
e o floreio hostil
de um céu em prantos.




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Cantiga para não crescer
(para Antônio Lira “O menino é o pai do homem”) Wordsworth

 
Quando crescer, quero ser criança.
Fazer a lua de pipa,
enquanto o solzinho descansa.
Quando crescer, quero ser criança.
Reger vaga-lumes em rima,
fingindo-se estrelas em dança.
Quando crescer, quero ser criança.
E que haja, entre o homem e o menino,
um acordo íntimo.
Um há de ser pássaro,
o outro há de ser ninho.




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Suicídio lírico

Não permanece o poeta
no verso lançado ao espaço.
E de tanto alçar poemas alados,
o poeta passa por cima dos próprios passos.




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Anônimo

Sou máscara.
Vivo de tanger tristezas
e fingir alegrias
em faces alheias.
Meu sorriso é vinco
célere e enrugar
lábios míticos.




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Boca de veludo

Teus lábios vorazes
são dois lados
da mesma floresta.
Vala comum
onde jaz
um pardal envilecido.


terça-feira, 11 de abril de 2023

Liana de Barros Mesquita

Liana de Barros Mesquita nasceu em 1935 em João Pessoa. Fez seus primeiro estudos na capital paraibana, passando depois a residir em Recife.  Escreveu seus primeiros poemas em 1956, tendo-os conservado inéditos até a publicação da antologia Geração 59. Cursou Arquitetura na Escola de Belas-Artes da Universidade do Recife.
(antologia Geração de 59, organizada por Vanildo Brito)


(não enconramos foto da poeta)

Poema nº 1


Oh! a mudez das ruas sozinhas,
Nas noites sem lua!
Ah! o presságio do dia
Nesta minha agonia!

Eu quisera sentir,
Quando chegasse o fim,
Deixar meu olhar florir
E se escapar de mim!




*****




Poema nº 2

No corredor da memória
Fluem sombras,
tremulam luzes,
E os dedos dos mortos
Acenam nas franjas
Das cortinas que dançam
A minha infância

Lá, brincam sonhos incertos;
E em busca de alguém que não houve,
Corre a minha sombra criança.




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Poema nº 3

A minha lua é inocente e mansa, e me vem às mãos.
A minha lua clareia a casa escura em nódoas brancas
                                                              [pelo chão.
A minha lua foge toda a noite dos meus olhos por-
                              [ que neles ainda não há solidão.

Mas a minha alma vive a perseguir a lua
E eu creio nela que é boa e pura;
Que é pupila imensa do meu deus vazio.



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Poema n° 4

Um luar se fez eterno nos meus olhos;
Compreendi o quanto é macia a sombra das coisas;
E quis beijar as almas fugidias, desfolhadas que
                                 [saem no perfume das flores.

E o meu maior credo é a transfiguração crepuscular.

Vivo sedenta de lua, de flores e de estrelas,
Porque creio na ternura das coisas simples
E na mansidão das sombras dos faróis.




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Poema nº 5

Uma estrela chorou tristezas sobre o mar.
Depois, recolhendo tanta mágoa,
Faz uma rede de lágrimas
Para pescar
O luar.
Ah! estrela poderosa, que invejas o luar.

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...